Page 72 - REVISTA24
P. 72

Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros  Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
 CAÇADA DE TATU  TIRADOR DE MEDO



                    Eu morei numa cidade, cujo prefeito tinha muito medo de fan-
              tasmas. Certa noite, ele esteve lá em casa, como sempre fazia, e papai
              começou a contar “causos” de fantasmas. Falou sobre os fantasmas
              de Taveira, sobre o tesouro do Major José Vieira. Foi ficando tarde e
              nada da visita ir embora. Morava numa mesma rua, distante apenas
              de um quarteirão. Foi aí que meu pai se lembrou de que seu amigo
              estava com medo de voltar sozinho pra casa. Num tom bem baixinho,
              ele pediu que papai o levasse para casa, pois ele tinha muito medo de
              andar sozinho à noite.

                    Acontece que nessa mesma cidade, apareceu um senhor que se
              dizia “tirador de medo”, coisa de que nunca se ouviu falar naquele
              lugar.
                    Um irmão do nosso amigo medroso procurou logo o visitante
              para encomendar o trabalho. Consultou seu irmão e foram procurar
              o mágico. Esse se prontificou em fazer a tarefa. Ficou combinado que
 Meu pai, quando solteiro, gostava de fazer caçadas de tatu com   seria num dia de sexta-feira á meia noite no cemitério. Teria que ser
 seus amigos, o que sempre acontecia somente à noite, após a saída   feito com a ajuda de mais duas pessoas. O irmão medroso, o medroso
 da lua. Esse acontecimento era uma verdadeira farra para a rapaziada   e o tirador de medo. Levariam três velas bentas. A vítima teria que
 daquela época. Certa noite, papai se reuniu com alguns amigos e seus   ficar perto do último túmulo do cemitério e acender a vela; seu irmão
 irmãos Afonso, Celso e João. Saíram à noitinha acompanhados de sua   ficaria perto do cruzeiro, no meio do cemitério com a vela acesa; o
 matilha de farejadores: Leão, Cabete e Coronel. Cães valentes e co-  tirador de medo ficaria no portão com a vela apagada fazendo ora-
 nhecedores dos locais onde poderia haver tatus, pacas e até campeiros   ções. Lá pelas tantas, uma coruja bateu asas perto do medroso. Este
 (veados bastante conhecidos naquela região). A turma parou um pou-  correu, pulou por cima do seu irmão, que, por sua vez, já corria em
 co para descansar e os cachorros se embrenharam na mata farejando.   desabalada carreira. Atravessaram um trecho sem iluminação até a
 Daí a pouco, os caçadores ouviram três assobios; os cachorros vie-  Praça da Matriz. Ali, puderam descobrir que, enquanto eles corriam,
 ram correndo e gruindo alto, como se estivesse, tomando uma grande   havia uma pessoa na frente que corri mais apressada que eles. Era o
 sova. Gemendo, deitam-se junto a seus donos e dali os cachorros só   “tirador de medo”.
 saíram quando os rapazes voltaram para casa. Nessa noite, não se fa-
 lou mais em caçadas de tatu.


 - 70 -                                    - 71 -
   67   68   69   70   71   72   73   74   75   76   77