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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros                              Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
               Muitas vezes, as pessoas ficavam proseando no alpendre das ca-                      CASA MAL-ASSOMBRADA
          sas de fazendas contando histórias, tomando café com beiju, ou a
          pinga, etc. Muitos desses causos eram sobre caçadas, pescarias e outras
          vezes, as conversas passavam para o plano de assombração. Aí as coisas
          mudam de figura; há sempre alguém contando um “causo” que jura
          ser verdadeiro.

               Havia no município de Aurora, Ceará, fazendas centenárias em
          cujas casas quase sempre apareciam algumas assombrações. Na fazen-
          da Taveira, propriedade do meu avô materno, certa vez um funcioná-
          rio avisou ao meu avô que não iria morar naquela casa mais, pois lá
          estava acontecendo coisa muito estranhas.

               - Como Assim? – Perguntou meu avô.
               -Na cozinha, jogam pedras nas pessoas, areia na comida, o gado                            Meu avô era um grande latifundiário nos municípios de Auro-
          não tem sossego à noite no curral, fica berrando e correndo como se                      ra, Lavras da Mangabeira e adjacências. Sempre que surgiam retiran-
          houvesse alguém perseguindo. Um horror!                                                  tes fugindo da seca, vovô procurava abriga-los em casas quase sempre
                                                                                                   desocupadas.
               Meu avô mandou selar seu cavalo e seguiu para a fazenda che-
          gando lá à tardinha. À noite ouviu latidos e grunhidos de cães como                            Certa ocasião, um casal pediu abrigo e vovô providenciou alo-
          se alguém estivesse os ameaçando. Lá pelas nove horas da noite armou                     jamento numa das casas antigas que pertenceu ao seu pai. Era um
          uma rede para dormir, mas não conseguiu deitar-se, pois a rede caía                      casarão antigo na beira da estrada. O casal rinha um filho, rapaz de 22
          como se alguém estivesse sacudindo-a. Ele se ajoelhou, pegou seu ro-                     anos, muito alto e magro; o pai falou a meu avô que o moço sofria de
          sário, sacudiu várias vezes, rezando o Credo. Voltando à cidade, meu                     uma doença chamada “Tisica” (tuberculose). Esse rapaz faleceu e os
          avô foi à casa do vigário, nessa época, era o padre Vicente Bezerra (o                   pais mudaram para uma cidade da Paraíba. Meu avô mandou que a
          mesmo que fez o casamento dos meus pais), contou o acontecimento                         casa desocupada permanecesse de portas abertas. Poucos dias depois,
          e convidou o vigário para ir à fazenda Taveira.                                          as portas se fecharam como por encanto (vento). As pessoas que por
                                                                                                   ali passavam, diziam ouvir gemidos que saiam da casa, que passou a
               O padre foi, mas logo na chegada, recebeu uma pedrada na
          cabeça que partiu-lhe a orelha esquerda. Ele revidou jogando água                        ser mal assombrada. Passados poucos dias, meu pai, sempre muito
                                                                                                   corajoso, passando perto da casa, ouviu um gemido e resolveu entrar.
          -benta e proferindo orações de exorcismo. A partir desse dia a fazenda                   Já era quase anoitecer. Deu um empurrão na porta, que se abriu facil-
          voltou à sua paz costumeira.
                                                                                                   mente. Riscou um fosforo, acendeu a vela e para seu espanto, viu uma
                                                                                                   pobre vaca esquálida que ali entrara para matar a fome com algumas
                                                                                                   palhas de milho, mas o vento fechou as portas e a pobre ficou presa.
                                                                                                   Papai acabou com a assombração.
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