De
Volta
Andréa Martins
Dia
desses encontrei Wanderlino Arruda num restaurante da cidade,
e ele me perguntou assustado, porque eu não mais escrevera
crônica para esta página. Dei-lhe uma resposta
esfarrapada sobre qualquer coisa como falta de tempo e despedi-me,
não sem antes prometer-lhe que estudaria um jeito de
voltar.
Se além de Wanderlino, outras pessoas sentiram falta
dos meus escritos, eu não sei. Não pretendo
ser pretensiosa dizendo que sim, nem quero ser injusta com
pessoas que me liam e incentivavam, dizendo que não.
Mas sei que eu própria senti muitas saudades, e também
me perguntei o porquê do afastamento, e também
não engoli bem a história da falta de tempo.
Hoje, decidi jogar tudo quanto era compromisso para o alto,
e voltar a O JORNAL DE MONTES CLAROS para uma visita. Queria
rever meus amigos – da Diretoria à Oficina, pessoas
que me ajudaram a realmente fazer parte do Jornal durante
os 18 meses em que integrei a equipe de repórteres.
Pessoas que significaram muito na descoberta de minha própria
identidade; que me dispensaram um apoio e um carinho que só
tive antes na minha família.
E de volta ao JMC, ocupando o mesmo local de trabalho que
utilizei, provavelmente na época mais importante de
minha vida, e experimentando o mesmo calor humano que sempre
foi o cartão de visita desta casa de amigos, não
tive dúvidas: talvez eu não faça mias
parte do Jornal, mas ele sempre fez e continuará fazendo
parte de mim. Não perguntei ao Márcio ou ao
Doutor Oswaldo se eles ainda me aceitam aqui. Sinto-me em
casa. Minha intuição me diz que posso ficar.
E fico. Ao mesmo tempo trabalhando esta crônica e acompanhando
a rotina de trabalho dos meus colegas: a Vânia ao telefone,
sorriso e presteza; Cláudio, redigindo reportagens,
me dá notícias do Gilberto, de quem sinto falta
na Redação; enquanto Marcos, declaradamente
apaixonado pelo jornalismo, divulga o esporte da cidade. Converso
rapidamente com Lazinho, que está de saída para
seus compromissos sociais, e não chego a falar com
Márcio, a quem vejo somente pelo vidro da sua sala.
Sinto falta dos que não chegaram ainda: Cássia
Valéria, calma e precisão; Luiz Ribeiro, desajeitadamente
um grande amigo; e Paulo Braga, profissionalismo sério
e companheirismo, brincalhão. Observo os novos componentes
da Redação, que vieram depois que eu me fui:
Ana Ângela (que declarou ser minha leitora antiga) e
Marcelo. A Marizete está começando hoje, e pergunta-me
nervosa, se é difícil ser repórter.
Digo-lhe que não, embora entenda bem a sua preocupação.
Passei por ela quando me apresentei ao JMC, em início
de 1988 e disse ao Waldir Sena que queria ser repórter.
Ele olhou-me desconfiado e perguntou o que me fazia pensar
que eu conseguiria desempenhar bem tal função.
Começo a me lembrar do Waldir com saudades e admiração,
e penso no grande profissional e amigo que está por
trás do seu aparente ar de ranzinza.
Interrompo as recordações do passado e cumprimento
Doutor Oswaldo, que entrou na Redação e perguntou-me
se eu estava de volta. Converso naturalmente com ele, lembrando-me
de que a sua seriedade me causou receio, um dia. Bobagens!
É como um pai para a grande família que é
o JMC.
E é novamente em família que me sinto hoje.
E é para essa família que dedico esses escritos,
cumprimentando-a pelo aniversário, e declarando que
de alguma forma estou de volta. Assim cumpro a promessa que
fiz a Wanderlino Arruda e reencontro minha paz de espírito,
que ficou perdida nas últimas publicações
que fiz aqui, há três meses atrás.
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