Nomes
de ruas
Wanderlino
Arruda
Ora,
pois, nomes de ruas! O Haroldo Lívio, agora, trabalha
como memorialista e escreve sobre nomes de ruas de Montes
Claros. E, ainda por cima ressuscita áureos tempos
políticos de Cândido Canela! Logo sobre assunto
dos mais controvertidos da nossa equipe legislativa municipal,
sem nenhuma dúvida, o mais elevado acervo de serviços
da edilidade no campo da cultura histórica...
Haroldo começou como que não queria nada e,
de modo muito direitinho, buscou fatos comprovados, pesquisou
e redescobriu áureas iluminuras da lei e da autonomia
popular, nos mais recônditos escaninhos de sua privilegiada
memória. Foi até bom, porque nome de rua, que
deveria ser sempre assunto sério, pois objeto da lei
e da sanção, foi tratado de forma descontraída
e açucarada. Uma espécie de doce néctar
servido por ele e por Cândido a leitores amantes das
amenidades.
É claro que o assunto, na realidade, nunca foi levado
muito ao sabor dos grandes respeitos. Um ou outro projeto
de lei, para dizer a verdade, muito poucos, tiveram o sagrado
cunho da legítima homenagem ao valor histórico
do homenageado. Dou meu testemunho, porque eu também,
nos meus tempos de Câmara Municipal, cometi alguns projetos,
cujas placas esmaltadas hoje são testemunhas em paredes
várias; muitos dos nomes provam que o açodamento
na atribuição legal nem sempre fizeram justiça
ou tinham razão de ser, não passando às
vezes de ressarcimento de dívidas eleitorais.
Das estórias mais engraçadas, nem todas foram
praticadas no recinto da Edilidade, na ordem do dia anunciada
solenemente pelo presidente dos vereadores. Algumas aconteceram
nas sociedades de amigos dos bairros, outras em bate-papos
de esquinas, algumas até em balcões de botecos
depois de boas talagadas de pinga. Muitas placas de ruas formam
imaginadas em sagrados recintos das melhores famílias,
amadurecimento de frutos de tradição e da cultura,
gestos de humana fraqueza da vaidade de uns tantos, principalmente
dos portadores de nobres sobrenomes. Os casos mais graves,
os da volúpia política ou da ânsia de
homenagear parentes, estes todos sabem, não é
preciso falar. De lado e de quebra, ficam ainda os de interesse
comerciais de donos de loteamentos, mas a gente não
tem nada com isso...
Quem tiver boa dose de curiosidade olhe o catálogo
telefônico na parte dos endereços! Há
casos incríveis, interessantes, gostosos, que só
nós, os sonhadores, podemos entender, para quem co
conheça realmente a cidade, é ainda melhor e
mais gozado. Que miscelânea! Gentes, pedras, flores,
elementos químicos, cidades, santos, religiões,
um mundo genial. Gente viva, muito vida, gente que era vida
e já morreu, gente que nunca conheceu Montes Claros
ou dela ouviu falar! O mais interessante é que muitos
nomes foram modificados pelos fazedores de placas, por puro
erro ou a propósito de correção. Há
nomes nas leis que não estão nas ruas e nomes
nas ruas que não estão nas leis. Há ainda
as adaptações populares, umas por amor verdadeiro,
outras por simples analogia. Haroldo citou exemplos.
Cito, hoje, apenas o caso da Rua Monte Prano (com “r”),
no Bairro Santa Rita, pelo lado de lá dos trilhos da
central. O projeto foi apresentado a pedido de um líder,
o Rozendo, juntamente com várias outras denominações,
entre elas a da Príncipe Regente, Presidente Castelo
Branco, Monte Castelo. Todos estes nomes ficaram de acordo
com a encomenda, mas o da Monte Prano falhou e, por isso,
o dr. Raimundo Deusdará, até hoje quando me
encontra, dá uma gozeira: diz ele que o dono da fábrica
de placas achou que o vereador era analfabeto e consertou
o projeto, pondo tudo em letras bem claras – MONTE PLANO.
Acontece que a palavra é italiana e é escrita
mesmo com o “r” ...
Paciência!
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