Brasil
é sinônimo de carnaval ou carnaval é sinônimo
de Brasil?
Não sei até aonde vão as regras imateriais
da Semântica para consubstanciar uma afirmativa justa
e lógica para qualquer das duas interrogações.
Problema colocado mais no posicionamento do sujeito e do predicativo,
saber realmente quando “o que” fica onde algo
como e valorização eletiva tão ao gosto
dos comunicadores e lingüistas. Veja só o leitor:
se Brasil é o primeiro termo da oração
terá pela ordem a prevalência do comando significativo,
tornando-se uma espécie de carro-chefe semântico,
núcleo e base à espera do determinativo; se
carnaval estiver, entretanto, em plano inicial, será
o nome Brasil apenas um qualificador circunstancial no papel
próprio dos determinantes.
Por que tal tipo de discussão num assunto tão
popular, tão claro para o gosto dos foliões
brasileiros? Que diferença faz uma inversão
de frases, um simples posicionamento de semantemas e morfemas
numa oração? Que tem isso a ver com a história
do Brasil? Teria assim uma importância sociológica
a ponto de merecer ares de tese, um como que desfilar de herméticos
rótulos da nomenclatura lingüística? Afinal,
não é tudo a mesma coisa, como parece à
primeira vista no exame rápido das duas sentenças
interrogativas?
Vejamos, leitor, a quem, aliás, peço desculpas
por um assunto tão crespo e duro num dia tão
impróprio para discussões. Faço isso
apenas para aproveitar a ocasião e demonstrar que em
tudo pode haver um lado sério e não só
o famoso Joãozinho 30, lada Escola de Nilópolis,
pode fazer ciência em cima do carnaval e dos foliões.
Fenômeno nacional, fonte de divisas, uma espécie
de válvula de descarga de todos os recalques brasileiros,
o carnaval é, sem dúvida, algum ponto de reflexão.
Garanto-lhe, todavia que, em essência, não se
trata de tema inteiramente bisantino.
Aqui está uma solução: tudo depende da
ótica do comunicador, sobre qual dos elementos colocar
a ênfase, sobre qual função sobrecarregar
o conteúdo semântico. Nesse tipo de oração
de indicativo referencial, próprio da terceira pessoa,
o emissor e o recebedor da mensagem ficam sempre de fora do
circuito, como espectadores, uma espécie de platéia
teatral, isolada e distanciada dos elementos do palco, da
verdadeira ação. Toda a força de significação
fica fora do “eu” e do “tu”, recaindo-se
no “ele”.
Olhe bem o que quero dizer: se Brasil estiver em primeiro
lugar – Brasil é carnaval – o termo Brasil
é o centro, é o substantivo, é o alvo
sobre o qual recairá um determinante, significando,
por exemplo, que o nosso país é um lugar sobretudo
carnavalesco, aqui vivemos mais do que tudo de carnaval, e
carnaval é a coisa mais importante da vida do brasileiro
chegando a não haver outro lado importante em nossas
vidas; se, carnaval, por outro lado, ficar na dianteira da
seqüência oracional – carnaval é Brasil
– e ele o núcleo de toda importância significativa,
é ele o merecedor de todas as atenções,
mas só válido com entidade verdadeira de folia
aqui no Brasil, só aqui representativo, só aqui
realizado com maestria, não tendo em outras terras.
Enfim, ou aqui ou em lugar nenhum.
Certo, E daí?!...
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