Quem
diz o quê?
Wanderlino
Arruda
Da última vez, falamos sobre as funções
da linguagem, indicando cada elemento da comunicação
e seu desempenho no contexto e na situação,
levando-se em conta a centralização do interesse
e do objetivo. Lembramos, de novo, que os elementos do esquema
são exatamente seis e, conforme Roman Jakobson, o maior
entre os estudiosos do assunto, todos eles, juntos, em parte,
ou alternados, disputam a predominância. Aparecem como
centro de valor, ora a apelação, outras vezes,
a metalinguagem, o contacto ou, simplesmente, a linguagem
poética ou a referencial.
A primeira pessoa, a que fala, a que expressa a emoção,
será sempre o eu ou o nós, enquanto a segunda,
a com quem falamos, o ouvinte, o leitor, o telespectador,
será sempre o tu, o vós, adaptados no você,
no V. Exa. A terceira, a que está de fora, o ele, o
ela, aquela de quem falamos, será sempre o ponto de
referência. Quem sou eu?
Quem é você? Quem é ele? – todos
são perguntas que, respondidas, aumentam ou diminuem
o interesse, o peso do tratamento, a cerimônia ou a
afetividade, podendo chegar até à bajulação
ou ao descaso, uma vez que vivemos no mundo do “quem
é quem”. “Sabe com quem está falando?“
- tem sido uma pergunta muito comum em nossos dias, que nem
sempre sabemos responder. Quando alguém nos faz essa
pergunta é porque não conhecemos ou não
reconhecemos...
Diz o que? Para se comunicar bem é preciso saber o
que dizer e como dizer. O que dizer, quase todo mundo sabe.
Como dizer são outros quinhentos, talvez o maior problema
as pessoas, porque é aí que entra a dificuldade
da comunicação, aí estão as maiores
deficiências. O mundo está cheio de quem não
sabe dizer e de quem não sabe ouvir, motivo de brigas,
motivo de guerras, desentendimentos de todos os calibres.
Saber dizer, informar com segurança, falar com propriedade
é o maior desejo de uma pessoa civilizada, maior mesmo
do que o de ter dinheiro ou riquezas outras.
Com que finalidade? Sempre que alguém fala alguma coisa
e com alguma finalidade, com um objetivo, visando a um alvo
determinado. Fora disso é conversa-para-boi-dormir,
é conversa perdida, é conversa fiada. O ato
de falar, a distinção maior entre o homem e
o animal, sempre deve resultar em busca ou oferta de informação,
resultando sempre em coisa proveitosa, séria ou amena.
A sabedoria popular tem nomes pitorescos para determinados
tipos de conversa, alguns bem interessantes: bate-papo, troca
de idéias, conversa-de-pé-de-ouvido, dois-dedos
de prosa, confidências... Quando a conversa é
boa, é papo-firme e o conversador é um bom-papo.
Do contrário, é conversa-de-quem-procura-chifre-na-cabeça-de-cavalo,
é papo-furado, é conversa-mole.
Como ninguém escapa de uma boa conversa, melhor é
que o leitor procure logo aperfeiçoar mais o seu papo,
estudando de novo, pesquisando, fazendo boas leituras. Todo
mundo precisa de mais alguma sabedoria que, no dizer do velho
Salomão, nunca ocupa lugar...
Comuniquemos, pois...
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