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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros                              Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
               É um não querer mais que bem querer;                                                      “De Zezinho para Zelinha: 70
               é um andar solitário entre a gente;                                                       Perscrutando o meu baú de recordações (adoro papel), achei
               é nunca contentar-se de contente;                                                   um precioso bilhete. Aspas. “Maio/1967. Zezinho, você é mesmo
               é um cuidar que ganha em se perder.”                                                uma brasa, mora” ou melhor, um carvão incandescente, reside? Está
                                                                                                   impecável, como tudo mais em sua vida. Bola branca. Zélia”.
               E, então, cada um tomou seu rumo.
               Estradas se abriram em toda a direção                                                     Naquele então, estava com vinte e um anos. Zélia, com dezes-
               Crescei e multiplicai;- já dizia o bíblico refrão                                   sete. Interpretei o bilhete como uma declaração de que eu era bonito
               Uns obedeceram, outros não.                                                         e de que, como diria Roberto Carlos, nosso ídolo juvenil, mil garotas
               Mesmo assim, aqueles onze, hoje são muitos.                                         poderiam estar de olho em mim.
               Quando se juntam, é multidão.                                                             Acontece que eu era inibido. Deixara o Seminário há pouco.
                                                                                                   Tinha espinhas no rosto e sabia que não era tão bonito como meus
               E, mesmo afastados pela geografia,                                                  três irmãos mais velhos: Tuca, Carlinhos e Lourival. Mas Zelinha con-
               Não nos perdemos de nós mesmos.                                                     fiava em mim e, como um cupido munido de flechas, me apresen-
               Se um diz: ai, ui... todos   respondem e correspondem                               tava, com orgulho, a suas amigas e colegas. Zelinha foi a principal
               Se é dor, choramos juntos,                                                          responsável pela minha iniciação amorosa e pela auto-confiança que
               se é alegria, nos alegramos.                                                        fui adquirindo.
               Como na última perda, a partida do mano LÔ.
                Verdade essa que podem  confirmar                                                        Zelinha, se fosse enumerar, uma a uma, suas qualidades, teria
                Carlinhos, Zé, Tião, Donério, Beto, Zélia, Graça, Márcia e eu.                     que despender todo o tempo desta festa, pois elas superam os seus
                                                                                                   setenta anos de vida. Gostaria, contudo, de destacar uma qualidade
                Por isto querida Zélia,                                                            que, na sua pessoa, atinge um patamar insuperável: o ser cuidadosa,
                Ser de bondade, ternura e altruísmo,                                               o ser cuidadora, o cuidar, o cuidado com os outros. Graça me relem-
               Célula vital e consistente                                                          brou, com assombro, o cuidado extremo que você, jovem professora,
               de tão robusta  teia familiar...                                                    dedicou ao menor Ariosto, surdo e mudo, transformando a vida da-
               Aqui viemos para celebrar seus 70 anos de vida,                                     quele menino.
               Para abraçar, beijar e amar a você e à sua família                                        A casa de Dona Ditinha e Seu Dário, em Montes Claros, tinha
               Nesta data querida.                                                                 gente pelo ladrão: doze filhos, avós, primos residentes, parentes e ami-
               A você, muitas felicidades e muitos anos de vida.                                   gos em hospedagem frequente. Era um entra e sai. Os homens eram
                                                                                                   maioria, e dado o machismo da época, pouco ou nada contribuíam
                                                                                                   para o intenso labor doméstico, embora contribuíssem muito para
               Após oferecer  meu afeto através deste singelo poema, o nosso
          irmão José do Patrocínio pediu a palavra, para , também saudar a                         aumentar o trabalho. Zélia segurava o rojão com a Dade, mas esta dei-
          aniversariante.                                                                          xou precocemente nosso lar ao se casar com o Carlos Leite. Graça era
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