Sinto muito, mas, não quero ser ditador. Não
quero governar, nem conquistar ninguém. Desejo ajudar
a todos – judeus, brancos e negros. Ajudar ao mundo
todo, aos que iniciavam o grande processo de violência,
aos que não tinham nunca enganado a ninguém,
nem mesmo antes de assumir o poder. Queria ajudar aos que
não respeitavam nem os direitos nem os deveres de ninguém,
nem à fome dos famintos, nem à vergonha dos
envengonhados. Será que todos nós, os seres
humanos, somos assim? “Queremos viver para a felicidade.
Não queremos o ódio e o desprezo entre as pessoas.
Neste mundo há lugar para todos”. Há sim,
há lugar para todos, mesmo para os que não comumgam
pela nossa cartilha e que não andam pelo nosso caminho,
e para os que não batem palmas para nossas palavras.
“O caminho da vida pode ser formoso e livre, mas, já
perdemos a direção. Os apetites envenenaram
a alma dos homens e nos têm levado à mistura
e à matança. Desenvolvemos a velocidade, mas,
nos perdemos nela. A máquina, que deveria criar nossa
fortuna, criou a dependência. A sabedoria nos fez cínicos.
A inteligência, duros e maus. Pensamos demasiadamente
e sentimos muito pouco. Necessitamos mais de humanidade, que
de máquinas. Mais de bondade e ternura, que de inteligência.
Em isso, a vida se torna violenta e tudo se perderá”.
E até quando a violência será a tônica
de quase todas as ações do homem, principalmente
de quando os homens, dizendo-se iguais, querem ser mais iguais
na própria violência? Até quando, Catilina?
Até quando, o que só é mais forte porque
está no poder, pisará no mais fraco, que tem
de aceitar as suas condições?
“O avião e o rádio nos aproximam. A verdadeira
natureza destes inventos fala da bondade do homem. Eles são
um grito que apela à fraternidade universal, à
união de todos. Neste momento, a minha voz alcança
milhares de seres no mundo, milhões de desesperados:
homens, mulheres e crianças. Vítimas de um sistema
que tortura o homem e encarcera os inocentes. Quero dizer
àqueles que me podem ouvir: não se desesperem.
A miséria que caiu sobre nós vem da ambição
e do ódio dos homens, que temem o progresso humano.
Mas, o ódio passar, os ditadores morrerão, e
voltará ao povo o poder que lhe foi arrebatado. A liberdade
não morrerá enquanto os homens morrerem por
ela”.
Quase meio século nos separa da mensagem de Charles
Chapplin em “O Grande Ditador”, filme a que assistimos
ainda no velho Cine São Luiz, exibido muitas vezes,
creio que ainda durante a vida do maior dos ditadores do nosso
século, Adolfo Hitler. Lembro-me muito bem a impressão
que esse filme nos causou na década de cinqüenta,
jovens estudantes cultores da liberdade no Grêmio do
Instituto Norte Mineiro. Parecia o fim do mundo a própria
escuridão do cinema, enquanto o filme era rodado. Em
nossas cabeças, por outro lado, uma grande idéia
de segurança quanto a tudo que o mundo já oferecia.
A palavra livre, o sonho de desenvolvimento, a esperança
de todos os jovens, pobres e ricos com todas as oportunidades
pela frente. Foi um tempo bom, distante de fantasmas. No governo
de Minas governava um homem com o coração do
tamanho do mundo: Juscelino Kubitschek.
Tudo passa. Vai e volta a esperança. A idéia
de liberdade nunca morre. Pobre de quem abusa do poder, direta
ou indiretamente, porque a roda do destino tem sempre a mesma
direção, e nunca deixa de voltar ao ponto de
partida.
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