Estevinho
Poeta
Wanderlino
Arruda
Estilingue
azul no pescoço, mil sonhos para viver com você.
Correr ruas, assaltar jardins, criar vidas, ser forte, pra
te tirar das armadilhas e te livrar das emboscadas e te falar
de fantasias. Na hora de lutar, meu coração
se entrega todo e nesse duelo meu revólver é
aventura clara como o sol, colorida como seus olhos. Já
me acostumei à sua ausência. Mas como suportar
sua presença se existem correntes de ar que não
acorrentam ninguém e um balança que pesa mais
para um lado que não se sabe qual é? Não
vá pensar em feitiços, que eles não existem
em seu espaço de vida. Não há querer
definição, porque nesse momento nada se define.
Há uma denúncia contra você em meu coração”.
“Quando chegar o momento escuro, ou a luz maior, me
deixem no caminho dos viajantes: serei cruz à beira
da estrada. Ouvirei passos, vozes que falam da viagem; verei
homens que bebem café, estranho como a madrugada. Não
participarei dos misteriosos vôos das aves noturnas:
amarei o sertão. Ninguém vai notar nada na falta
da vida; sentirei o calor da terra, no dia, e o frio vento,
na noite. A mulher bonita me tem perseguido em todas as festas
para as quais não sou convidado. A mulher bonita me
persegue, quando o piano toca. Ela persegue o meu sonho e
não quer me abraçar. No domingo quero beijar
a mulher bonita, mas é inútil.
A semana passa”.
“Todos os bares estão fechado, todas as casas.
Está fechada a cidade. O coração... fechado
para balanço. Vou viajar para uma terra, onde tardes
e madrugadas se confundem, e o último trem já
partiu... um cachorro late para o nada por nada. Nesses caminhos,
onde o presente é silêncio, o som da fonte imita
sentimentos e sangue correndo nas veias do corpo inteiro.
Aí, o coração treme de frio e se pergunta:
que desejos pode ter? Está perdida a colheita dos sonho
e tudo que digo é lugar comum... Venha descalça,
me encontre na esquina, senta no passeio até eu chegar.
Te levo uma rosa amarela. Deixa eu olhar pra você, deixa
eu chorar e fumar o último cigarro, que hoje é
segunda-feira. Me beija sem eu pedir, me mostra seu seio esquerdo,
quero ver teu coração”.
“Suba devagar essas escadas e não espere um sorriso.
Pisarei de leve o carpete de sua casa, quero estar no seu
sonho de amor. Há palavras que poderei ouvir e me perdoa
que eu sairei de fininho, quando você fechar os olhos
pra dizer alguma coisa. Me dá medo precisar do seu
sorriso. Fico pensando estas paixões, que às
vezes têm apenas o sentido de existir. Não posso
negar a ternura que brota em mim. Eu queria ser apenas mais
do que sou agora.
Foi necessário o tempo passar depressa para eu crescer
sozinho.
Foi necessário a mudança de uma amiga para que
eu entendesse o que não sabia. Foi preciso estar perdido,
pra poder me encontrar na esquina da rua Januária e
me sentir feliz, e me sentir, de novo, criança”.
Tudo poesia pura de Estevinho, Estevam J. Barbosa, poeta.
Tudo uma bela magia de ternura de alma jovem, feliz com a
vida. Não se sabe o que sobrepuja no livro ainda não
publicado, se inteligência, se sentimento. A musicalidade
de uma situação de canto está toda presente,
do começo ao fim, simples de comover, gratificantes
de ler e sonhar. Um notável esforço de partida
de quem ama o mundo, gosta de viver, sabe ser amigo dos amigos,
tem gratidão pela própria existência.
Bom poeta de grafite, agora Estevinho é poeta de livro.
Bom que seja assim, natural, colorido, livre, com a liberdade
de tratamento que só os modernos sabem criar e têm
a coragem de fazer.
Parabéns, Estevinho poeta, os que vão viver
te saúdam.
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