São
Paulo também tem verde
Wanderlino
Arruda
Acostumados a ver e ouvir que São Paulo, a selva de
pedra de dezoito milhões de habitantes, está
mais para o sofrer que para o alegrar, imaginamos sempre um
inferno cinzento escuro de poluição, um Flagetonte
a carrear tristeza e todos os problemas do mundo. Os próprios
paulistas se encarregam de cantar em verso e prosa as mil
espécies de violências e as desilusões
da grande São Paulo, extremamente cansada de quatro
séculos e meio de progresso físico, mas nem
sempre humanístico.. A pacata cidadezinha dos jesuítas,
formada em torno de um colégio para índios,
tornou-se uma metrópole de todas as raças, a
terceira cidade do mundo em população, quem
sabe a primeira em dificuldades e correrias. A locomotiva
do Brasil causa espanto e medo!
Mas não é bem isso que, com Olímpia,
vejo na São Paulo deste mês de setembro, inicio
de primavera, quando as flores despontam dos jardins públicos
e particulares e fazem das praças, alamedas, avenidas
e ruas, um universo multicolorido em profusão de matizes
de encantar os olhos e o espírito. São Paulo
está uma cidade rica, cheia de árvores frondosas,
vivas, esvoaçantes, como a dizer: “Aqui estou
viçosa, veja-me na estação de todas as
cores”. São Paulo da primavera é muito
diferente da São Paulo do inverno. Até o povo
é mais bonito, e chega de algumas horas, a descontrair-se.
Apressados no entrar e sair dos metrôs, quase atletas
no vai vem dos ônibus, onipresentes nas lojas e lanchonetes,
os paulistas, agora, se vêem quase, que alegres na mudança
do clima e no espoucar de coloridos das plantas.
Cidade com quase mil e quatrocentos quilômetros quadrados,
sessenta mil ruas, centenas de praças, dezenas de parques,
São Paulo orgulha-se também de ter mais de trezentas
espécies de árvores nativas e implantadas, muitas
delas ainda fruto do esplendor da Mata Atlântica, principalmente
na Região este. Uvaias, marmelo-do-campo, ipês
roxos, amarelos e brancos, jenipapeiros, pau Brasil, cedros,
sucupiras e, por incrível que pareça, até
figueira-de-bengala, de origem indiana, apressado ou não,
uma hora o paulista encontrará algumas delas no seu
caminho e, queira ou não, haverá de encher as
vistas de muita beleza. Ontem mesmo, um suplemento de domingo
falou maravilhas das velhas árvores de São Paulo,
citando um recenseamento feito e um livro publicado pela arquiteta
Rosa Kliass, coordenadora do meio ambiente, exatamente ela
a autora dos projetos do Parque do Morumbi e da Chácara
de Tangará.
São Paulo, terra de muita chuva, solo de grande fertilidade,
deve ter sido uma região riquíssima de árvores
e toda espécie de plantas. A Mata Atlântica original
era um cenário quase paradisíaco, haja vista
ainda o que resta da Serra da Cantareira, do Parque do Carmo,
e em volta da represa de Guarapiranga, na Zona Sul. Eram e
ainda são, no que resta, árvores de vinte a
trinta metros de altura: jatobás, paineiras, perobas,
cedros rosa, jacarandás, sibipirunas, araucárias,
sapucaias, magnólias, alecrins-da-campina, jequitibás.
Também velhos pomares eram e ainda são formados
de goiabeiras, mangueiras, pessegueiros, cerejeiras e até
de pés de jambo e de laranjeiras. O livro de Rosa Kliass
diz muito de todas elas.
Quem não acreditar, não se desespere, porque
a primavera ainda demora até dezembro, quando vai chegar
o verão. Até lá haverá muita florescência,
muita clorofila. Enquanto passa o tempo, é só
ir a São Paulo ou ficar lá com olhos de ver.
Olímpia e eu ficamos encantados! Com encantamento de
mineiros quase baianos!
|