Gratidão
Wanderlino
Arruda
É
triste, muito triste, ver como o mundo se acha cheio de ansiedades,
de conceitos puramente materialistas e utilitaristas. Pessoas
e mais pessoas se esquecem da beleza da vida, da generosidade
de outras pessoas, e se colocam como pequenos donos de um
pedaço de meia-verdade, julgando-se numa independência
que não existe. Esquecem-se de que a existência
é um insistente ensino, uma perseverante luta pela
felicidade e que só podemos ser felizes na caminhada
solidária, de mãos dadas, unidos, com toda a
alegria possível, com toda coragem, ou pelo menos com
um pouco de sorrido em agradecimento à própria
vida. De nada adianta o transbordamento das paixões,
a manutenção de arestas morais, o popular narcisista,
a supervalorização, o pretexto domínio
da inteligência ou do poder, o ódio sem direção
ou direcionado. Tudo é vão, o viver é
um crescimento espiritual de todo o tempo.
Amar a si mesmo é importante, mas é preciso
amar o semelhante. E amar impõe sinceridade pessoal,
desprendimento, uma visão clara de sonhos e realidades,
um gostar do outro, um querer bem sem limites. De nada vale
o isolamento, a limitação, só a defesa
do próprio interesse, a fanfarronice vazia e boba,
uma falsa autoconfiança, o desprezo bulhento aos que
amam a vida. De nada vale a falsa declaração
de amor, sem identificação com o bem geral.
É preciso desnovelar-se num esforço de melhoria
geral, abrir os olhos para a paz, a paz das quatro paredes
da nossa casa, a paz da nossa rua, dos nossos companheiros
de jornada, a paz do mundo. Para alcançarmos a alegria,
necessário é desafadigar-nos das opacas viseiras
da falsa auto-suficiência, triste posição
da pessoa infeliz.
Há ardorosos propagandistas de si mesmo que não
passam do labirinto da sua própria ilusão, mas
que caminham por caminhos tão estreitos e tão
vulneráveis que nunca enganam a ninguém. Falam
de liberdade, pregam autonomia, fomentam guerras, exterminam
simpatias, direcionam-se para o fanatismo, combatem falsamente
os preconceitos, mas não sabem libertar-se da cordoalha
da servidão mental a que são jungidos por si
mesmos.
É preciso restaurar a fé nos semelhantes, semear
a palavra de vida na luz da esperança, viver com amor
verdadeiro, perseverar no bem, tirar as lentes negras de diante
dos olhos físicos e espirituais. Trombetear importância
nunca foi medida levada a sério, a avidez de promoção
pode ser atalho de caminhos, mas será sempre lodaçal
de incompreensões. Não se deve morrer de orgulho,
porque nem sempre a existência ajuntará o pequeno
punhado de amigos que cada um tem. Eles podem espantar-se
da nossa própria inconsciência.
Que cada um submeta-se ao currículo da aprendizagem
na academia da vida, propondo valorizar todas as lições
que estudam e preparam a conquista de tesouros maiores da
inteligência e do sentimento. Cada período brinda-se
com nova gama de experiências. É importante saber
tirar proveitos do equilíbrio dos que são verdadeiramente
equilibrados. É importantíssimo saber viver
todos os momentos possíveis da felicidade. Na verdade,
ser feliz é a nossa meta. E para ser feliz é
preciso saber bem retribuir, ter gratidão. A vida não
é só pedir. É muito mais agradecer!
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