A
fraternidade do esperanto
Wanderlino
Arruda
Tudo
já estava preparado, em Campinas, para um grande encontro
de fraternidade e de grande alegria. Mais de trezentas inscrições
antecipadas haviam chegado de todo o Brasil e, curiosamente,
também da Argentina, do Uruguai, do Peru e da Colômbia.
Da Bahia, mais de quarenta, a maioria da cidade do Salvador.
De Montes Claros quase Bahia, méis dúzia. Pela
primeira vez, o Esperanto-Klubo Montes Claros comparecia a
um Congresso Brasileiro de Esperanto, embora o penúltimo
tenha acontecido em Minas Gerais, na velha cidade de Ouro
Preto. Gente demais, principalmente na manhã quente
de julho, quando mais uns cento e cinqüenta falantes
da língua internacional preenchiam os últimos
pedidos de participação: professores, estudantes,
literatos, artistas, jovens e velhos, convencionalmente proibidos
de falar em outra língua que não fosse a criada
pelo gênio de Zamenhof.
Eu não conhecia ainda a professora Elvira Fontes, secretária
geral e dínamo do congresso. Só pelo telefone,
falado algumas vezes, e, como parece, maior amizade e admiração
não podia haver, diante da simpatia e da bondade que
ela sempre deixou expandir. Velha mestra, escritora, dicionarista,
Dona Elvira Fontes tem o carisma de Dona Marina Lorenzo Fernandes
Silva, com o mesmo tamanho físico e a mesma riqueza
espiritual. Que mulher encantadora! Do lado dos homens, o
professor Walter Francini, também de São Paulo,
este parecido com o nosso Ducho, pessoa e voz, calma e bondade,
tão companheiro como se estivéssemos vendo todos
os dias vendendo revistas e livros na agência Thaís.
Os dois, D. Elvira e Francini, claro que davam ao encontro,
para nós, uma boa atmosfera mineira desta velha Montes
Claros, coração robusto do sertão de
Francisco Sá!
A caminho de Campinas, aproveitando o conforto do novo ônibus
da Gontijo, o professor Antônio Félix, a Cynthia,
o Juliano e eu já fazíamos as primeiras investidas,
tentando antecipar quatro dias de tempo bastante agradável
no mundo do esperanto. Félix e eu, mais experimentados,
quase veteranos, já sabíamos o que iria acontecer.
Carlos José, que viajava separado, e os outros, seriam
iniciantes, com justa e natural curiosidade, própria
dos novos. Medo de não entender? Medo de serem colocados
à prova? Tudo normal...
Foi uma satisfação muito grande reencontra o
velho Saraiva, o Adolfo Miranda, o mestre Nelson Pereira,
o Dorini, o Xaxá Arruda, o Paiva, o colombiano Aragon,
a Eleusa Varanda, a D. Nina, a D. Dayse, gente maravilhosa
que vive separada e se ajunta pelo menos uma vez por ano,
quando a ida a um congresso de esperanto virou obrigação.
Como foi gratificante estar de novo ao lado do Dokoto Victor
Sadler, o diretor da Universala Associo, que está passando
uma temporada brasileira na fazenda Bona Espero, em Goiás!
Sadler, um dos mais notáveis professores que já
conheci, vive e fala o esperanto há vinte anos, dia
e noite, sonhos e pensamentos completos na língua neutra
e universal. É como se o esperanto fosse sua língua
materna, natural, nativa. Na Inglaterra, na Holanda, em Nova
Yorque, em Pequi, ou em Brasília, Sadler é o
eterno esperantista.
Tudo muito bom, agradável, gostoso, o mais vivo exemplo
de fraternidade. Uma só família, não
importa a idade ou o grau de cultura. Em julho de 1985, em
Belo Horizonte, novamente estaremos juntos. Por quatro dias,
a capital mineira será a cidade da esperança!
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