Lisboa
e os brasileiros
Wanderlino
Arruda
Wladênia
completa dezoito anos, ganha título de eleitora, freqüenta
escola de motorista e fica imensamente alegre com a maioridade
relativa. Sua alegria, que é também a minha
e de Olímpia, tem em mim um outro efeito – o
da saudade, o de boas lembranças da viagem que fiz
com Antônio Ramos, D. Flora, Dulce Sarmento, Correia
e José Almeida a Portugal. É que, quando viajamos,
Wladênia estava chegando pequenina como a primeira moça
da família, trazendo tanto contentamento que Olímpia
nem esboçou o menor desejo de fazer uma viagem à
Europa. Eu que fosse sozinho, ela ficaria para curtir o encantamento
da filha mulher. Agora, dezoito anos depois, a viagem volta-me
à memória com grande saudade.
Vôo de dezoito horas, com escala em Recife, onde encontramos
D. Fina e Dr. Hermes no Aeroporto e, na Ilha do Sal, já
pertinho da Costa d’África, onde encontramos
outros brasileiros, chegamos a Lisboa já bem à
tardinha, saindo do avião com um envolvente impacto
do frio de início de primavera. Antes de mais nada,
toda a caravana brasileira dos Elos Clubes se reúne,
ainda na pista para uma fotografia de chegada. Sorrisos em
todas a faces com as boas vindas dos portugueses irmãos
e amigos. Logo depois o burburinho dos salões internacionais
e da alfândega do Portela de Sacavém, o Aeroporto
mais ocidental do velho continente. Mais fotografias, mais
abraços, mais voto de feliz estada.
No caminho para o centro de Lisboa, os táxis deslizam
por bairros moderníssimos como o de Moscavide e por
avenidas de encantar as vistas, como o da Liberdade e a do
Brasil, por praças realmente lindas como a do Teatro,
o Rocio, o Terreiro do Pago; ruas como a do Ouro, da Praça.
De longe, a visão sentimental do Tejo, da antiga fortaleza
de São João, do Largo do Comércio, da
Ladeira d’Chiado, de Alfama. Quando o motorista passa
próximo às fontes luminosas dos Restaurantes
mostra-nos a estátua de D. Pedro, e diz-nos, orgulhosamente,
que ali está “o nosso D. Pedro IV, e vosso Primeiro”,
um dos grandes heróis da história portuguesa.
D. Flora e Antônio Ramos reviam as mesmas cenas depois
de pouco tempo. José Almeida, natural do Norte, tinha
estado em Lisboa apenas de passagem, quando veio para o Brasil.
J. F. Rodrigues Correia tinha estudado em Coimbra, quando
menino, vira Lisboa fazia quarenta anos. Dulce Sarmento e
eu nos deslumbrávamos com a beleza pela primeira vez
ou quando muito por saudades atávicas. Ninguém
pode imaginar como é doce e gostosa a sensação
de pisar no solo da pátria mãe, sentir ali o
berço da raça, origem da maioria de nossas tradições,
um lugar que de modo algum para nós é estrangeiro.
E como nós brasileiros somos bem recebidos em Portugal,
em Lisboa, em Santarém, em Belmonte, no Porto em qualquer
parte!
À noite o primeiro passeio a pé, a visita ao
mundo de alegrias, do Metrô, da Praça da Alegria,
de Sé, dos cafés do Chiado, a subida das ladeiras,
o olhar curioso nas vitrinas de ourivesarias e de lojas a
aproximação das fontes de todas as cores e todos
os sons, mais bonitas do que em qualquer outra parte do mundo.
Por aquelas ruas e praças haviam passado também
Eça de Queirós, Alexandre Herculano, Antero
de Quental, Florbela Espanca, Fernando Pessoa! Por aqueles
lugares havia passado também o brasileiro mais famoso
em Lisboa, o nosso também sempre lembrado Juscelino
Kubtschek. Ele era tão querido lá que, quando
chegava a qualquer lugar, teatro, cinema, café, todas
as pessoas se lembravam em sinal de respeito e amizade.
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