Chega a Academia Mineira de Letras o menino da Fazenda do
Pequi, o mais apaixonado dos sertanejos do mundo montes-clarense
do fim de século vinte.
Não chega só o homem, chega o rapaz, o garoto,
o menino vivedor de banhos do rio Vieira e de vaquejadas da
outra banda do Pai João, na velha Fazenda dos Maurícios.
Chega já quase velho e saudoso, prenhe de alegrias
e de mágoas de um passado bem vivido, humanamente bem
aproveitado em todas as horas fruídas da rica existência,
sempre cheia de sentimentalismos, paixão ardente sem
meias-medidas, amigo ou inimigo, companheiro incondicional
ou adversário, toda simpatia ou logo bem votada antipatia
a quem não lhe merece o amor. Chega à Academia
Mineira de Letras, saudoso por um dos maiores homens das Letras
atuais da Língua Portuguesa – o Acadêmico
Aires da Mota Machado Filho o – nosso conterrâneo
João Valle Maurício.
E
é com incontida alegria que o saudamos por mais esse
encontro com a experiência e com o reconhecimento do
mérito, estando onde já deveria estar há
mais tempo, pois, excelências no escrever e no narrar
nunca lhe faltaram. Contador de estórias de nossa gente,
limitadas pelo sabor do nosso viver, João Valle Maurício
sempre ganhou a universidade do sentimento do sertão,
marcando dramaticamente facetas sensíveis das almas
mais simples, com espertezas só encontradas na sabedoria
brasileira. Criador de figuras bem nossas, muitas delas esboçadas
de ouvido no mourejar do consultório médico
ou nas conversas descansadas nos sítios e nas fazendas,
é ele um desbravador de consciências, com visão
só própria aos que querem tirar todo proveito
da vida, como se cada oportunidade fosse uma só. Um
sempre apaixonado e aproveitador de belezas.
Creio
que é mais importante ser membro da Academia Mineira
de Letras do que Secretário de Estado. Secretários
existem à centenas, nomeados ao sabor da política
ou da politicagem, substituídos e sempre substituíveis
pelas marés dos interesses nem sempre lícitos.
Acadêmicos, ou contrário, vivem em listas fechadas
de quarenta, só despedidos quando a vida não
quer viver mais. Imortais representam a perenidade da arte
das letras, a visão pluridimensional do belo de todos
os sentimentos humanos. Não quero dizer que não
seja bom e gratificante ser secretário, ter a força
do poder, lutar no sobrecomum dos acontecimentos do governo,
por e dispor para o bem público. Ser Secretário
da Saúde deve ter sido ótimo para Maurício.
Melhor, porém, é agora ser membro vitalício
e imortal da Academia Mineira de Letras, uma das três
mais acreditadas do país, tão importante que
tem homens como Afonso Arinos de Melo Franco e Vivaldi Maneira
tão seguro de si que recebe figuras exponenciais de
estadias como Juscelino e Tancredo, sem dúvida momentos
felizes da estrutura do pensamento de nossa raça homens
de raciocino raramente encontrados.
Quem
ganha com a posse de João Valle Maurício em
nossa principal Academia de Letras é o Norte de Minas,
é Montes Claros. Afinal, só ele, Ciro dos Anjos,
e Waldemar Versiane chegaram lá!
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