Wanderlino
Arruda
Está aqui um assunto sempre gostoso de
estudar. Bom e gratificante, agradável
e útil, sempre com bom proveito. Não
me canso de voltar a ele quantas vezes for preciso.
A cada abordagem, mais uma coisa que a gente
aprende, uma riqueza a mais no patrimônio
de conhecimentos, pois, nada mais patrimonial
do que a cultura. Exemplo é Haroldo Lívio,
uma das pessoas mais ricas que conheço,
pois, sabe quase nove em cada dez assuntos que
lhe são postos na forma de teste intelectual
e de memória. É difícil
Haroldo não saber um, não conhecê-lo
a fundo. Por isso, é rico, muito rico,
muito mais do que os que só pensam em
dinheiro e em coisas que podem ser trocadas
por reais ou por dólares. A palavra,
sendo a base de todo conhecimento, constitui
então uma grande poupança lingüística,
perfeitamente multiplicável com o tempo
e a dedicação.
As palavras são guardadas e conservadas
em nossa memória e em nosso patrimônio
cultural de forma estabelecida pelos campos
semânticos, seja pela exigência
de significação, seja pela semelhança
morfológica, ou mesmo por alguma associação
sintática. Cada grupo profissional ou
de cultura tem um vocabulário ativo,
que é capaz de usar, e um vocabulário
passivo, que é capaz de compreender.
Nem sempre somos capazes de utilizar todas as
palavras que sabemos ou de que temos notícia,
pois, o desempenho está comumente abaixo
da competência lingüística.
À semelhança de muitos músicos,
tocamos apenas de ouvido. Sabemos, por exemplo,
que determinado vocábulo pertence a um
grupo de assuntos, mas nem sempre somos capazes
de defini-lo com segurança e precisão...
Outra forma de guardarmos nosso vocábulo
é pela escolha do que achamos interessante,
curioso, bonito, aquelas palavras que ficamos
à espera de uma oportunidade para usar,
escrevendo ou falando. E nessa escolha, é
claro que existem as palavras agradáveis,
simpáticas, elegantes, e aquelas de conotação
negativa, feias, de má impressão,
de que só valem na aplicação
crítica e descritiva de algo que não
nos agrada, ou quando precisamos espinafrar
alguém ou alguma coisa.
Claro que o critério de escolha de palavras
bonitas ou feias vai depender do gosto pessoal,
da preferência, inclusive da constância
ou raridade no uso. Para mim, palavras bonitas
são ternura, blandícia, orvalho,
encanto, sonho, fraternidade, carícia,
suavidade, equilíbrio, amor, afeição,
criança, alegria, felicidade, infinito,
luz, idealismo, bálsamo, esplendor, caminho,
alívio... Muitas e muitas outras, que
a língua portuguesa entesourou no quase
milênio de independência. Palavras
feias são barregã, suã,
refestelo, anacoreta, nicho, compadrio, privança,
peleguismo, corrupção, nepotismo,
concubina, galhofa, jabá, muxiba, pelanca,
carniça, forca... E também mais
um número bem grande e sombriamente escurecido.
Pode acontecer que o leitor não aceite
esta classificação, mesmo não
concordando com a divisão, tão
pessoal. Não é improvável
até que o feio se torne bonito. Ou o
contrário...