É
importante começar por Maria Luíza
Silveira Teles, a autora do prefácio
de "Hisbiscos Molhados", publicado
pela Editora Unimontes, a mesma Maria Luíza
que seria, neste momento, a apresentadora
do abraço de boas-vindas à
nossa nova companheira na Academia Montesclarense
de Letras. Cel. Geraldo Tito hospitalizado,
família toda em cuidados, nossa colega
de letras, de fé, e de amor à
vida, aqui não poderia estar, e foi
logo me pedindo para substituí-la
nesta tão agradável e bela
missão. Triste pela ausência
física, saudoso pela distância,
muito menos poeticamente analista do que
luminosa Maria Luíza, sinto-me honrado
e feliz porque sei do seu magnífico
encantamento pela poesia e pelo charme de
Karla Celene Campos. Vejo-me, assim, como
um acendedor de madrugadas, um libertador
de belezas, um otimizador de primaveras,
a um tempo só cronista e poeta, lúcido
e em êxtase, muito espiritualmente
acordado para dizer à distinta intelectualidade
de Montes Claros e do Brejo que esta é
uma hora marcante de dourada e acadêmica
alegria. E que bom para mim, porque assim
desempenho um papel de introdutor e de testemunha
num dos mais destacados momentos desta Instituição,
ato de muito agradecer a Deus, tanto de
minha parte como também de Maria
Luíza, assim como da parte da presidente
Yvonne Silveira, madrinha acadêmica
de Karla, esta Karla que, desde a infância,
sabe desnudar e vestir cores e sons, prismas
e músicas, ritmos e tempos, mundos
de visões e sonhos, tudo nem sempre
permitidos à normalidade de humanos
mortais. Karla antevê e vê deslumbrantes
rasgos de vidas, panoramas lúdicos
só possíveis a quem, de cima
dos horizontes poéticos, vislumbra
matizes e sabe muito de ventos e brisas.
Missionária, predestinada e mágica,
é arquiteta e operária de
mais do que dizem dicionários e textos.
Graduada em Letras pela Unimontes, jornalista
pela UNI-BH, pós-graduada em Língua
e Literaturas Brasileira e Espanhola pela
PUC-Minas, cursos em Salamanca, mestra de
muitos magistérios, poeta e cronista
vencedora de dezenas de concursos, mereceu,
com todo louvor, o destaque 2004 do Salão
Nacional Psiu Poético e merece honestamente
esta noite de posse acadêmica. No
dizer de Maria Luíza, que também
viveu infância e adolescência
no Brejo das Almas, Karla - quem sabe pelos
ares brejeiros tocados por tempestades de
inspiração - edifica poemas
desde que aprendeu a escrever. Inteligente,
profética, conspiradora de belezas,
é e tem a majestade do imprevisível
na tessitura moderna do mundo da comunicação
e da expressão lingüística.
Menina sempre, tem a simplicidade vocabular
dos que entendem das coisas. Sabe, como
mestra, registrar costumes, repintar entusiasmos,
dignificar gestos e jeitos, musicalizar
todas as energias que a Criação
Divina colocou no mineiríssimo gosto
de nossa gente. Karla é uma geminiana
mais do que versátil e exerce suas
atividades sempre com muito prazer. Faz
várias coisas ao mesmo tempo, principalmente
quando estas coincidem com a sua filosofia
e cultura. Insaciável para saber,
de tudo saber, tem na fala e na leitura
constantes perguntas. Fascinante no dom
da palavra, sua conversa é ágil
e estimulante, tanta eloqüência
que deixa a impressão de domínio
completo em muitos campos do conhecimento.
Intelectual sempre, acomodada nunca! Importantíssimo
– palavras que tiro da sua boca -
que Karla tenha tirado da gaveta as páginas
que lá envelheciam e ali trancado
a própria modéstia, para nada
impedir a publicação dos seus
livros. Sabe que a vida tem prosseguimentos
e que, para ser interessante, nem precisa
de históricos acontecimentos, grandes
glórias ou tragédias grandes.
Basta ser como é, basta ser como
este aqui e este agora, aura pura de amizades
e considerações. Mesmo passando
depressa demais, a vida é sempre
ótima, ponta de partida e ponto de
chegada. Melhor ainda quando em cada manhã
um poema novo, cada hora como fruta madura
ao alcance das mãos. Termino com
versos lindos de Karla, sentimentos de amor
à vida: Orquestra de insetos do mato
Sou o cio! Agora sou caminho Chegadas E
partidas. Sou estrela. Sou abismos, precipícios,
sou meio, sou inteira. Sou metade Sou avesso
Sou tarde e Amanheço.
Wanderlino Arruda
Academia Montesclarense de Letras