Vinte
anos da Academia
Wanderlino
Arruda
Passada a adolescência, quase chegando à maioria
legar, nossa Academia Montes-clarense de Letras faz festas
nos seus vinte anos de vida voltada para o trato cultural
e o encaminhamento de gente da terrinha para os envolventes
trilhos da literatura e da teoria literária. Vinte
anos de busca do aprimoramento lingüístico, da
atualização de normas e de formas, princípio,
meio e fim de quantos têm a coragem ou a vaidade de
se propor ao seu quadro social, à apreciação
interna e pública, nem sempre aprovativas.
Um quinto de século, pequena e grande parcela de tempo,
suficiente para amadurecer mentes e corações
sujeitos à emoção e ao racional.
Primeiro, a descrença, a chacota, a malícia
de muitos. Primeiro, os ataques diretos, a inveja explícita,
o duro combate, uma busca traiçoeira de levar a entidade
ao auto-extermínio, à paralisação.
Depois, a distância, o esquecimento, o eterno não
ver, a indiferença.
Nunca uma palavra de incentivo, jamais um gesto de carinho,
de compreensão, um tênue fio de amizade. A Academia
não seria mais do que uma entidade desnecessária,
vazia, perfunctória, refúgio de nefelibatas
com tempo de sobra, ou gosto de aparecer. Para que uma academia
de letras em Montes Claros?
Passa o tempo, vem o trabalho sério, metódico,
constante, com a simplicidade de quem veio para ficar. Passam
os primeiros adversários, passam os sonhos sem possibilidades
de realização, e vem o aumento do quadro social,
cresce a ajuda dos mais compreensíveis, tudo se consolida.
A Academia faz amigos e a crítica antes maldosa passa
ao nível de bom entendimento, de ajuda até,
de elevada colaboração. Quanto os primeiros
dez anos são comemorados, o respeito já é
geral e até, parece, uma aureola de admiração.
Um artigo de Haroldo Lívio dizendo isso serviu de diplomação
e reconhecimento. Ninguém mais deveria discutir o mérito.
É preciso, entretanto, lembrar que jamais uma instituição
deve sentar-se nos próprios louros e se considerar
definitivamente vitoriosa. O próprio prestígio
é dinâmico e tem uma via a percorrer, nunca podendo
se comentar com o caminho já ganho. Necessário
o esforço, a busca do aprimoramento, o respeito aos
ideais. Absolutamente necessário o trabalho conjunto,
a disposição de nunca parar. Lutar é
preciso. Afinal, vinte anos não é tempo para
ser desprezado. Merece, no mínimo, o respeito de quem
valoriza a cultura.
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