Montes
Claros, Cidade da Arte e da Cultura
Wanderlino
Arruda
Enquanto
muitos cuidam do viver e outros cuidam do sonhar,
Montes Claros cumpre, como vem cumprindo há
muitos anos, a função de cidade da arte
e da cultura, epíteto que Reginauro Silva criou
lá pelos idos de 1978, quando escreveu - parece-me
- a sua primeira peça de teatro. Isso mesmo:
Montes Claros, Cidade da Arte e da Cultura, com todos
os substantivos com iniciais maiúsculas, destaque
mais do que merecido, principalmente agora que iniciamos
as comemorações do sesquicentenário,
exatamente cinqüenta anos depois do grito histórico
de Hermes de Paula, quando tudo mudou para melhor
em termos de reconhecimento e progresso.
Terra de muito trabalho, de múltiplas iniciativas,
marcada a cada dia pela independência e pela
ousadia, Montes Claros é realmente uma cidade
de vida e de sonhos, já com escola para a formação
de professores em fins do Século XIX. Em 1926
teve em funcionamento a estação ferroviária
e inaugurou, com toques internacionais, o terceiro
Rotary Clube fundado no país. Pouco tempo depois,
bancos particulares, Banco do Brasil, aeroporto, telefone,
difusora de rádio, postes de luz elétrica,
redes de água e de esgotos na parte de baixo
e na parte de cima, ou melhor da Avenida Cel. Prates
até o Roxo Verde, da Rua Dona Eva até
a Rua Bocaiúva, onde ensaiava e tocava a Euterpe
Montes-clarense. Daí para a criação
do Clube Montes Claros, na Rua Doutor Veloso com a
Presidente Vargas, foi um pulo. Progresso para fazer
muita inveja!
Insaciável no encontro do real e do fantástico,
Montes Claros foi sempre fonte de trabalho e estúdio
de criação artística, principalmente
na poesia. Em qualquer encontro valia um discurso,
escrito ou de improviso. Faceira, romântica,
apaixonada, o suor do ganha-pão nunca foi menor
que as serenatas, o aboio dos vaqueiros, o cantarolar
de viajantes ou o sapatear do lundu. Ano após
ano, muito de coroações nas igrejas,
muito de catopês, muito de pastorinhas. Todas
as cores que o folclore e a saudade marcam direto.
Quem quiser saber mais, melhor perguntar ao meu amigo
Nivaldo Maciel, que no alto dos seus oitenta e tantos,
ainda canta e abóia como ninguém.
Vale todo o progresso que chegou a partir de cinqüenta.
Sudene, batalhões da Polícia e do Exército,
Companhia Telefônica, escolas de francês
e de inglês, associações e sindicatos,
Corpo de Bombeiros, Lions, Elos Clube, Academia de
Letras, Parque de Exposições, jornais
diários, revistas quase mensais. De duas ruas
calçadas em 1951, o prefeito Enéas Mineiro
espalhou paralelepípedos do centro comercial
até a Praça da Estação.
Depois de 1955, com a vinda da Cemig, energia elétrica
em tempo contínuo. Por esse mesmo tempo, Banco
do Nordeste para ampliação de financiamentos,
curso científico do Colégio São
José para que rapazes e moças tivessem
permanência com suas famílias, não
precisando sair para estudar em outras cidades.
A partir da década de sessenta, com a fundação
do da Fafil, Fadir, Famed e Fadec e a criação
do Conservatório de Artes Lorenzo Fernandez,
do Automóvel Clube, nada mais segura Montes
Claros, porque o desenvolvimento tem garantia, principalmente
depois da Unimontes e mais seis conjuntos de escolas
superiores, que hoje fazem da capital do Norte de
Minas uma verdadeira cidade universitária.
Que o Instituto Histórico e Geográfico
- que acabamos de fundar - seja a fonte de todos os
registros e a marca da evolução física
e humana de tudo que deveria ter sido sonhado pelo
bandeirante Antônio Gonçalves Figueira
nos idos de 1707.