Wanderlino
Arruda: boa pintura como teste de vontade
MANOELITO XAVIER
Mesmo aqueles que fazem da arte uma atividade paralela e outra
qualquer, não a usando como uma forma de sobrevivência,
trazem sobre si uma grande carga de responsabilidade com o
mundo à sua volta e com o momento histórico
no qual está inserido. Arte na sua verdadeira essência
significa educar, propor, retratar e muitas vezes denunciar
esta ou aquela paisagem ou situação. Ela pode
se manifestar através da música, pintura, literatura,
teatro, etc. ou pode ser apenas uma visão de mundo,
ou um jeito próprio de apreciar as coisas. Não
importa de onde ela venha, como ou quem a trás: brota
natural e irresistível dentro do homem e abrange tudo,
ultrapassa até mesmo o poder pedagógico das
grandes escolas...
O enfoque hoje é para o artista plástico Wanderlino
Arruda, que estará expondo seu trabalho na mostra de
arte a ser realizada de 07 a 23 de março próximo
no Centro Cultural. Através de sua própria análise,
ele afirma que encontrou na pintura a oportunidade para testar
sua força de vontade e sua capacidade de iniciativa,
um teste que envolve a coragem de acertar ou errar. Sua carreira
começou naturalmente, seu aprendizado de pintura não
passa de vinte e poucas aulas e, cada nova etapa constitui
uma série de obstáculos a transpor e um grande
montante de sacrifícios, o que faz de sua vida uma
maratona. A pintura está presente em todos os momentos,
pois pertence a uma família de artistas plásticos,
tendo como colegas, em seu próprio ateliê, sua
mulher e seus três filhos, todos tomando parte no mesmo
interesse artístico.
Sua especialidade é a pintura a óleo e acrílico,
usando sempre pincel e espátula. Seus trabalhos vêm
sempre com revestimento plástico, algumas vezes com
tratamento especial. Para cada tele pintada, ele já
tem sempre uma moldura pronta, de modo que o quadro possa
ser colocado na parece logo após o término.
Wanderlino Arruda tem preferência por marinhos e usa
as cores a seu gosto, muitas vezes monocromaticamente.
É quase impossível, um quadro seu não
mostrar montanhas: uma espécie de identidade com a
paisagem das Minas Gerais. Em momentos de calma, pinta quadros
barrocos mostrando a parte antiga de Montes Claros. Suas incursões
incluem os cenários de Ouro Preto, Diamantina e Grão
Mogol. Tem como costume anotar cenários em suas viagens,
e em seus quadros podem figurar tanto o Rio Grande do Sul,
como o Nordeste ou a Amazônia. Seus quadros dão
sempre uma idéia de repouso e serenidade. Seu primeiro
quadro foi pintado em 1974, por desafio do pintor Samuel Figueira
e foi feito em tom azul e branco retratando uma paisagem de
chapada, já com relativa transferência, o que
transformaria, mais tarde, em sua principal característica.
Sua experiência está descrita no livro “Tempos
de Montes Claros”, de sua autoria e no livro “Montes
Claros, sua história, sua gente e seus costumes”,
de autoria do historiador Hermes de Paula. Tem seus quadros
vendidos na França, Estados Unidos e em Portugal, onde
se encontra seu segundo quadro pintado, um primitivo. Seu
estilo é definido como barroco ou hiper-realista e
ainda traz traços de ingenuidade marcados em sua primeira
fase. Conforme conta ele próprio, seus quadros atualmente
são mais de seiscentos e estão espalhados por
vários estados, principalmente em São Paulo.
Sobre as muitas experiências adquiridas ele destaca
uma no Distrito Federal, no ano de 1978, quando enfrentou
75 concorrentes em um concurso lançado pela Sociedade
de Artistas Plásticos, no qual saiu finalista com um
quadro pintado em cinco horas enfocando o Palácio do
Itamarati. Foi o organizador da mostra inaugural de arte do
Centro de Extensão Cultural, em maio de 79. Sua participação
na Feira de Arte da Praça Dr. Chaves é cotada
como 100% desde que iniciou até o presente momento.
Sobre seu estilo, que sofreu inicialmente, influência
de Godofredo Guedes, Konstantin Christoff, Samuel Figueira
e Raimundo Colares e, aos poucos, foi adquirindo feição
própria. Ele faz questão de frisar a firmeza
de seu estilo para não confundir com nenhum dos seus
orientadores. Quanto a seu método Wanderlino Arruda
diz: “Não uso cavalete, normalmente. Prefiro
a superfície plana para apoiar a tela, talvez forçado
pelos anos de experiência de escritório, sempre
trabalhando em mesas. Acho melhor a visão da superfície,
na horizontal. Trabalho sempre de pé para facilitar
a visão em todos os ângulos. Não tenho
compromisso de executar a pintura nos moldes acadêmicos,
ou seja, de faze-la de cima para baixo e da esquerda para
a direita. Às vezes até começo os meus
quadros de baixo para cima, ou mesmo em diagonal. Raimundo
Colares me ensinou que em arte tudo é válido,
o que importa é o resultado”.
Além de artista plástico, outras atividades
marcam a carreira de Wanderlino Arruda como profissional.
Elas podem ser destacadas como: professor titular de Língua
Portuguesa e de Lingüística na Faculdade de Filosofia
– FAFIL, de Montes Claros; professor de Lingüística
Aplicada à Comunicação, para administradores
do Banco do Brasil e no Projeto Rondon; participação
em congressos nacionais e internacionais; atividades públicas
ligadas a várias entidades de Montes Claros e atividades
jornalísticas desde 1954. Suas principais obras publicadas
são: “Tempos de Montes Claros”, Montes
Claros, sua história, sua gente e seus costumes”
(participação) e “Antologia da Academia
Montes-clarense de Letras” (participação).
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