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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros                              Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
          CAÇADA DE TATU                                                                           TIRADOR DE MEDO



                                                                                                         Eu morei numa cidade, cujo prefeito tinha muito medo de fan-
                                                                                                   tasmas. Certa noite, ele esteve lá em casa, como sempre fazia, e papai
                                                                                                   começou a contar “causos” de fantasmas. Falou sobre os fantasmas
                                                                                                   de Taveira, sobre o tesouro do Major José Vieira. Foi ficando tarde e
                                                                                                   nada da visita ir embora. Morava numa mesma rua, distante apenas
                                                                                                   de um quarteirão. Foi aí que meu pai se lembrou de que seu amigo
                                                                                                   estava com medo de voltar sozinho pra casa. Num tom bem baixinho,
                                                                                                   ele pediu que papai o levasse para casa, pois ele tinha muito medo de
                                                                                                   andar sozinho à noite.

                                                                                                         Acontece que nessa mesma cidade, apareceu um senhor que se
                                                                                                   dizia “tirador de medo”, coisa de que nunca se ouviu falar naquele
                                                                                                   lugar.
                                                                                                         Um irmão do nosso amigo medroso procurou logo o visitante
                                                                                                   para encomendar o trabalho. Consultou seu irmão e foram procurar
                                                                                                   o mágico. Esse se prontificou em fazer a tarefa. Ficou combinado que
               Meu pai, quando solteiro, gostava de fazer caçadas de tatu com                      seria num dia de sexta-feira á meia noite no cemitério. Teria que ser
          seus amigos, o que sempre acontecia somente à noite, após a saída                        feito com a ajuda de mais duas pessoas. O irmão medroso, o medroso
          da lua. Esse acontecimento era uma verdadeira farra para a rapaziada                     e o tirador de medo. Levariam três velas bentas. A vítima teria que
          daquela época. Certa noite, papai se reuniu com alguns amigos e seus                     ficar perto do último túmulo do cemitério e acender a vela; seu irmão
          irmãos Afonso, Celso e João. Saíram à noitinha acompanhados de sua                       ficaria perto do cruzeiro, no meio do cemitério com a vela acesa; o
          matilha de farejadores: Leão, Cabete e Coronel. Cães valentes e co-                      tirador de medo ficaria no portão com a vela apagada fazendo ora-
          nhecedores dos locais onde poderia haver tatus, pacas e até campeiros                    ções. Lá pelas tantas, uma coruja bateu asas perto do medroso. Este
          (veados bastante conhecidos naquela região). A turma parou um pou-                       correu, pulou por cima do seu irmão, que, por sua vez, já corria em
          co para descansar e os cachorros se embrenharam na mata farejando.                       desabalada carreira. Atravessaram um trecho sem iluminação até a
          Daí a pouco, os caçadores ouviram três assobios; os cachorros vie-                       Praça da Matriz. Ali, puderam descobrir que, enquanto eles corriam,
          ram correndo e gruindo alto, como se estivesse, tomando uma grande                       havia uma pessoa na frente que corri mais apressada que eles. Era o
          sova. Gemendo, deitam-se junto a seus donos e dali os cachorros só                       “tirador de medo”.
          saíram quando os rapazes voltaram para casa. Nessa noite, não se fa-
          lou mais em caçadas de tatu.


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