Dóris
Araújo
Dário Teixeira Cotrim
Lázaro Francisco Sena
Maria da Glória Caxito Mameluque
Felicidade Patrocínio
Wanderlino Arruda
Mara Yanmar Narciso da Cruz
José Ferreira da Silva
Ivana Ferrante Rebello
Alceu Augusto de Medeiros
Carlúcio Pereira dos Santos
FINS
DO IHGMC
Art.
2º - O IHGMC tem como finalidade pesquisar, interpretar
e divulgar fatos históricos, geográficos, etnográficos,
arqueológicos, genealógicos, e suas ciências
auxiliares, assim como fomentar a cultura, a defesa e a conservação
do patrimônio histórico, artístico, cultural
e ambiental do município de Montes Claros e região
do Norte de Minas.
SUMÁRIO
Explicativas
iniciais - 9
Quem sou... - 11
Prefácio | Maria da Glória Caxito Mameluque
- 13
Maria Ribeiro Pires - 17
Maria Luiza Silveira Teles - 20
Felicidade Tupinambá - 23
Manoelito Xavier - 28
Haroldo Lívio de Oliveira - 32
Mara Narciso - 38
Lázaro Francisco Sena - 41
Josué de Oliveira Lima - 43
Dóris Araújo - 46
Dário Teixeira Cotrim - 48
Rigoberto Guillerno Espinosa Pichs - 54
Meu Pai, José Arruda - 57
Dona Amália Morais, minha Mãe - 61
Silvna Melana, segunda Mãe - 65
Dentro e fora de casa - 69
João Morais, meu Avô - 73
São João do Paraíso - 76
Memórias - 80
Meu
professor Joaquim Rolla - 83
Os revoltosos passam por Salinas - 90
Mudança para Salinas - 93
Mato Verde - 97
Taiobeiras - 101
Montes Claros - 105
Colégio Diocesano - 108
Meu professor Pedro Santana - 111
Começando a ser montes-clarense - 113
Jornalismo - 116
O Bar Guarani de Vadinho - 119
Hotel São José - 122
Fafil - 125
Aprendendo Etiqueta no Rio de Janeiro - 128
No Teatro Nacional de Brasília - 130
Na Loja Maçônica Deus e Liberdade - 133
Fundação da Faculdade de Direito - 136
Outra vez em Lisboa - 139
Currículo - Wanderlino Arruda - 142
Cronologia - 146
Posfácio | Itamaury Teles de Oliveira - 159
EXPLICATIVAS
INICIAIS
Trabalhando
em grupo, a sinergia é maior.
Vivendo
e Aprendendo chega na hora certa dos oitenta e sete anos,
como se um quase romântico relatório de vida
e contabilidade, com balancetes e balanço de vivências
e convivências. Mostra de vida como se em trabalho de
grupo, escola com alunos de várias séries. Predestinação
ou destino de muitas almas, percursos em múltiplos
caminhos, família humana com registros akáshicos,
como pensam os indianos.
Minhas
aprendizagens, minhas escolhas, meus problemas. Minha história,
minhas estórias: nenhum desengano, nenhum mesmo! Em
tempos diferentes, familiares, companheiros, colegas, amigos,
irmãos, confrades, confreiras, correligionários,
adversários, críticos, todo mundo em eterno
aprender e ensinar.
Quem? Com quem? Por quem? Para quem? De quem? O quê?
Onde? Aonde? Como? Quando? Quanto? Por quê? Para quê?
Cada um, cada coisa, cada companhia, cada acontecimento, em
momento certo, lugar certo, aprendizado formal ou não
formal.
Muitos os verbos conjugados em todos os modos e tempos: ser/não
ser, ter, agir, ver/ser visto, ver de dentro ou ver de fora,
assistir/representar, entrar, sair, ficar, sentir, acreditar,
substituir/ser substituído, concordar/não concordar.
Diversificado o exercício do viver e do agir. Muitos
os papéis, com mais alegrias que tristezas, seja sentado
no auditório ou atuando em cima do palco, a existência
sempre um teatro. Muitos os amores, nenhum desamor.
Considerei as famílias como de origem e de destino,
eterno convívio, viver junto ou em distâncias.
O núcleo pai e mãe, os irmãos e os afins,
cada qual no seu jeito e modo de ser, ninguém igual
a ninguém. Com Olímpia, a morena de olhos verdes,
eterno presente de 72 anos de alegre convivência e até
em possíveis cumplicidades, existências plenas,
acredito de acordo com o programado no eterno caminho espiritual.
No dizer dela, “doce vizinhança de travesseiros
e nas andanças que a vida nos leva, ainda em algum
tempo para frente’’.
Muitos os agradecimentos aos ilustres nomes que assinaram
opiniões a meu respeito, tenho certeza mais pela amizade
e pelo carinho. De todos, somente dois tiveram conhecimento
antecipado do texto completo: Glorinha Mameluque, do Prefácio,
e Itamaury Teles, do Posfácio, porque tinham que saber,
com antecedência, sobre motivação e conteúdo
do livro, razões e necessidades de quem precisa analisar
bem.
Wanderlino Arruda
QUEM
SOU...
Antes
de tudo, sou um leitor de todos os momentos, que procura saber
sobre pessoas, lugares, coisas e acontecimentos. Pesquisador
de semelhanças e contrastes, vivo bem quando navegando
entre a razão e a emoção, parte no real,
parte nas ideias, inclusive com o ritmo poético.
Minhas
leituras começaram aos onze anos, nas bibliotecas das
escolas de Salinas e Mato Verde, livros de aventuras juvenis.
O contato mais direto com a Literatura em Geral começou
em Taiobeiras, quando pude mergulhar, com profundidade, nas
obras de autores portugueses e brasileiros, tanto nos romances
como nos livros de História e de Religião.
Observador de tempo integral, analista sempre que posso, tento
tirar de cada momento lições úteis para
uma melhor compreensão da vida, minha e de todas as
pessoas. Irrelevantes as dimensões, sei que tudo tem
o seu próprio valor. Por isso, o meu gosto em escrever
crônicas que, do quase nada, sempre chegam a conteúdos
de universos informativos e confessionais ou simplesmente
lúdicos. Descrevendo pessoas, narrando ou interpretando
fatos, coloco-me quase sempre como partícipe, tendo
alguma certeza de estar oferecendo possíveis contribuições
e exemplos.
Sempre
tive oportunidade de viver e reviver cada texto, antes e durante
a escrita, passando os episódios ou as descrições
nas lonjuras do tempo ou do espaço, seja em Brasília,
seja em Havana, Lisboa, Buenos Aires ou São João
do Paraiso, minha terra natal. Vejo tudo em coloridas e sonoras
lembranças, ou, no mínimo, como se estivesse
sonhando ou em um rememorar de detalhes. Não sei me
desligar do meu próprio universo, pois vivente de memória
eterna.
PREFÁCIO
Maria
da Glória Caxito Mameluque
Entre
as missões difíceis que tenho enfrentado nesse
tempo de pandemia, essa é uma delas: prefaciar uma
obra de Wanderlino. Difícil, mas gratificante e à
qual não posso me esquivar, apesar do susto e do inusitado
do convite.
Falar do homem - Wanderlino Arrruda - é chover no molhado,
é repetir tudo o que já foi falado em letras
garrafais e aqui reproduzidas nas letras de Maria Ribeiro
Pires, Maria Luísa Rodrigues Batista e Inilta Pires
Antunes, Maria Luiza Silveira Teles, Felicidade Tupinambá,
Manoelito Xavier, Haroldo Lívio, Mara Narciso, Lázaro
Francisco Sena, Dóris Araújo, Dário Cotrim
que o retratam como “homem de sete instrumentos”
e até comparado a Winston Churchill, na pena de Josué
de Oliveira Lima: “Gosto pela política, pela
pintura, jornalismo, oratória, ciências e artes...”
e Rigoberto Guilherno Espinosa Pichs, que assim diz: “
De Wanderlino, uma galeria de personagens desfila por
nossa imaginação, no tempo e na conformação
do acontecimento, guiada pela maestria do narrador...”
Poderia
parar por aqui, mas o livro “Vivendo e Aprendendo”
penetra lá no baú de suas raízes e me
encanta, apaixonada que sou pelo resgate de Memórias.
Mário
Sérgio Cortella afirma que: “Na vida, nós
devemos ter raízes, e não âncoras. Raiz
alimenta, âncora imobiliza. Quem tem âncoras vive
apenas a nostalgia e a saudade. Nostalgia é uma lembrança
que dói, saudade é uma lembrança que
alegra.”
Prefiro
então, mergulhar nas suas raízes tão
bem descritas nesse livro, um resgate de lembranças.
Do
pai, José Arruda, herdou o espírito aventureiro
“era um viajante faminto de estradas, sempre saindo
e chegando...” De prodigiosa memória, lembra-se
até do seu pai “vestindo um pijama listado, com
botões vistosos e alamares na gola e nas mangas...”
À
mãe, Dona Anália, um momento de afeto filial
e uma linda declaração de amor: “Ser mãe
é curar o cansaço, é amenizar apropria
existência...”
A
segunda mãe, Silvina Melana também merece uma
lembrança especial e uma gratidão: “Ela
carregava e lavava os urinóis, dava banho, vestia as
roupas, penteava os cabelos, dava os remédios, ensinava
a rezar...”
O
avô João Morais “viveu oitenta e muitos
anos de alegria em tempo integral...” “Vi-o muitas
vezes voltando à tardinha, enxada no ombro, embornal
pendurado no pescoço, sorriso de ponta a ponta, a cantarolar
algumas de nossas modinhas prediletas...”
As
andanças por São João do Paraiso, onde
nasceu, as lojas principais, o centro da praça onde
os fereiros da roça amarravam os cavalos e onde a meninada
pulava corda e brincava com bolinhas de gude...” lembranças
da infância que me fizeram lembrar “Dos meus tempos
de criança” de Ataulto Alves: “Eu igual
a toda meninada, quanta travessura eu fazia, jogo de botões
pela calçada, eu era feliz e não sabia.”
E
o Professor Joaquim Rolla? “Um homem alto, magro, olhar
firme e penetrante o tempo todo, com uma régua de madeira,
pronta para descer no lombo de quem não estudasse direito...”
As
viagens de São João do Paraiso para Salinas,
lembrando de quando “pegou varíola e viajou enrolado
em palha de bananeira...” E em Salinas, seu deslumbramento
porque tinha coisas que São João não
tinha: “... sorveterias, padarias, armazéns grandes
e até lojas com vitrines...” E ali conheceu a
professora, “a mulher mais alta da cidade, com fama
de bonita e inteligência sem igual, Dona Heloisa Veloso
Sarmento Cordeiro...”
De
Salinas para Mato Verde, Taiobeiras: nessa época, sem
completar 15 anos era bom fazedor de charadas e autor de palavras
cruzadas. E foi em Taiobeiras, tempos depois que foi atingido
pela flecha do Cupido, quando cruzou com Olímpia em
uma bicicleta feminina amarela e lhe disse que uma amiga dela
queria namorar com ele. “Olhei bem nos olhos verdes
dela, portadora do mais lindo sorriso do mundo e respondi
de pronto: “Namorar eu quero, mas é com você...”
Encontro que dura até hoje, há mais de setenta
anos.
Por último a vinda para Montes Claros, já de
todos conhecida, como suas peripécias pela Rua 15 e
pelas ruas onde situavam as casas das “mulheres”,
passando pelo Hotel São José até chegar
no Bairro Todos os Santos.
O ideal de servir que sempre pautou sua vida, seja no Rotary,
na Maçonaria e em muitas outras instituições,
talvez tenha tido início naquele dia em que menino,
pegava escondido um pouco de cada coisa para dar aos pedidores
de esmola, na seca de 39.
Fiquei agradecida e honrada em ter tido a oportunidade de
participar desse regate de suas raízes.
Presidente da Academia Montes-clarense de Letras, Membro
da Academia Feminina de Letras de Montes Claros, do Instituto
Histórico e Geográfico de Montes Claros e da
Academia de Letras, Ciências e Artes do São Francisco.
MARIA
RIBEIRO PIRES
Solada
na “imensa taça voltada pra as constelações
do Infinito”, no dizer de Plínio Ribeiro, Montes
Claros brinda a seu destino: SUB UMBRA ALLARUM TUARUM”.
À
sombra de suas asas, acolhe, além de seus filhos, os
filhos de outras terras. Pelo antigo rigor das leis romanas,
que visavam à perpetuação da família,
adota-os. Educa-os. Tempera-lhe o caráter na fortaleza,
na perseverança e no trabalho. Incute-lhes o seu ideal
de grandeza, sua ânsia de progresso e de civilização.
Não distingue entre filhos próprios e os de
adoção, tal a identidade do ideal com que lhes
forja a mente.
Sustentada em fé e ousadia, a cidade cresce impetuosa,
segura, assombrando o visitante com suas surpreendentes e
imponentes realizações.
Wanderlino é o chegante, o novo elemento da constelação
de valores que a cidade amorosamente recebe como mãe
que ansiosa mente espera o filho. Será que a tônica
do amor é que faz vibrar as cordas do coração,
que levaram o autor de ‘Tempos de Montes Claros”
a escrever as páginas que vão ficar na história
de nossa terra? Como identificar o livro do Prof. Wanderlino
Arruda?
Não é o desenvolvimento de uma teoria vivencial.
E a própria operacionalização de vida.
Sua pena leve, flexível, traça com fidelidade
o perfil dos seus retratados num conjunto harmônico
de características pessoais e circunstanciais. Seguro
na autenticidade, nunca se resvala para a lisonja, para o
convencional.
Acreditamos que o presente trabalho será somado aos
de outros escritores da nossa terra, constituindo-se importante
subsídio para a história de Montes Claros.
Seus poemas, salmos de intensa espiritualidade, compõem
com a prosa a estrutura mística da personalidade do
autor.
Como situar o escritor?
É o mestre da língua, o artista de imagens fulgurantes,
captando com absoluta sinceridade a alma humana em seus momentos
graves, solenes, estuantes de alegria, conforme a situação
que lhe apresenta. Wanderlino adotou a nossa cidade. Fez-se
estudante em contínua pesquisa, professor em constante
exercício, político atento ao interesse público.
Sai, por força de imperativos e interiores chamados
da rotina de sua vida de trabalho, e torna-se presença
indispensável em todos os setores cívicos e
culturais da comunidade.
Subindo
os degraus construídos pelo seu próprio talento,
ganha o direito à palavra. É o tribuno. Dirige-se
aos irmãos, filhos da mesma urbe, com a autoridade
de quem não só entende os problemas da região,
mas como quem, percebendo sua gravidade social, empenha-se
em suas soluções.
É difícil distinguir a linha que separa o seu
ser disciplinado, contido, jungido aos compromissos, do voo
do idealista, do artista de sonhos largos, ousados.
Altivo, natural, sereno, imune às vaidades vulgares,
fala aos grandes e aos pequenos.
Sua cordialidade amena, espontânea, é a chave
com que abre todas as portas como quem sabe a que vem, a que
chamado responde. Seu olhar direto, incisivo, parece buscar
um ponto mais alto como se os Montes Claros lhe tivessem acenado
um dia com uma mensagem de luz.
Hoje, traz-me o seu livro, solicitando a apresentação
de sua obra. Não sei a que mais devo atender: se à
gentileza habitual do autor ou ao sábio espírito
de minha terra que o chamou, o acolheu, o adotou como filho
amado e lhe inspirou estes magníficos, exemplares trabalhos.
Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais,
Belo Horizonte, 20 de agosto de 1978.
MARIA
LUIZA SILVEIRA TELES
Ando
desconfiada que o mestre Wanderlino esteja escrevendo suas
memórias. E com toda razão! Ele nos deve isto!
É uma memória tão rica, que se confunde
com a própria História de Montes Claros; tem,
pois, de ser contada para jamais ser esquecida.
Sou
amiga do professor Wanderlino Arruda há mais de cinquenta
anos. Nossa convivência tem sido bastante enriquecedora.
Lembro-me, com saudade, dos velhos tempos em que saíamos
juntos da antiga Fafil, em turma, e ele sempre a brincar com
a minha tia Yvonne de quem o tio Olyntho tinha muitos ciúmes.
Nunca
perdeu o seu jeito moleque de menino que se deslumbra com
a vida e se diverte com tudo. Brincalhão como ele só,
possui uma eletricidade que o move a mil por hora. Já
com oitenta e sete anos, continua cheio de energia e empreendedor
como ele só. Faz mil coisas ao mesmo tempo. Não
desperdiça um único instante. Sempre criando
e agindo, principalmente pelo bem de Montes Claros. Alguém
imagina que ele não descanse, não tenha lazer
e não se divirta? Ora mestre Wanderlino está
em eterno lazer, porque o trabalho, a convivência com
o outro, ensinar, aprender, dar de si, liderar, criar, agitar
a vida cultural da cidade, tudo isto para ele já é
lazer e divertimento, pois tudo faz com prazer. Para ele não
há o peso do dever e sim a alegria de viver.
Tantas
vezes em minha vida precisei dele para um conselho, um desabafo,
uma ajuda nos trabalhos intelectuais e ele sempre a me receber
com o mesmo carinho e a mesma prestimosidade. E isso não
é só comigo que sou amiga, é com qualquer
um. Mas, eu lhe devo muito e disto nunca poderei esquecer.
Ele tem me feito crescer em todos os sentidos! E não
acreditem no que ele fala e escreve a meu respeito. Ele é
míope com relação a mim, pois me olha
com o sentimento de um irmão.
Agora,
não sou eu apenas que falo; isto é uma unanimidade:
ele é uma das maiores autoridades culturais não
apenas do norte de Minas, mas, quiçá de alhures.
É dono de uma memória privilegiada e passeia
com desenvoltura por todos os recantos do Saber: História,
Geografia, Latim, Grego, Linguística, Literatura, Bíblia,
Esperanto, Espiritismo, Filosofia, Semântica, Direito,
etc. E, como maçom, rotariano e elista, traz ainda
um grande acervo da sabedoria milenar de outras culturas.
Sua biblioteca é uma das mais ricas que conheço.
Basta uma vistoria por ela para saber o quanto essa criatura
tem lido e estudado nesta vida.
Meu
pai, que foi uma verdadeira enciclopédia, admirava-o
muito e sempre repetia: “Ah, se eu tivesse a memória
de Wanderlino”. Existe até uma conversa que ele
toma um medicamento especial para a memória. Tanto
que basta se chegar a uma farmácia local e pedir “o
remédio de Wanderlino”.
Acho
que é bobagem falar de seu extenso e rico currículo,
pois todo o mundo intelectual de Montes Claros bem o conhece.
O homem fez tudo quanto é curso e ocupou quase todos
os cargos de importância no município. Foi professor
universitário, alto funcionário do Banco do
Brasil, vereador, secretário do município, Governador
do Rotary, criador do Instituto Histórico e Geográfico
de Montes Claros, da Academia Maçônica de Letras,
é eterno jornalista, tendo escrito para todos os jornais
que existem e já existiram em nossa terra, é
escritor, cronista e poeta. Poema seu já apareceu até
em filme francês! Possui vários sites na internet
e não para de aprender informática. Adora novidades
e tecnologia.
Ainda
por cima, como se não bastasse tanto, é pai
de sete filhos, avô de uma dezena de netos e até
bisavô. Esposo eternamente enamorado de uns belos olhos
verdes! Mas, para mim, tem um significado especial: é
meu amigo e meu professor de estudos bíblicos.
Sua escrita é deliciosa e tem uma enorme facilidade
para contar casos e causos. Escreveu duas dezenas de livros
e eu me deliciei especialmente com “Jornal de Domingo”,
“Emoções” e “O dia em que
Chiquinho sumiu”.
Conforme dizia o nosso inesquecível Haroldo Lívio:
Wanderlino Arruda “é um cidadão feliz
com a família, com os amigos e toda a humanidade que
bate palmas à sua passagem, por reconhecer em sua pessoa
um dos valores mais elevados de nossa comunidade montes-clarense”.
E que o mestre Wanderlino fique conosco para todo o sempre!
E que venham suas memórias para nossa alegria!
FELICIDADE
TUPINAMBÁ
Quem
não conhece Wanderlino Arruda? A sua elogiável
longevidade, por si só, lhe garantiria ser conhecido
por muitos. Mas é seu brilhantismo que o faz se destacar
por onde passa. Ele sempre deixa um rastro de luz. O certo
é que quem o conhece pode sentir-se um privilegiado
por conhecer um homem de bem e de tamanha envergadura. Entendendo
como ‘envergadura’ a extensão entre as
pontas das asas de uma ave ou de uma aeronave. Sim, asas!
De anjo, de quem sabe voar, criar, realizar e servir com generosidade!
Agora,
imagine você meu privilégio por conhecer vários
Wanderlinos! Em 1992 foi quando nossas vidas se cruzaram numa
reunião que ele presidia, na qual fui convidada para
fazer parte da fundação de um clube do Rotary.
Conheci aí o Wanderlino rotariano. Conhecedor e entusiasta
dos ideais de Paul Harris, da obrigação do ideal
de servir, para, no mínimo, deixarmos este mundo melhor
do que o encontramos. De olharmos além de nós
mesmos, de dar de si antes de pensar em si. Fiquei tão
apaixonada pelo Rotary, que saí dali rotariana. E 30
anos já se passaram deste encontro primeiro. Nascia
ali o Rotary Club de Montes Claros-Leste, e Wanderlino foi
o responsável, ao lado de Alexandre Pires Ramos, José
Maria Marques Nunes, Henrique Veloso, por criar o primeiro
clube de serviço com a admissão de mulheres
em seus quadros associativos. Já perdi a conta de quantos
clubes Wanderlino criou no Rotary em Minas Gerais e em outros
estados, contribuindo assim para o engrandecimento e prestígio
que a instituição goza no mundo inteiro. Em
Rotary ele tornou-se o meu guru. Sempre que tenho uma dúvida,
um aconselhamento, é a ele que recorro.
No
Rotary conheci ainda o Wanderlino presidente do Rotary Club
de Montes Claros-Norte, Governador do Distrito 4760 no biênio
1994/95, representante do RI em várias conferências
no Brasil, na Argentina e no Uruguay, sempre divulgando e
engrandecendo o Rotary.
Conheço
também o Wanderlino escritor dos livros “O dia
em que Chiquinho sumiu”, “Vivências”
e tantos outros. Conheci Wanderlino na poesia, nas crônicas,
das quais, privilegiada que sou, guardo duas com ternura.
Uma é sobre o signo de câncer. Ah! Ele entende
também de horóscopo! Me desvendou com rara precisão.
Na outra crônica ele conta ter acelerado o passo, numa
de suas caminhadas, numa manhã qualquer de domingo,
para encontrar a felicidade, que andava um pouco apressada
à sua frente, para andar com ela. Tudo indicava ser
a felicidade, mas, ao chegar próximo, não era.
E assim é também na vida... Às vezes
corremos atrás de uma felicidade, mas nem sempre ela
está quando a encontramos.
Tem
o Wanderlino palestrante. Se você convidá-lo
para uma palestra, basta que o avise com 15 minutos de antecedência,
que ele comparece e fala com propriedade. Acho genial esta
sua disposição de servir e de cooperar com as
pessoas.
O
Wanderlino político é outra faceta interessante.
Já foi vereador, presidente da Câmara e até
secretário municipal.
Conheço
ainda o Wanderlino nascido em São João do Paraíso,
das famílias Morais e Arruda, que veio para Montes
Claros e aqui trabalhou em lojas, foi repórter de jornal,
até passar no concurso do Banco do Brasil. De lá
ele não saiu nem quando se aposentou, contratado que
fora para formar executivos do banco através de treinamentos
internos pelo Brasil afora. É o que se pode chamar
de self-made-man - um homem que se fez exclusivamente em função
dos méritos pessoais.
Conheci
o Wanderlino pintor, artista plástico, e tenho dele
uma marinha com barcos, óleo sobre tela, com pinceladas
de um amarelo próprio dos ocasos do sertão,
que orna minha casa ao lado de outros estelares das nossas
artes plásticas.
Tem
ainda o Wanderlino poliglota! Além do português
correto, fala, escreve e dá conferências inclusive
nos Estados Unidos, em inglês. Tem proficiência
em esperanto, francês e espanhol.
A
chegada da informática não foi problema para
ele. Até facilitou sua comunicação. Domina
desde o início o tratamento de informações
nas redes sociais. Mantém mais de treze sites e os
atualiza frequentemente, além de estar no Facebook,
Instagram, Youtube, Twitter e TikTok. Sua maior ocupação
atualmente tem sido transformar suas palestras em gravações,
que ele exibe na internet. Já transformou em arquivos
digitais mais de quatrocentas, o que tem lhe valido um maior
número de seguidores.
Tem
o Wanderlino intelectual, que levita com desenvoltura pelos
institutos e academias como membro, ora como presidente, ora
como fundador... Já fundou um sem número de
entidades... Discursa com sabedoria e destreza peculiares
aos que falam de improviso.
Conheço
ainda o Wanderlino do Elos, da Maçonaria, onde ele
brilha e destaca-se pelo primor da fala, da escrita e da capacidade
de conviver com alegria, retidão e generosidade.
Conheci
ainda o Wanderlino esposo de Olímpia, pai de Denílson,
Wladênia, Rízzia, João Wlader, Danilo,
Júnior e Gracielle, e avô ‘babão’
de Fernanda Isabela, Pedro Henrique, Mayra, Lívia,
Natália, Heitor, Gabriela, Andrew, Lucas, Roberto,
Pedro Lucas, Arlie e Marcelo.
Conheci
ainda o Wanderlino espírita, admirador de Chico Xavier,
Divaldo Franco e Nathércio França. Um homem
despojado, desapegado de valores materiais, caridoso. Certa
feita, estando em sua casa durante uma reunião, ele
ausentou-se para atender a um pedinte que havia batido à
porta. Reclamei de sua demora em retornar, e ele foi logo
me dizendo: poderia ser Jesus. E me lembrou da passagem bíblica,
em Mateus 25:35-45: “Em verdade vos digo que, sempre
que o fizeste a um destes meus irmãos, mesmo dos mais
pequeninos, a mim o fizeste”, o que me deixou deveras
desconcertada e pensativa. Concordo com o professor Romildo
Ernesto Mendes quando ele disse, em crônica recente,
que o maior galardão de Wanderlino
é ser um homem de Deus.
Vive
o dia inteiro rodeado dos livros. Olímpia me confidenciou
que ela já jogou uma praga nele quando um dos meninos
nasceu. Não me recordo qual deles. Ela se contorcendo
de dor em trabalho de parto, e ele sentado no sofá
lendo um livro. Ao que ela esbravejou: “Tomara que nenhum
destes meninos virasse leitor de livros”. Graças
a Deus que a praga não pegou. Wanderlino é poço
de sabedoria, nobreza e generosidade. Em síntese, é
isto que ele é!
Mesmo
aqueles que fazem da arte uma atividade paralela e outra qualquer,
não a usando como uma forma de sobrevivência,
trazem sobre si uma grande carga de responsabilidade com o
mundo à sua volta e com o momento histórico
no qual está inserido. Arte na sua verdadeira essência
significa educar, propor, retratar e muitas vezes denunciar
esta ou aquela paisagem ou situação. Ela pode
se manifestar através da música, pintura, literatura,
teatro, etc. ou pode ser apenas uma visão de mundo,
ou um jeito próprio de apreciar as coisas. Não
importa de onde ela venha, como ou quem a trás: brota
natural e irresistível dentro do homem e abrange tudo,
ultrapassa até mesmo o poder pedagógico das
grandes escolas...
O
enfoque hoje é para o artista plástico Wanderlino
Arruda, que estará expondo seu trabalho na mostra de
arte a ser realizada de 07 a 23 de março próximo
no Centro Cultural. Através de sua própria análise,
ele afirma que encontrou na pintura a oportunidade para testar
sua força de vontade e sua capacidade de iniciativa,
um teste que envolve a coragem de acertar ou errar. Sua carreira
começou naturalmente, seu aprendizado de pintura não
passa de vinte e poucas aulas e, cada nova etapa constitui
uma série de obstáculos a transpor e um grande
montante de sacrifícios, o que faz de sua vida uma
maratona. A pintura está presente em todos os momentos,
pois pertence a uma família de artistas plásticos,
tendo como colegas, em seu próprio ateliê, sua
mulher e seus três filhos, todos tomando parte no mesmo
interesse artístico.
Sua
especialidade é a pintura a óleo e acrílico,
usando sempre pincel e espátula. Seus trabalhos vêm
sempre com revestimento plástico, algumas vezes com
tratamento especial. Para cada tela pintada, ele já
tem sempre uma moldura pronta, de modo que o quadro possa
ser colocado na parede logo após o término.
Wanderlino Arruda tem preferência por marinhas e usa
as cores a seu gosto, muitas vezes monocromaticamente.
É
quase impossível, um quadro seu não mostrar
montanhas: uma espécie de identidade com a paisagem
das Minas Gerais. Em momentos de calma, pinta quadros barrocos
mostrando a parte antiga de Montes Claros. Suas incursões
incluem os cenários de Ouro Preto, Diamantina e Grão
Mogol. Tem como costume anotar cenários em suas viagens,
e em seus quadros podem figurar tanto o Rio Grande do Sul,
como o Nordeste ou a Amazônia. Seus quadros dão
sempre uma ideia de repouso e serenidade. Seu primeiro quadro
foi pintado em 1974, por desafio do pintor Samuel Figueira
e foi feito em tom azul e branco retratando uma paisagem de
chapada, já com relativa transferência, o que
transformaria, mais tarde, em sua principal característica.
Sua experiência está descrita no livro “Tempos
de Montes Claros”, de sua autoria e no livro “Montes
Claros, sua história, sua gente e seus costumes”,
de autoria do historiador Hermes de Paula. Tem seus quadros
vendidos na França, Estados Unidos e em Portugal, onde
se encontra seu segundo quadro pintado, um primitivo. Seu
estilo é definido como barroco ou hiper-realista e
ainda traz traços de ingenuidade marcados em sua primeira
fase. Conforme conta ele próprio, seus quadros atualmente
são mais de seiscentos e estão espalhados por
vários estados, principalmente em São Paulo.
Sobre as muitas experiências adquiridas ele destaca
uma no Distrito Federal, no ano de 1978, quando enfrentou
75 concorrentes em um concurso lançado pela Sociedade
de Artistas Plásticos, no qual saiu finalista com um
quadro pintado em cinco horas enfocando o Palácio do
Itamarati. Foi o organizador da mostra inaugural de arte do
Centro de Extensão Cultural, em maio de 1979. Sua participação
na Feira de
Arte da Praça Dr. Chaves é cotada como 100%
desde que iniciou até o presente momento.
Sobre
seu estilo, que sofreu inicialmente, influência de Godofredo
Guedes, Konstantin Christoff, Samuel Figueira e Raimundo Colares
e, aos poucos, foi adquirindo feição própria.
Ele faz questão de frisar a firmeza de seu estilo para
não confundir com nenhum dos seus orientadores. Quanto
a seu método Wanderlino Arruda diz: “Não
uso cavalete, normalmente. Prefiro a superfície plana
para apoiar a tela, talvez forçado pelos anos de experiência
de escritório, sempre trabalhando em mesas. Acho melhor
a visão da superfície, na horizontal. Trabalho
sempre de pé para facilitar a visão em todos
os ângulos. Não tenho compromisso de executar
a pintura nos moldes
acadêmicos, ou seja, de faze-la de cima para baixo e
da esquerda para a direita. Às vezes até começo
os meus quadros de baixo para cima, ou mesmo em diagonal.
Raimundo Colares me ensinou que em arte tudo é válido,
o que importa é o resultado”.
Além de artista plástico, outras atividades
marcam a carreira de Wanderlino Arruda como profissional.
Elas podem ser destacadas como: professor titular de Língua
Portuguesa e de Linguística na Faculdade de Filosofia
– FAFIL, de Montes Claros; professor de Linguística
Aplicada à Comunicação, para administradores
do Banco do Brasil e no Projeto Rondon; participação
em congressos nacionais e internacionais; atividades públicas
ligadas a várias entidades de Montes Claros e atividades
jornalísticas desde 1954. Suas principais obras publicadas
são: “Tempos de Montes Claros”, Montes
Claros,
sua história, sua gente e seus costumes” (participação)
e “Antologia da Academia Montes-clarense de Letras”
(participação).
HAROLDO
LÍVIO DE OLIVEIRA
Anote
em sua agenda, por favor. Na próxima quarta-feira,
3 de setembro do ano corrente de 2014, Wanderlino Arruda,
o homem de sete instrumentos, estará comemorando, no
recesso do lar, a chegada de suas oitenta primaveras. Não
se trata de nenhum trote, para incomodar o ilustre aniversariante.
Com cara de menino, agitado como um menino e ainda em plena
atividade e sem tempo para fazer tudo que planeja para o futuro,
quem não o conhece bem deve ter a impressão
de que seja apenas um vigoroso sexagenário. Ele está
ótimo de saúde, é um cidadão feliz
com a família, com os amigos e toda a humanidade que
bate palmas à sua passagem, por reconhecer em sua pessoa
um dos valores mais elevados de nossa comunidade montes-clarense.
Esta história de vida edificante teve seu ponto de
partida no ano de 1934, na atual cidade de São João
do Paraíso, que o destino lhe concedeu por berço
natal, sendo primogênito de um jovem casal das tradicionais
famílias Arruda e Morais, gente de ótima qualidade
que honra seus descendentes. Conheceu, no lar paterno, que
é o seu escudo de dignidade e amor, as primeiras lições
de trabalho e organização na luta pela vida,
sem abrir mão das virtudes essenciais que devem ser
cultivadas eternamente. Custe o que custar. Por tudo isto,
pode-se atestar que o mestre Wanderlino Arruda, de quem tenho
o privilégio de ser amigo e contemporâneo, há
sessenta anos, pode ser apontado, sem sombra de dúvida,
como um guerreiro plenamente
vitorioso em todas as batalhas.
Seu currículo não cabe neste espaço exíguo.
Se fosse relacioná-lo aqui, seria abusar da boa vontade
do leitor. No meu pequeno mundo, não sei de ninguém
que tenha recebido tão grande número de homenagens,
distinções e troféus. Foi de tudo um
pouco; de vendedor de doce de marmelo a governador do Rotary
Clube, adquiriu larga experiência existencial e cultural.
Correu mundo...
Conhece o Brasil como a palma da mão. “Oropa,
França e Bahia” figuram em seu itinerário
habitual.
Veio de baixo e ganhou alturas vertiginosas. Tem sido caixeiro
de loja, orador, professor, contador, pintor, prosador, vereador,
construtor e outras cousas que rimam com amor. Por falar em
amor e sem mudar de assunto, nessa trabalheira danada contou
com o arrimo de sua meeira e querida esposa Olímpia,
com quem divide sua coroa de glórias. Ele tem uma biografia
muito bonita, que para mim é mais importante que o
curriculum vitae. Já ia me esquecendo de dizer que
ele é poeta, maçom de grau 33 e já presidiu
nossa Câmara Municipal, além de ter cumprido
carreira exemplar no Banco do Brasil, inclusive como formador
de administradores na Direção Geral.
Tome
biografia, tome currículo, porque é pouca vida
para tanta lida. Agora mesmo, ele acaba de regressar de uma
peregrinação cívica em Portugal, onde
deve ter divulgado o notável trabalho do Instituto
Histórico e Geográfico de Montes Claros, sua
atual paixão. Que Deus o abençoe, caríssimo
aniversariante, e o conserve sempre assim. Despedindo-me,
não posso deixar de registrar sua atuação
como participante ativo do processo de crescimento de nossa
Montes Claros, construindo dezenas de apartamentos. Isto é
de grande importância. Você é camisa 10!
HAROLDO
LÍVIO DE OLIVEIRA - 2
É o terceiro título publicado por Wanderlino
Arruda. Anteriormente, já havia editado dois volumes
de crônicas, ambos recebidos com agrado pela crítica
e pelo público. Sua estreia em livro ocorreu com “Tempos
de Montes Claros”, enfeixando uma coletânea de
escritos publicados na imprensa sobre pessoas e coisas de
nossa cidade, que é sua terra adotiva. Considero oportuno
recordar que o Autor, dada à sua perene produção
intelectual, demorou muito a estrear em livro, pois já
estava na casa dos quarent’anos, quando publicou o primeiro
título.
Logo em seguida, após breve pausa para meditação,
surgiu com o segundo volume, “Jornal de Domingo”,
reunindo crônicas publicadas no suplemento literário
de “O Jornal de Montes Claros”, no qual assina
uma coluna permanente, dando cobertura às suas observações
pessoais sobre os acontecimentos do cotidiano. A continuar
nesse ritmo editorial, que já prevê o quarto
e o quinto títulos, para muito breve, Wanderlino Arruda
acabará sendo o mais prolífico de nossos autores.
No momento, o recordista de publicação é
o historiador Geraldo Tito da Silveira. De outro lado, verifica-se
que outros bons escritores de Montes Claros, como Hermenegildo
(Monzeca) Chaves e Caio Lafetá, produziram maravilhas
e coleções de jornais antigos, tudo arquivado.
Também João Chaves, o bardo, morreu sem editar
o esperado livro de poemas, que teve edição
póstuma promovida pela família. Ora, a cintilante
beletrista Yvonne de Oliveira Silveira, que é a porta-estandarte
de nossas letras, tem apenas a meação de “O
Velho Brejo das Almas”, feito em parceria com seu consorte
Olynto da Silveira, autor de vários livros. E Luiz
de Paula, de refinado estilo,
publicou apenas uma plaqueta sobre tema econômico, ficando
a nos dever a obra inédita que deverá ser o
espelho de sua face lírica e boêmia.
Pois bem, Wanderlino Arruda, que domina o vernáculo
e tudo vê, tem comportado, em seu mister de cronista
assíduo, com a mesma obstinação do arqueólogo
que escava o subsolo em busca de civilizações
soterradas, para que elas não desapareçam no
esquecimento. O que se percebe, lendo-o, é a preocupação
de fotografar o momento para a eternidade.
Por isto, os historiadores do futuro consultarão muito
os seus livros, que para eles serão como essas garrafas
trazidas pelas ondas do oceano, contendo mensagens enviadas
de lugares ignotos.
O Autor vem operando como repórter fotográfico
do panorama geral da cidade e do mundo, desse vasto mundo
que começa em São João do Paraíso
e não tem onde acabar, e opera com habilidade para
captar o flagrante do cotidiano, com a luminosidade, a nitidez
e o ângulo recomendados pelos manuais da arte de bem
fotografar.
Neste livro, ele abdicou de seu direito de selecionar a matéria
e cedeu a incumbência a leitores, inovando. Franqueou
seu arquivo de recortes a colegas de magistério, que
lecionam na Universidade do Banco do Brasil, o Departamento
de Seleção e Desenvolvimento (DESED), e pediu-lhes
que fizessem a triagem das crônicas. A rigor, creio
sinceramente, caberia aos integrantes da luzida equipe a honraria
do prefácio. Porém, o Autor, que é dado
a atitudes que fogem ao convencional, escolheu um dos muitos
personagens do livro anterior para prefaciar a obra.
Só tem que isto aqui não é prefácio,
segundo a forma tradicional, significando apenas mera apresentação
da obra, despojada da ambição de analisá-la
com profundidade e erudição. Neste volume, o
cronista edita o que é reputado de mais valioso em
sua obra (inédita) de colaborador da imprensa, e o
faz muito bem, porque receia que toda essa produção
se perca na efemeridade do jornal, que depois de lido vai
para a pilha de papéis usados, cai no esquecimento.
Sobre a natureza descartável do que sai nos jornais,
recordo ao leitor um episódio ocorrido na juventude
do romancista Ernest Hemingway. Aconselhado pela escritora
norte-americana Gertrud Stein, ele abandonou o jornalismo
e abraçou a carreira literária. Ela simplesmente
o convenceu de que o jornalismo é como o texto escrito
de giz, no quadro-negro. Basta passar a esponja para que desapareça
ao passo que o livro é feito para ficar, para ser lido,
guardado, relido, guardado...
Se
neste volume, o cronista foi pouco exigente quanto ao prefácio
e até cogitou de deixar em branco o espaço reservado
ao prefaciador, em outros pormenores revelou-se vaidoso e
requintado. A começar pela editora, que é a
imprensa da Universidade Federal de Minas Gerais, cuja chancela
confere prestígio. A vaidade falou mais alto, na escolha
do ilustrador, que recaiu no primoroso artista plástico
Samuel Figueira, cujos desenhos de bico-de-pena vão
despertar a atenção e emoldurar o texto caprichoso.
Acrescente-se a essa vaidade o convite feito ao professor
Eduardo Luppi, chefe da equipe de
artistas da UFMG, para a responsabilidade da arte final da
obra.
Este livro, tão bem escrito e editado (com a composição
feita por computador), se fosse o último, completaria
uma trilogia de Wanderlino Arruda sobre aquilo que se chama
“a alma encantadora das ruas”, porém ainda
virão outros. A fonte inspiradora continuará
jorrando... Quando ao título “O dia em que Chiquinho
sumiu”, esclareço que não se trata de
literatura infantil, embora dê a impressão, merecendo
ser lida por crianças e adultos, indistintamente, porque
interessa a todo mundo que gosta de ler.
MARA
NARCISO
Lazer
disfarçado em tarefa é ler e fazer a apresentação
do 18º livro de Wanderlino Arruda. Ainda que nascido
em São João do Paraíso, em três
de setembro de 1934, é o montes-clarense mais autêntico
que existe por aqui. Veio estudar em Montes Claros em 1951,
coisa que fez com afinco, mergulhando nos livros e no trabalho,
crescendo e acompanhando Montes Claros se desenvolver. Testemunha
ocular, por paixão e profissão, já que
trabalhou como repórter no Jornal de Montes Claros,
esteve em importantes acontecimentos históricos da
cidade. Montes-claridades é um passeio pelas pessoas,
ruas e entidades montes-clarenses, numa caminhada entusiasmada
de alguém presente em muitos dos fatos citados, ao
mesmo tempo vivendo o acontecimento e reportando-o para a
imortalidade.
São
crônicas escritas em tempos diversos, e que se consegue
imaginar quando foi, pelo fato narrado e pelos personagens,
vivos e mortos. O tema “nome de ruas” é
recorrente na obra, e, quando menos se espera, vem um detalhe
pitoresco e pura surpresa. A Rua Dr. Santos, que homenageia
o médico Antônio Teixeira de Carvalho, conhecido
como Doutor Santos, era o caminho do menino Wanderlino Arruda.
Passava indo e vindo, seja como comerciário, seja como
trabalhador da notícia, ou morador de uma pensão
naquela rua, e depois do Hotel São José, sendo
capaz de, fotograficamente, desenhar com palavras cada edificação,
detalhando os personagens dentro dela. O Mercado Central,
ser inanimado, ganha vida, cheiros e balbúrdia, nas
lentes amorosas de Wanderlino Arruda, que lhe vê grandioso,
bem construído, cheio de atrativos, ainda que consistisse
num ambiente infecto, verdade relativamente ocultada, já
que o amor tende a minimizar qualquer falta de qualidade.
A energia, vitalidade e jovialidade de Wanderlino Arruda sabe-se
de onde vêm, da sua literatura e vice-versa. Um alimenta
o outro de forma siamesa. Ainda que o toco que ficava em frente
à sua casa tenha ganhado ares de protagonista vivente,
seu entusiasmo é grande quando fala das pessoas que
admira. Há um crescendo no encontrar as palavras exatas,
chegando-se ao apogeu de materialização corporal
e psicológica, através da sua fácil adjetivação.
Os colegas do Colégio Diocesano, alguns compenetrados
com os estudos, outros não, a solenidade no trato com
os mestres, pessoas austeras, distantes, exceto monsenhor
Gustavo, um doce de pessoa, estão lá, nos escaninhos
da saudade. O Clube Minas Gerais ganha destaque em sua memória,
por ser próximo ao local onde o menino Wanderlino Arruda
fora morar quando aqui chegou. O lugar luxuoso, cheio de glamour,
mistérios, música, jogo, mulheres e frequentado
pelos homens de dinheiro, atiçava a imaginação
e curiosidade do recém-chegado, logo transferido para
um endereço distante geograficamente do ambiente de
pecado, mas não afetivamente.
Quando o personagem é grande, fica exuberante na argúcia
do escritor, que visita o passado sem melancolia. Passam por
Montes-claridades vultos que construíram a cidade,
como Cícero Pereira, Nathércio França,
Yvonne Silveira, Konstantin Christoff, Luiz de Paula, Hermes
de Paula, Darcy Ribeiro, Dulce Sarmento, João Carlos
Sobreira, Simeão Ribeiro, Godofredo Guedes, e outros,
bastante elogiados. Entidades circulam em suas páginas
como Rotary, Loja Maçônica Deus e Liberdade,
Catedral, Banco do Brasil, Fafil, Academia Montes-clarense
de Letras, Instituto Histórico e Geográfico
de Montes Claros, todas elas pululando vida e saúde.
Original em várias passagens e genial no nome, Montes-claridades
são, na verdade, vários partos, porque conta
o nascimento de inúmeras instituições,
numa narrativa vibrante, quase romântica, típica
dos jovens que nunca envelhecem, como é o caso de Wanderlino
Arruda.
Não só deu a luz em suas páginas, mostrando
a criação dos nomes citados e outros mais, como
também, iluminando o horizonte, para que sigam os caminhos
de “o estudo é a luz da vida”. Estudar
iluminou a vida desse paraisense, que, generosamente, distribui
história e amor em seu novo livro.
LÁZARO
FRANCISCO SENA
O
furacão Wanderlino - assim foi descrito o
nosso confrade do Instituto Histórico e Geográfico,
professor Wanderlino Arruda, pelo ex-prefeito de Montes Claros,
Athos Avelino Pereira, em solenidade oficial de que os dois
participavam.
Por
que furacão?
Ao
pé da letra, diríamos que o nosso personagem,
pela simples presença entre nós, é capaz
de provocar desarranjos fenomenais, alterando a ordem natural
das coisas, tal como nos acostumamos a entendê-las.
Em linguagem figurada, confirma-se o entendimento original,
ao perceber que a universalidade de seus conhecimentos, a
inquietude e a versatilidade, tudo acondicionado com embalagens
de empatia, pode gerar instabilidade ocasional em nossas acomodações.
Comecei a conhecer Wanderlino nos “bancos” da
pioneira FAFIL, quando fazíamos o curso de Letras,
ele um ano à minha frente.
Sempre
alegre e jovial, foi o que me bastou para aprender a admirá-lo
e respeitá-lo. O exercício de outras profissões,
além do magistério, hibernou o nosso relacionamento
durante um bom tempo. Aí aparece o Instituto Histórico,
para nos reunir sob o mesmo teto e com os mesmos anseios de
preservação da memória de Montes Claros.
Estava, portanto, consolidada a nossa amizade e fraternal
consideração.
Temos repetido, em algumas oportunidades, que não vale
a pena ficar discutindo com Wanderlino, nos raros momentos
de calmaria que com ele desfrutamos. Melhor é aproveitar
o tempo para ouvi-lo, em vez de querer impor os nossos improváveis
questionamentos. Pois bem, diante de tal premissa, vamos ouvir
Wanderlino, nesta mais recente obra de sua criação
literária, a que denomina “Montes-claridades”,
um compêndio de reflexões, sempre bem humoradas,
sobre entidades, pessoas, fatos e quejandos de nossa cidade.
Tive o privilégio de haurir, em primeira mão,
as presentes “bem -aventuranças” literárias
do autor, que nos evocam a memória de consagrados cronistas
de Montes Claros, tais como Nélson Viana, Luiz de Paula
e João Vale Maurício, para falar apenas dos
mais antigos. Pois Wanderlino ombreia com eles, na criteriosa
escolha dos temas, na leveza do texto e, sobretudo, na sutileza
de detalhes que conduzem ao epílogo bem arranjado nos
escaninhos da felicidade. Com ele, as palavras já saltam
sorrindo, para construir uma ficção à
sua imagem e semelhança. Não existe mau humor
e pessimismo em suas obras. E, nesse contexto, quem sai ganhando
é o leitor. Felizes somos nós, os premiados
com a leitura sempre edificante dos escritos de Wanderlino
Arruda.
JOSUÉ
DE OLIVEIRA LIMA
Nada
mais justo do que reconhecer e proclamar o valor de quem se
impõe com uma reserva de talento acumulado num arsenal
de inteligência como Wanderlino Arruda, jovem escritor
norte-mineiro, portador de uma gama de experiência e
capacidade de vida, autor de “Tempos de Montes Claros”,
editado em Belo Horizonte, livro que reúne documentação
memorialística, com o prefácio de Maria Ribeiro
Pires, da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais.
Nos
domínios do espírito e da espiritualidade os
“Tempos de Montes Claros”, de Wanderlino Arruda,
estão plenamente ajustados à teoria do tempo
cultural, aquele que difere do tempo calendário, isto
é, o que não conta os intervalos ocasionados
pelas dificuldades, pelos acidentes e pelos abrolhos da existência
humana. É o tempo do ideal e do idealismo, do espírito
e do espiritualismo, da sociedade e do socialismo, no bom
sentido do termo. É o tempo da alma e do corpo, do
céu e da terra, da vida e da eternidade, porque a morte
não conta na perspectiva do tempo cultural.
Toda
a carga emocional do homem de pensamento que é Wanderlino
Arruda está concentrada na sua biofilia, como alto
sentido da existência consagrada ao convívio
com o seu meio. As criaturas humanas são razões
fortes para a sua vida. A família, o trabalho, a cidade
em que nasceu, a terra que o acolheu, são os ingredientes
poéticos e líricos ainda não aproveitados
por Wanderlino Arruda, que preferiu os temas memorialistas
para dar vazão aos sentimentos de sua força
intelectual.
Posso
muito bem referir-me desse modo sobre o autor dos “Tempos
de Montes Claros” porque senti os primeiros impulsos
de sua intelectualidade, antes de Wanderlino Arruda tornar-se
Professor de Linguística e Língua Portuguesa,
na Fundação Norte-Mineira de Ensino Superior
e membro da Academia Montes-clarense de Letras, mas quando
já era o jovem redator de “O Jornal de Montes
Claros”, de Oswaldo Antunes, e depois de “O Diário
de Montes Claros”, com Waldir Sena Batista.
Ele
carrega no bojo do seu talento, algo parecido, também,
com Winston Churchill: gosto pela política, pela pintura,
jornalismo, oratória, pelas ciências e pelas
artes. Homem sem vícios, não fuma charuto, mas
está disposto sempre a fumar o cachimbo da paz com
seus semelhantes.
Nas duas leituras que fiz em torno do seu trabalho, uma rápida,
quando recebi o exemplar com sua amável dedicatória
e outra mais devagar, com senso analítico, pude sentir
novamente a presença de grandes figuras que conheci
na cidade tema do livro de Wanderlino Arruda: Godofredo Guedes
que me fez presente com duas telas de sua autoria, em 1958.
Konstantin Christoff, médico europeu aclimatado ao
Brasil, onde tem cultivado sementes de boa criatividade artística
e cultural. João Vale Maurício, escritor e membro
da Academia Montes-clarense de Letras, ex-Reitor da Universidade
Norte-Mineira, sociólogo e responsável por notável
contribuição cultural ao Estado de Minas Gerais.
Por fim, Luiz de Paula Ferreira, intelectual e homem de negócios
de notório valor.
No próprio dizer Wanderlino Arruda “julgar valores
humanos sempre foi uma tarefa difícil”. Por isso
não será necessário converter em tribunal
este espaço para julgamento cultural, inclusive porque
seria prematuro fazê-lo quando se sabe que o autor de
“Tempos de Montes Claros” poderá prestar,
ainda, excelente contribuição às letras
de sua terra, como bom memorialista da Língua Portuguesa
para o Brasil.
Gerente do Banco do Nordeste
Montes Claros, 1955/58
DÓRIS
ARAÚJO
O
confrade Wanderlino Arruda, professor, escritor, advogado,
pesquisador, jornalista, artista plástico, poeta, palestrante,
quase tudo em tempo integral, é homem de mil e um ofícios.
Entendendo
que o poeta seja um ser perplexo, um questionador, um ser
inquieto que usa as palavras com total imprevisibilidade,
atribuindo-lhes infinitas possibilidades de forma, de escuta,
de significado, e expandindo, com criatividade, sua paleta
de cores, acredito que a intenção primeira de
Wanderlino Arruda ao escrever é mesmo a de provocar
emoções, despertar sentimentos diversos, sensibilizar
seus leitores.
Seus versos, livres das peias da métrica e da rima,
são soberbamente melódicos, sonoros, envolventes.
No livro Vivências, que tive o prazer de fazer o prefácio,
o poeta pinta poesia com as pinceladas alegres, joviais e
sugestivas de seu viver apaixonado, oferecendo um primoroso
banquete, onde nos deliciamos com o sabor predominantemente
lírico dos seus versos. Nesse banquete, a principal
iguaria servida é o amor. Amor a Deus sobre todas as
coisas, amor à vida, à natureza, às pessoas,
a lugares.
Amor
a Olímpia Arruda, sua musa inspiradora, sua esposa,
mãe de seus filhos, avó de seus netos, bisavó
dos bisnetos americanos, Clara Star e Luca Moon. Olímpia,
a deusa morena, dona dos mais belos e verdejantes olhos. Em
sua homenagem é a maioria de seus poemas. Magnetizado
pelo “olhar de pura esmeralda” é que o
vate canta todas as cores e belezas do amor romântico
e sedutor. “Se o destino é o infinito, o caminho
tem que ser nas alturas!”
Wanderlino Arruda, como um ser espiritualizado, homem de muita
fé, certeza de Deus, a Ele entoa os mais sinceros louvores,
sem cheiro passadista, um domador de palavras no seu próprio
tempo. Sua tessitura poética é impregnada de
jovialidade, fluida, de bom perfume. É saborosa. É
saborosa como: “Chupar manga rosa no pé/Comer
pêssego maduro/e... sonhar acordado.” A poesia
de Wanderlino, em síntese, é o reflexo de si
mesmo, de suas vivências. Pura sinestesia, tem gosto
de nuvem, aroma de amor, verdadeira ambrosia. Como flecha
de cupido, acerta em cheio o nosso coração.
Amor-poesia ou poesia-amor, eis o que encontrarão os
seus leitores, nas páginas dos seus livros. São
textos que agradam aos ouvidos e
ao coração das pessoas sensíveis, que
pensam, que sentem com a alma, e que amam o belo e o bom.
DÁRIO
TEIXEIRA COTRIM
Por
tudo que conhecemos, podemos dizer que o acadêmico Wanderlino
Arruda, o mais importante dos mais importantes construtores
de Montes Claros, mostra, com doce encantamento, aos seus
brilhantes pares da Academia Montes-clarense de Letras um
trabalho sério, bonito, competente e totalmente necessário
às novas gerações no conhecimento dos
nossos valores intelectuais. Nota-se que “o único
lugar em que o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário”
e Wanderlino Arruda, sabiamente entende as palavras do genial
Albert Einstein, e trabalha com afinco e determinação
na construção da nossa comunidade. Aliás,
seu livro Construtores de Montes Claros representa o que de
melhor produziu a literatura montes-clarense nestes últimos
tempos. Ele é uma obra de fundamental importância
para o estudo da história da cidade e de sua gente.
Um livro que certamente estará em todas as estantes
de bibliotecas públicas e particulares, bem assim de
acadêmicos e estudiosos dos nossos costumes e das nossas
tradições históricas. Por conseguinte,
guardar esses nomes e preservá-los em livros para que
a memória do nosso povo possa perpetuar-se no tempo
e no espaço, é um dever de todos nós,
membros do Instituto Histórico e Geográfico
de Montes Claros e das Academias de Letras.
É sempre muito gratificante quando se fala dos escritos
de Wanderlino Arruda, corroborando com as suas ideias no âmbito
literário. Primeiro porque a sua verve poética
e a sua eloquência sempre são admiradas por aqueles
que o acompanham nas reuniões e nos saraus acadêmicos.
E, depois, pela sua criatividade literária, nas construções
dos prolegômenos em louvor de tudo que representa arte
e história.”
Para tudo o autor encontra, na douta língua do Lácio,
a expressão adequada e pitoresca para fazer os seus
elogios sobre o trabalho e a vida de quem ele acha que vale
a pena o ato de viver e agir, incluindo aí seus próprios
labores nos diversos períodos de sua vida. Não
tem senão que admirar-se da perfeição
de sua obra, uma oportunidade única para que o leitor
possa, também, conhecer o escritor poeta como ser humano
comum e mortal. Uma coisa é certa: ninguém como
Wanderlino Arruda manifestou em toda sua vida tanto amor por
Montes Claros. Nota-se, realmente, que o sentimento jucapratismo
faz morada, definitiva, no seu coração. Tudo,
uma lição de bem-querer tanto a terra como a
sua gente simples e humilde.
Prefaciando a obra, disse-nos Maria Ribeiro Pires que “Wanderlino
é o chegante, o novo elemento da constelação
de valores que a cidade amorosamente recebe como mãe
que ansiosamente espera o filho. Será que a tônica
do amor é que faz vibrar as cordas do coração,
que levaram o autor de Tempos de Montes Claros a escrever
as páginas que vão ficar na história
de nossa terra?”. Se outro motivo não houvesse
para sustentar essa nossa afirmativa, basta que o leitor atente
para a vasta biografia do autor e verificar ali o verdadeiro
exemplo de amor às causas nobres que ele, gentilmente,
nos oferece.
O autor Wanderlino Arruda é mineiro de São João
do Paraíso. Veio para Montes Claros quando ainda era
muito jovem e aqui reside com a família. É membro
efetivo da Academia Montes-clarense de Letras.
Uma análise sobre a obra literária “Emociones”,
do mestre das letras, Dr. Wanderlino Arruda, pressupõe
uma série de entendimentos na sistematização
da poesia e, evidentemente, nos princípios culturais
de nossa terra. É assim porque os escritos do nosso
confrade tendem a clarificar os pontos obscuros da nossa história
antiga e, por outro lado, a valorizar a biografia e a bibliografia
dos seus pares. Na verdade, Wanderlino Arruda é um
verdadeiro conhecedor das coisas de nossa terra e de nossa
gente. Em nenhum momento o leitor encontra um tipo de conduta
com o objetivo somente de coscuvilhar, senão o de contribuir
quer seja na Academia de Letras, quer seja no Instituto Histórico,
com sugestões e prefácios a pedido de seus confrades.
Constituirá quase um truísmo afirmar que a poesia
de Wanderlino Arruda é a mais bela, é a mais
romântica e é a mais admirada pela juventude
montes-clarense. O seu livro “Emociones” tornou-se
o mais procurado pelos cultores da poesia montes-clarense.
Com um modernismo-moderado, que é outro ponto positivo
nas construções literárias do autor,
tornou-se a sua prosódia muito mais adocicada.
Na
verdade, talento não lhe falta e a criatividade está
em cada verso que forma a sua poesia. De qualquer modo, está
ausente o metaforismo exacerbado, pois não há
palavras-chave, ou catalisadoras para designar objetos e pessoas.
Por essa razão a poesia de Wanderlino Arruda é
cristalina e sedutora.
Na verdade, o poeta sabe viver intensamente a arte de poetar,
sem deixar de ser o seu trabalho um manancial de elegância
e graça e da singeleza de conceber o que é bom.
Por isso mesmo os poemas de Wanderlino Arruda são maduros
e bem elaborados e que traduzem mensagens de otimismo e de
fé, haja vista a experiência literária
do autor no livro Poemas de Puro Amor. É verdade que
o seu trabalho literário sempre vem atrelado na eloquência
de um bom orador com a atormentada sensualidade das palavras
no balanço de sua imaginação. Ele sabe
como ninguém expressar, corretamente, e na hora
certa, a sua poesia com gosto da sonoridade na plena florescência
de sua mocidade.
Por outro lado, nunca se conheceu poemas de cunho social,
com a tendência para o romantismo gradual. Falar de
amor, os poemas de Wanderlino Arruda falam, e falam a todo
o momento. Falar de uma paixão amorosa, também
eles falam, pois é um tema constante de sua criação
e que é apreciado por todos nós.
Seus poemas que falam de fé, de amor e da compreensão
com a espontaneidade que a própria compreensão
assim exige. Nota-se que existem almas nos versos que compõem
os seus poemas e, nas palavras de seus versos, os que navegam
na voluptuosidade do tempo como quem procura o lado epicurista
da vida.
O
trabalho literário do emérito acadêmico
Wanderlino Arruda não tem limites. Hoje, os seus livros
já ultrapassam fronteiras. Em vários lugares
do planeta muitos deles enriquecem bibliotecas públicas
e privadas, quer seja na língua pátria, quer
seja no espanhol ou no inglês. É correto dizer
que as suas obras encantam meio-mundo literário não
só como guardiã e cultora da perfeição
estética, mas, sobretudo, como pólo difusor
da nossa cultura.
Aos leitores familiarizados com os livros de Wanderlino Arruda,
desnecessário é lembrá-los do conceito
que o autor goza na sociedade montes-clarense, pela qualidade
e pela importância de suas obras. Wanderlino é
o escritor que tem as letras no sangue e, certamente, sem
a literatura ele não conseguiria viver. Por tudo isso,
o autor passa agora a escrever em francês, inglês,
espanhol e esperanto. Aliás, a beleza de seus textos,
de modo que o leitor possa apreciar, em toda a plenitude,
é algo que impressiona os que são apaixonados
pela arte literária.
Em “Short Stories”, numa tradução
perfeita e fiel de William Lee Barnes, o escritor montes-clarense,
Wanderlino Arruda, conquistou uma parcela considerável
de leitores americanos, até porque ele esteve por várias
vezes nos Estados Unidos da América, onde residem dois
de seus filhos. Arruda é um homem do mundo. Pesquisador,
historiador, cronista, contista e acima de tudo poeta. E por
falar em poesia, o montes-clarense de São João
do Paraíso, Wanderlino Arruda, teve a sua poesia “J’adore
ta beauté” como tema central do filme “L’arnacoeur”
uma produção do cineasta francês Romain
Duris.
Isso posto, convidamos o leitor a percorrer as páginas
do seu livro, uma ou mais vezes, para assim poder deliciar
de suas histórias sobre a nossa terra brasileira na
língua dos yankees. O livro de Wanderlino Arruda é
de intensidade e densidade, haja vista que a sua escrita tem
o fascínio de João Valle Maurício e o
realismo de Cyro dos Anjos.
RIGOBERTO
GUILLERNO ESPINOSA PICHS
Por
uma feliz coincidência, durante a tradução
de EMOCIONES e ante a iminência de mais outra viagem
de - eterno e incansável peregrino – chegou a
Montes Claros, proveniente de Cuba, Vivian Martínez
Tabares, crítica teatral e diretora do Departamento
de Teatro da Casa de las Américas.
Não
casualmente e apesar da existência de bons hotéis
na cidade, a teatróloga preferiu hospedar-se na residência
de Wanderlino e Olímpia, aquela ilustre casa romana
da Rua São Sebastião, Bairro Todos os Santos.
Em apenas cinco dias, apesar do curto tempo para um curso
na Unimontes, para conhecer lugares e curiosidades de Montes
Claros, fez acontecer também fecundas e intensas jornadas
de prosas espontâneas e prazerosas entre nós
– incluindo o próprio Wanderlino – que
transformou o que poderia ser um tempo apenas agradável,
em ricos momentos de feliz proveito intelectual e histórico.
Vívian
quedou-se gratamente impressionada com a vitalidade e a pluralidade
de Wanderlino, qual um Da Vinci de nosso tempo. Admirou do
cálido anfitrião sua capacidade e sua energia
inesgotável: um entusiasmo que contrasta com sua madureza,
uma serenidade que não trai seu dinamismo constante,
uma experiência que lhe permite alcançar o belo
sem esforço aparente e sua invejável virtude
de saber otimizar o ouro que chamamos tempo, pois com sua
produtividade ímpar logra multiplicá-lo e fecundá-lo.
Ao deleitarmos com a leitura de seu livro Emociones, que era
a minha atividade naqueles dias, romperam-se as barreiras
poéticas. Não podíamos imaginar de onde
absorver tudo da sua escrita: se no que genericamente é
considerada poesia ou nos textos em prosa em que emergia um
universo poético capaz de desafiar a essência
e forma dos versos. Havia poesia até nos sentimentos
de perda de um tronco, de um gato, de um amigo, ou em um circo.
Nada está isento de poesia sobre todo pelo humanismo
de um Wanderlino que transparenta os mais puros sentimentos
de um homem que é fiel escudeiro da inteligência,
do esforço e da beleza. Possuidor de uma fina espiritualidade
por toda a vida, incluindo seus enigmas, suas aspirações,
suas contradições que lhe são inerentes.
De Wanderlino, uma galeria de personagens desfila por nossa
imaginação, no tempo e na conformação
do acontecido, guiada com a maestria do narrador por meio
de uma fantasia tão real que parece que se nos apresenta
como um novo amigo. Para comover-nos com gentes, feitos e
coisas que nos exigem desde o presente, e caminho dialético
até o futuro, que nos deixa morrer o passado. Interpelandonos
a fazer útil e significativa a memória de um
Brasil que para muitos é desconhecido, com sua história,
seus costumes, seu folclore. Porém não é
tudo isso a escrita de um intelectual importante, apesar de
verter em uma linguagem clara, sensível, amena, cômica,
mordaz
na maioria das ocasiões. Assim aparecem estes retratos
vivos, mais que meras biografias retóricas de artistas,
políticos, membros ilustres de famílias.
A natureza pródiga é o marco de Wanderlino em
crônicas e poesias, de onde se mesclam o rural e o urbano,
e seu universo de interinfluências em um lindo mosaico.
Mais que um quadro inerte se convertem em panorama vivo de
cenas bucólicas da modernidade com saudades do passado,
e fortes matizes da contemporaneidade e do presente. Instituições,
lugares, feitos, pessoas e estórias fluem em Wanderlino
como um rio que desemboca ao revés, nas costas sem
entranhas das Minas Gerais, no coração do leitor.
Wanderlino quebranta as fronteiras do mero autobiográfico
e incursiona de tal modo na vida amena que a faz palpitar
como algo nosso, algo bem íntimo, que nos encaminha
vivas lágrimas adentro. Também nos contagia
com a alegria e lembranças do circo, o que nos leva
a perguntar: Quem não teve um circo em sua infância,
que não vive em sua imaginação até
hoje? O autor nos devolve a infância, as brincadeiras,
as alegrias e as travessuras para quando hoje, ou amanhã,
formos adultos. As cores dos pintores, dos poetas, dos avós,
dos cantores, das vozes, o beijo, os olhares, as brisas, os
perfumes, as ruas, enfim tudo nos convida a que junto aos
nossos interessados diálogos sobre Wanderlino e suas
Emoções, desfrutem e descubram o inesgotável
universo poético de onde não queda um instante
a salvo de um encontro emotivo com o amor.
MEU
PAI, JOSÉ ARRUDA
Faço
contas nos minutos e horas da minha vida, revejo esmaecidas
ou vivas imagens, tento magnificar pequenos acontecimentos
e, pronto, a figura de José Arruda, meu pai, se põe
sonora e colorida à minha frente. Convivência
de várias décadas, disciplina rígida
no início, amenos conselhos em meio e fim de vida,
sempre marcante influência. Mais do que tudo um rigoroso
exemplo de honestidade a qualquer tempo, seja em temporada
de quase opulência, seja nas dobras do passar de tempos
em adversidade. Era um viajante faminto de estradas, sempre
saindo e chegando: a cavalo, em fordinhos, em caminhonetes
e caminhões, em velhas jardineiras ou em ônibus
já quase modernos.
Lembranças mais antigas? Ele com um bule esmaltado
azul, despejando o café num copo grandão, também
esmaltado e de asa. Com o café, comia alegremente biscoito
fofão, rosca caseira e o cuscuz que Silvina tinha de
levantar bem cedo para fazer. Nos dias de frio ou de chuva,
saia do quarto já com uma capa colonial pesadona, tão comprida que passava dos joelhos. Aos sábados,
atrás do balcão da loja sortida de tudo, atendia
os fregueses, vestindo um casaco de pijama, que achava a coisa
mais chique do mundo. Lembro-me até da cor, um cinza
esverdeado com desenhos em relevo, um bolso para caneta e
lápis e dois outros para as tesouras. Nem no horário
do
almoço parava de vender. De cada amigo que atendia
havia estórias para ouvir e contar. Aprendi ali as
minhas primeiras lições de vida. Como morávamos
em frente ao mercado, dava para ver até o fim da tarde,
a feira cheia de carros de bois e de cavalos com cangalhas
sem bruacas, segundo se dizia a mais rica da região.
Homem em tudo avançado no tempo, minerador de pedras
e pepitas de ouro nos garimpos da redondeza, descobria também
todas as novidades que São João do Paraíso
nem podia sonhar. Já em 1938, meu pai tinha máquina
de escrever, geladeira a querosene, lampião Aladim,
aparelhos de gilete, uísque Cavalo Branco, casimira
Aurora, camisa de colarinho trubenizado, barbeadores com gilete
já cortando dos dois lados. Quando de folga, lia em
voz alta um livro de geografia com perguntas e respostas e
ouvia um rádio de bateria, que fazia mais ruído
que uma noite de tempestade. Em 1942, quando fui para a escola
do professor Joaquim Rolla, todo o meu material escolar, inclusive
a ardósia, era importado, com o “made in Germany”
ou “made in England” me dando agradável
sensação de importância, compensando até
a minha pouca habilidade no mergulho no rio e nas bolinhas
de gude.
Claro que as invenções do senhor José
Arruda não ficavam só nos objetos de consumo
e exibição. Era comprador e vendedor de peças
de ouro, pedras preciosas, moedas, velhos relógios
de parede, desenhos de nanquim, todo tipo de relíquias
e quinquilharias, incluindo aí punhais de bronze e
de prata. Foi minucioso o seu planejamento e realização
da nossa primeira viagem de turismo: preparou, com absoluto
conforto e decoração, um enorme carro de bois,
com um guia andando a pé, que nos levou – ele,
minha mãe, Nair, Derci e eu – para uma visita
a Condeúba, na Bahia, onde ficamos hospedados numa
casa de três moças muito bonitas e de fino trato.
Foi lá que minhas irmãs e eu experimentamos
pela primeira vez o gosto de azeitona e leite condensado…
Pelo menos duas vezes por ano, fazíamos viagens às
fazendas dos velhos Vicente Arruda e João Morais, quando
nossas avós Senhorinha e Ritinha se desdobravam em
ordens para o capricho das cozinheiras no fogão a lenha
e no forno. Para as visitas a melhor galinha ao molho pardo
e o melhor bolo de farinha de trigo ou de mandioca puba, coco
ralado por cima.
Quando moramos em Coqueiros, foi grande a sua luta para que
eu aprendesse a tocar cavaquinho. Chegou a contratar um professor
particular com várias horas de aula por dia. Mas não
passei da primeira posição, aquela em que a
gente firma as cordas com os dedos da mão esquerda
e sacode os da direita para tirar os sons do “besta
-é-tu”. Valeu, porque aprendi o do, ré,
mi, fá, sol, lá, si, tornando-me quase um intelectual
em música. Foi voltando de Coqueiros para o São
João, em 1941, que vimos e ouvimos passar o primeiro
avião, um barulho de assombrar todo tipo de viventes.
A notícia que correu depois é que haviam morrido
duas pessoas: um rapaz correndo de medo, caiu numa cisterna,
e uma velhinha que, assando biscoitos, resolveu se esconder
dentro do forno em brasa. Duas vítimas do progresso
dos tempos de guerra…
Agradeço
muito a meu pai por todo tempo de convivência direta
e indireta: das jabuticabeiras que ele arrematava para a gente
chupar jabuticabas até ficar entupidos, dos balaios
de marmelo maduros e cheirosos que trazia das viagens ou comprava
na feira, das casas com quintais grandes que ele comprava
para vivermos divertindo. Agradeço mais ainda dos seus
sonhos de conhecer mundos distantes, tão bem transmitidos
aos filhos que hoje realizam o que ele não pôde
realizar!
DONA
ANÁLIA MORAIS, MINHA MÃE
Filha
de João Morais e Ritinha, que era neta de índia,
era natural do vale do Rio Pardo e crescida em travessias,
tão boa em natação que carregava os filhos
nas costas sem qualquer sacrifício. Os filhos e a cesta
do almoço que ela levada, com rodilha na cabeça,
para os trabalhadores do outro lado do rio. Sempre jovial,
de menina a moça, considerava-se campeã de danças
para qualquer toque, a exemplos das cinco irmãs e quatro
irmãos, só gente entusiasmada, porque viver
é demonstrar alegria no descanso e no trabalho. O pai,
homem de músicas e cantorias, a mãe, gerente
em todas as ações, da cozinha ao pomar, do bater
roupas no rio ao cuidar das hortas, tudo escola para futuros
administradores dos negócios e das famílias.
Nunca
vi minha mãe parada, a não ser nas de horas
de rezar com o terço azul esmeralda, as contas passando
devagarinho pelos dedos acredito até calejados. Cada
dia de vida começava com a fumaça do cuscuz
e o crepitar da lenha no fogão do café e no
forno com os biscoitos. Chegado o leite do curral, era parte
para a leiteira, parte para a despensa, destinado aos queijos,
aos requeijões, aos doces caramelados com a maior gostosura
do mundo, que só mineiro sabe fazer e guardar. Dona
Anália sabia cozinhar, assar, costurar, bordar, fazer
rendas para qualquer tipo de enfeites, mestra de belezas em
enxovais ou coisas do dia a dia. Lindas as suas toalhas, bonitonas
as colchas, importantes as blusas e os chales. Para as horas
da missa de domingo, até as fitas que ela ajeitava
eram chamativas, maravilhosas de causar inveja.
Dona Anália sabia ser amiga em todas as horas, cuidando
de visitar e receber visitas, de amar e ser amada, admirar
e ser admirada. Muita a sua simplicidade, sorrisos contidos,
fala moderada, o olhar sempre direto nos olhos das pessoas,
nunca muito alto por não ser arrogante, nunca tão
baixo, porque jamais tímida. A forma que ela tinha
mais no ser gentil era dar alguma coisa de comer e apreciar
às pessoas, principalmente aos filhos e netos. Era
chegar a sua casa e só esperar um pouquinho, lá
vinha um biscoito cozido e assado, um beiju, um pedaço
de bolo, uma canjica, um manuê, um pão sovado,
tudo feito por suas habilidosas mãos. Parece até
que ela achava que a gente mastigando e engolindo, realizava
a alegria da vida e do amor. Tudo parecia que era feito só
para nós, presente especial guardado para marcar presença.
Nunca
ouvi minha mãe cantando, que cantar nunca foi vocação
da família. Jamais a vi solfejando ou assoviando. Jamais
a vi em riso alto ou solto, pois de satisfação
contida, educada, nos bons costumes. Sua alegria, sem tocar
nas pessoas, era marcada só por um leve sorriso, um
brilho intenso nos olhos e no jeito de olhar. Nunca a ouvi
dizer que alguém não prestava, que era ruim,
pois sabia encontrar qualidades em todas as criaturas. Assim,
não me consta ter tido qualquer inimigo, alguém
contrário aos seus interesses. Desejo de ser rica?
Não e não, queria apenas ter o necessário
para viver com certa fartura e segurança, o apropriado
para criar bem a sua dúzia de filhos, muito embora
só nove sobreviventes. Enfim, Dona Anália, uma
grande, legítima e importante mulher mineira e brasileira!
Minha querida, Dona Anália Morais, quero dizer-lhe
o que honestamente todos os filhos e filhas deveriam pensar
e dizer de suas mães, mulheres criadas por Deus para
dar sentido à vida e à luz do Amor, a verdadeira
poesia da Criação. Os parágrafos seguintes,
escrevi-os em forma poesia, agora transformados em prosa.
Acho que são perfeitamente válidos para um amor
de mãe. Ei-los:
Amarás e servirás incessantemente, todos os
dias da tua vida, eis o teu poder, a tua convicção,
o teu trabalho santificado. Os teus gestos serão sempre
movimentos de encanto, busca de paz, homenagens sinceras a
Deus por ter permitido a vida a ti mesma e a teu filho, a
tua filha, a todos os teus filhos, pedaços ou amplitudes
do teu corpo e da tua alma... Amarás, mãe, os
minutos e os segundos e tempo jamais te faltará em
busca dos mais santos carinhos com que envolverás o
fruto do teu amor. E maternidade, mãe, não precisa
que seja do teu próprio ventre, célula da tua
célula, porque ser mãe é passar pelo
caminho da vida, oferecendo dádivas do amor e da fé,
o melhor que exista no coração.
Ser mãe é passar com rastro fulgurante em cendal
de estrelas, envolvendo em luz as trajetórias dos seres
que lhes são entregues para cuidado e burilamento.
Ser mãe é sofrer amorosamente, é sorrir
na complacência, é sonhar com a esperança.
Nenhuma tarefa é mais dignificante do que a de mãe,
pois, em sua vida, dificuldade é ensino, problema é
lição, sofrimento é bênção,
tudo é alicerce divino na construção
do bem. Ser mãe é transmudar-se em bálsamo
de bom entendimento, é ter a vida dos anjos, é
esparzir misericórdia em nome do que há de mais
sagrado no amor. Ser mãe é curar o cansaço,
é amenizar a própria existência.
Filhos de todo o mundo reverenciai, hoje, as vossas mães.
Elas são seres insubstituíveis, tesouros inestimáveis,
maravilhas da criação. A elas, joias do mais
fino labor de Deus, o nosso amor!
Há um bom tempo no Mundo Espiritual, desejo-lhe, querida
e amada Dona Anália, todas as luzes mais bonitas e
coloridas da Criação Divina. Pelo muito merecimento!
SILVINA
MELANA, SEGUNDA MÃE
Já
na minha experiência de cinco dias de vida, na praça
do Mercado em São João do Paraíso, Silvina
chegou para ficar e fazer parte da família até
que deixou este mundo. Uma vida inteira de verdadeiro amor
e dedicação a todos. Tratava minha mãe
de Anália, meu pai de Compadre Zeca, a todos pelo nome:
Alaíde, Nilza, que morreram criancinhas, e depois Nair,
Dercy, Jurandi, Vilmar, Zildete, Deldi, Dalvany e Olwanda,
Os outros, pelo apelido de criança ou da vida toda:
Wandinho, que sou eu, Diquinha, Dalva, Dica, Deda, Wandinha.
Nair, às vezes em Nai, e Jurandi, Jura. Meu nome para
ela só passou do de batismo depois da minha matrícula
na escola, mesmo com algumas mudanças, porque em Salinas,
eu era Wander; e em Taiobeiras, Arrudinha. O nome dela sempre
Silvina para todos, só Diquinha e Dalvany a chamavam
Silva.
Silvina foi fazer parte da nossa família quando desistiu
do marido que fora para São Paulo e nunca mais deu
notícia. Tendo só uma filha, deixou-a com uma
parenta, e aceitou o convite de Dona Anália, que tinha na época dezoito anos, número da minha
diferença de idade com ela. Casou-se com treze, e eu
só vim nascer cinco anos depois, ela praticamente sem
experiência de lavar e limpar menino. Aí, Silvina
chegou para cuidar de tudo, da casa e do filho. Começando
por mim, toda a filharada dormia no mesmo quarto que Silvina.
Ela carregava e lavava os urinóis, dava banho, vestia
as roupas, penteava os cabelos, dava os remédios, ensinava
a rezar, dava verdadeiras aulas de religião, pois sabia
quase tudo de bíblia. Aprendemos a comer pelas mãos
dela, que adorava fazer capitão e colocar na boca de
cada um. Nunca nos deixou esconder carne debaixo do angu,
nem comer com uma colher maior do que as dos outros, porque
saber viver honestamente era coisa séria. Sabia muito
da história hebraica e cristã, porque, criancinha
na casa de um parente (Clemente Batista), ele lia a Bíblia
em voz alta e gostava de comentar tudo para que todos guardassem
na memória. E Silvina guardou tudo na consciência
e no coração, tornando-se assim uma competente
professora de fé, de uma didática que nunca
esquecemos, principalmente Nair e eu, os mais velhos.
As
roupas dela foram sempre diferentes, preferindo um tipo de
saia comprida com franzidos e pregas, além de um babado
na barra. A blusa sempre branca, que ela chamava de camisa
de morim ou de americano, conforme o tecido. As saias podiam
ser de qualquer cor, quase sempre escuras, de um só
tom, que podiam ser pintadas com tintol em água fervendo.
As blusas, com gola arredondada, eram embelezadas com rendas
de vários modelos, que ela mesma fazia na almofada
de bilros. Para ir às missas, aos domingos, só
serviam as saias e camisas consideradas novas, pois tinha
que ser roupa de ver Deus. Depois de lavadas com sabão
feito por ela mesma, com óleo de
mamona, passava tudo com o ferro de brasas, soprado de tempo
em tempo. A verdadeira festa era fazer as rendas, quando ela
batia os bilros uns nos outros, como se fosse uma dança
mágica, enquanto cantava músicas da igreja.
Claro, que a meninada ficava toda ao redor, acompanhando e
admirando tanta habilidade. Um encanto quase divino e inesquecível!
Silvina sabia também muitas histórias de reis
e rainhas, príncipes e princesas, capitães valentes
que defendiam os palácios com espadas e bengalas, todos
vestidos com muitos enfeites, engalanados para dar mais força
e autoridade. Os banquetes, nos palácios, eram sempre
com carne de caças ou peixes que vinham de longe, um
mar tão distante que ela nem sabia onde ficava.
As maiores autoridades eram sempre os bispos e cardeais, cada
qual mais cheio de pompa, de forma a representar Deus Nosso
Senhor e impor mais fé e disciplina. Em verdade, Silvina
consciente da própria humildade e de muito respeito
religioso, não tinha qualquer dúvida de não
ir diretamente para o céu e ver São Pedro guardando
a porta, deixando entrar só as almas boas. Dizia ela
que nem precisava passar para o lado de dentro, bastando só
ficar atrás da porta, vendo os anjos cantarem e os
santos rezando terços e rosários. Lá
de vez em quando, uma alma boa e caridosa passaria pela peneira
fina de São Pedro. No céu, a reza era a água
e o alimento de todos, fosse dia ou fosse noite.
Todos os filhos da casa consideravam ter duas mães,
a que permitiu a vida, Dona Anália, e a que conservava
a vida com o maior carinho, Silvina Melana. Dona Anália
sempre presente, quase uma santa; Silvina, uma santa de verdade,
com todos os direitos e privilégios
de inquilina celeste. Um lindo paraíso, colorido e
cheio de fitas de seda, plenitude de luzes e suaves músicas
apropriadas para a eternidade. Grande Silvina!
Foi em homenagem a Silvina que Patrícia minha sobrinha,
filha de Nair e Manoel, teve na pia de batismo e no cartório
o nome de Patrícia Melana, o que muito agradecemos
e pelo que nos sentimos soberanamente honrados. Para Silvina,
o lugar mais bonito da criação divina tem que
ser o céu. O verdadeiro lugar dela!
DENTRO
E FORA DE CASA
O
dia era o de comemorar a Inconfidência Mineira, o horário
já era o da noite, mas o que marca mesmo a minha lembrança
é de meu pai ter colocado na mesa da sala um lampião
que não era o Aladim, pois de luz bem menos intensa.
Antes, Silvina já estava atarefada na ferveção
de água, com aquele tanto de lenha para ter mais fogo
e atender à pressa. Enquanto as brasas do fogão
estalavam, ela caprichava no arranjo de uns panos brancos,
parecidos com lençóis pequenos. Do lado de fora
do quarto do casal, já eram escutados os gemidos e
até a respiração ofegante de D. Anália,
quase o mesmo que eu ouvira de vezes anteriores quando estavam
para nascer Alaíde e Nilza que como era dito na época,
não chegaram a vingar, morrendo bem pequenas, aquilo
do por e dispor de Deus, Ele dá e Ele tira. A azáfama
daquela noite era o trailer para a chegada de Nair, naquele
momento a minha terceira irmã. E não deve ter
sido tão fácil, porque só a parteira
Conceição não deu conta, precisando da
vinda do vizinho, dr. Osório para resolver a situação.
Quando foi ouvido o choro da recém-nascida, meu pai
deu “graças a Deus” e eu fiquei muito alegre,
pois já não estava mais sozinho como único
filho da casa. Terminado tudo a contento, meu pai perguntou
quanto ele tinha que pagar e o dr. Osório respondeu:
- O preço é dar a menina para Benzinha e eu
batizarmos. Mas primeiro é preciso aguardar a vinda
do padre Horácio.
Como
gosto muito de saber e falar da idade das pessoas, vou logo
avisando que era um 21 de abril de 1941, quando eu contava
pouco mais de seis anos e já sabia tudo de tabuada
e muita coisa de geografia, ensinados pelo meu primo Deoclides.
O nascimento de Nair – uma menininha bem bonita - foi
a maior alegria e motivo de muito café com leite, pães
sovados, broa, manuê, roscas e biscoitos, tudo feito
e assado antes do café da tarde.
Outras memórias passam pelas visitas à casa
de tia Raquel, quase vizinha, de um dos lados da praça,
calçada muito alta e ainda dois degraus na frente da
porta. Ela era irmã da minha avó Ritinha, baianas
e netas de uma índia, que diziam ter sido pegada de
cachorro. Eu gostava tanto dela, que não podia passar
um só dia sem ir à sua casa, praticamente uma
obrigação. Outro foco bem claro é o da
realidade da loja, meu pai vestindo um pijama listado, com
botões vistosos e alamares na gola e nas mangas. Nas
prateleiras os brins, as sedas, as chitas, os morins e os
americanos, não posso esquecer dos sapatos, dos chapéus
e das caixas de linhas e de aviamentos. Debaixo do balcão,
as caixas de marmelada, os pães sovados, as roscas
e os biscoitos espremidos e fofões, um dia ou outro,
até bolo de puba, tudo indústria de D. Anália,
pois o trabalho de Silvina era cuidar do quintal e da cozinha,
dar banho e comida às crianças. Na seca de trinta
e nove, quando chegavam os pedidores de esmola, eu pegava
escondido um pouco de cada coisa, principalmente pães,
para dar a eles. Mamãe reclamava da quantidade e dizia
para não exagerar, porque senão eu acabava com
tudo.
No desfile das lembranças, o quarto de hóspedes,
em que meu pai mantinha uma mesa de gaveta com chave, onde
ele guardava as coisas pequenas e importantes, por exemplo,
a valete, a gilete, o livro de
geografia e umas folhas de papel com rezas para segurar o
fogo até os aceiros, evitar quebrantos e mau olhados,
além das apropriadas para curar cobrelos e bicheiras.
No quarto, mamãe guardava as latas de querosene cheias
de leite e os melhores biscoitos destinados às visitas.
Um dia, não sei como e nem porque, virei uma dessas
latas e o leite derramou. Com medo de apanhar, corri ao quintal,
peguei um gato e soltei lá dentro, deixando-o como
responsável por minha malinesa. Como passatempo, construía
nos dias de sol, casinhas de barro e ainda colocava, na frente
e atrás delas, banquinhos e jiraus destinados às
flores. Lembro-me como se fosse hoje de uma família
de protestantes que mudou para o São João, morando
na última casa da parte baixa da praça. De longe,
parecia serem brancos demais, talvez por permanecer muito
tempo dentro de casa. Curioso e interessado em saber das coisas,
fui lá fazer uma visita, mais do que bem recebido,
principalmente pelos filhos pequenos. Antes das despedidas,
deram-me vários folhetos com mensagens da religião
deles. Minha felicidade foi só até chegar lá
em casa, porque quando eu disse de onde vinha e que gostara
muito da religião deles, mamãe e Silvina, a
uma só voz, mandaram-me jogar tudo em cima das brasas
do fogão:
- Cuidado e juízo, menino, pegar nisso é pecado
mortal. Livra logo de tudo e nunca mais volta lá, nunca
mais!
Outro dia importante, foi a tarde da fotografia, depois de
banho demorado e de vestir roupas novas e calçar meias
e sapatos novinhos. Maravilha ficar fazendo caras de inteligente
na frente da caixa escura do fotógrafo Marcelino, coberta
com dois panos pretos, afastados para enfiar a cabeça
e ver a gente de cabeça para baixo. Nair, Dercy e eu
demos o primeiro passo para fixar uma imagem de eternidade.
Foto única, primeira e última tirada na terra
natal. Pouco tempo depois, mudamos para Salinas. Por falar
em banho, acho importante dizer que ainda não estava
na época dos chuveiros. A lavação de
pé e cabeça era em uma bacia grande, com água
esquentada na trempe, sabão do reino, toalha feita
com pano fornido, aproveitando saco de farinha de trigo. Quando
criávamos algum caso, chorando, D. Anália dava
a corrigenda com um chinelo de pano, que punia sem fazer barulho.
Um caleidoscópio de visões da infância
projeta as brincadeiras de roda, as galinhas no terreiro,
as arapucas, os quebras, as plantas para remédio, o
pilão de madeira, a umburana queimada em cachaça,
os purgantes de óleo de rícino, o café
torrado, as vagens de feijão no chão para secar,
os pés de milho. Quinze dias antes do nascimento dos
bebês, as galinhas ficavam isoladas em um poleiro especial,
porque precisavam estar limpas para o pirão de mulher
parida. Fase melhor não havia, desde cedo à
espera da gostosura:
- Fiquem perto de sua mãe, que ela deixa vocês
comerem do pirão. O mais velho pode até pegar
o ganhador ou a coxa, que é a parte que tem mais carne.
Ou o pescoço e a costela que pegam mais tempero!
JOÃO
MORAIS, MEU AVÔ
Foto: Abílio
Morais
De
todas as pessoas que tenho conhecido mais de perto, o velho
João Morais, meu avô, parece ter sido o único
homem a viver oitenta e muitos anos de alegria em tempo integral.
Era assim como se tivesse carteira assinada numa firma de
felicidade, com todos os direitos, menos o de ficar triste
e de deixar de ser alegre. Era, não tenho dúvida,
como um papai Noel de ano inteiro, a distribuir presentes
de fraternidade a todas as criaturas. Fazia ele da convivência
de todos os dias um painel harmonioso e de rica sabedoria.
Conheci-o desde os meus primeiros anos, em sua fazenda perto
de Salinas, numa casa sede que ficava rodeada de pomar e jardim,
entre o “Ribeirão”, de águas cristalinas,
e a estrada principal, onde ninguém tinha direito de
passar sem uma visita ainda que ligeira. Ali, cada visitante
era recebido prazerosamente e, depois dos cumprimentos de
praxe, levado para lavar a poeira do rosto, tomar café-com-leite
e biscoitos de tapioca e participar de uma gostosa conversa.
Sabendo dividir bem as horas de trabalho nas pastagens e na
lavoura, vivia animadamente para o trato com as pessoas, contando
estórias, relatando casos, recriando-os com enternecedora
vontade de transmitir felicidade.
Vovô foi, acima de tudo, um homem bom, o leme para muita
gente neste mundo, que aprendeu com ele a andar no caminho
certo, pois conselheiro melhor não havia naquele pequeno
grande sertão entre Rio Pardo e Salinas. Era um velho
forte e musculoso, vermelho como um europeu, e tinha os cabelos
brancos e fartos, que lhe davam um ar de juventude bem conservada
e um enorme halo de simpatia. Quando eu era pequeno, pensava
que sua cabeça havia embranquecido pelo rigor do sol
dos canaviais, onde trabalhou até poucos dias antes
de morrer. Eu achava que ele tinha vindo aprimorar o mundo
e as criaturas, num esforço de nunca parar, pois nem
a doença que o acompanhou anos a fio o modificou em
seus hábitos de homem feliz. Vi-o, muitas vezes, voltando
à tardinha, enxada ao
ombro, embornal pendurado no pescoço, sorriso de ponta
a ponta, a cantarolar algumas de nossas modinhas prediletas.
Todas
as noites, após o jantar com toda a família
- ninguém podia faltar - deitava-se numa rede amarelecida
de tanto uso, e o antigo violão passava a centralizar
as atenções, numa suave evocação
de lembranças e saudades, que só terminava bem
tarde, quando o cansaço vencia e todos iam dormir.
João Morais, meu avô, nasceu bem longe, na velha
Bahia, pelas bandas de Caetité, creio, num dia de festa
até da natureza. Desde rapaz, tropeiro de profissão,
viveu a vida dos campos e das estradas, dormindo ao relento,
comendo feijoadas com rapadura e farinha de mandioca, e respirando
o sereno de todas as madrugadas. Ele mesmo contava que foi
naquele tempo
que conheceu uma moça morena e bonita chamada Ritinha,
neta de índios, de quem, seis meses depois do primeiro
encontro, ficou noivo, e com quem, um ano mais tarde, se casou.
E foi vendo a casa cada vez mais cheia de filhos e netos,
fazendo e refazendo festas, que viveram mais de meio século
em harmonia muito perfeita. Não assisti, mas dizem
que ele morreu conversando e sorrindo, como costumava fazer
durante todos os dias da vida, pedindo a todos para não
chorar ou sentir tristeza. Embora sertanejo e de poucas letras,
foi um romancista verbal, narrador inigualável, desenhista
de perfeitos quadrinhos existenciais de humanismo puro e sincero.
Na verdade, meu avô tinha uma experiência de vida,
uma habilidade diplomática, uma riqueza de inteligência
e bondade, dignas de muita admiração. Ninguém
que o conheceu deixa de dizer que ele era um velho alegre
e agradável, verdadeiro construtor de amizade, sempre
ouvido com interesse e prazer.
SÃO
JOÃO DO PARAÍSO
As
casas do doutor Osório e a nossa, assim como a farmácia
e a loja, ficavam na parte mais alta da praça, bem
em frente ao mercado grandão e bonito. Ao lado da farmácia,
ficava o consultório médico, todas as janelas
de vidro, um luxo para a época, porque todas as outras
da futura cidade eram de madeira, folhas duplas, com trava
e ferrolho. Minhas lembranças de menino, acredito aos
três anos, vêm de meu pai ajudando doutor Osório
em um encanamento de perna de um tropeiro que havia caído
e quebrado um osso num buraco de enxurrada na rua do cemitério,
entre a esquina de Américo e a loja do meu padrinho
Antônio Pena. Tanto o médico como meu pai vestiam
roupas brancas, naquele momento um pouco respingadas de sangue.
Sei que a higiene era bem cuidada, porque meu pai levou foi
muito tempo para lavar as mãos numa bacia esmaltada,
cheia de água quente que minha mãe fervera.
Como era dia de sábado, o barulhão da feira
não deixava ouvir os gemidos do pobre sofredor, que
teve endireitada a perna com pedaços de ripa e imobilização
com arames. Não entendi por que, mas antes de despedi-lo,
doutor Osório deu nele uma injeção, para
mim com olhos de menino, do tamanho de um cano de foguete.
Meu pai saiu feliz da vida, porque ajudara o compadre médico,
que ele admirava e gostava de prestar ajuda. O jovem Osório
Adrião da Rocha, de família rica, saiu cedo
de São João do Paraíso para estudar em
Belo Horizonte, do final de curso primário até
os preparatórios e o primeiro ano da Faculdade de Medicina.
Como São Salvador tinha uma universidade quase mais
famosa que as do Rio e de São Paulo, achou melhor mudar-se
para lá, de onde voltou com o canudo de médico
e nota dez no doutorado. Sempre foi um profissional respeitadíssimo
da formatura até os cento e quatro anos de vida.
As lojas principais de São João eram as de Antônio
Pena, Manoel Messias, Jose Dutra e do meu pai José
Arruda. Nelas de tudo era vendido: tricolines, sedas, chitas,
alvejados, brins, linhos, chapéus, calçados,
capas, guarda-chuvas, galochas, lenços, meias, gravatas,
linhas para bordados e para costuras, aviamentos para costureiras
e para alfaiates, até urinóis e escarradeiras.
Nenhuma delas tinha empregados, só gente da família.
Na de Manoel Messias, o vendedor principal era Alcides, meu
colega de escola. Na de papai, eu ajudava mostrando aos fregueses
os carritéis e os traques. As
vendas e bitacas eram em número maior e com balcão
menos limpo, principalmente pela presença do fumo de
rolo, dos copos de cachaça e das latas de querosene.
Do lado de dentro e de fora, os sacos de farinha, de arroz
com casca e os marmelos e raízes de mandioca. As mais
importantes eram as de Altino, de João de Bita, pai
de Eli e de Cristóvão, meus colegas, e de Américo,
na casa onde eu nasci. Na praça havia ainda o gabinete
de Tião Dentista - mais tarde prefeitura - as residências
de Honorino Rocha, pai de Ludércio; de Afonso Batista,
pai de Clemente e de Doutor Osório e D. Benzinha, avô
dos meus colegas Ildeu, Osmar e Dorinha. Na parte de baixo,
lembro-me bem da casona de Claudionor Almeida, pai de Regina,
hoje querida confreira no Instituto Histórico e Geográfico
de Minas Gerais e colega em muitas leituras da vida.
Era
no centro da praça que os fereiros da roça amarravam
cavalos e bois e meu padrinho Antônio Pena realizava
as cavalhadas, a dança de trança-fitas e o teatro
de rua. Num deles, fiz o papel de filho de Otacione, que atuava
como um fazendeiro rico e poderoso. Era também no meio
da praça, que a meninada pulava corda, brincava com
bolinhas de gude, jogava futebol com bola de pano e as companhias
armavam os circos, para onde todo mundo tinha que levar as
cadeiras. Foi imitando um salto mortal de um trapezista palhaço,
que ralei o nariz e dei o maior trabalho a Silvina e D. Anália,
minha mãe, por uma semana de curativos. Levou anos
para acabar a vermelhidão. Como a praça ficava
num alto, era uma maravilha contemplar o verde dos canaviais
localizados depois do rio, onde havia um engenho, uma fábrica
de rapadura e de marmelada, além de um alambique de
fazer cachaça, tudo pertencente a Clemente Batista.
Um panorama de verdadeiro luxo, que a geração
mais nova não pôde conhecer!
Volto aos moradores da praça do mercado, porque foram
eles, os seus nomes, os seus jeitos de ser que marcaram a
minha infância, a forma em que comecei a ver o mundo
e todas as suas injunções. Artur Trancoso, por
exemplo, foi um quase vizinho de que nunca me esqueci. Filho
do major Pedro de Almeida, morava na esquina, ao lado da casa
de D. Elvira, mãe de Regina. Será que era importante
porque gostava de violão e tocava muito bem, chegando
a atrair os rapazes para as farras? Para mim, ele era realmente
um sucesso de vida, tanto que depois de ser secretário
da prefeitura por convite do doutor Osório, chegou
ao cargo de prefeito em 1951, mesmo ano que cheguei para trabalhar
e estudar em Montes Claros. Outra pessoa que aviva a minha
lembrança é o de Dionísio Santos, o primeiro
escrivão do Cartório de Registro Civil, que
fazia todos os registros e
escrituras totalmente manuscritos em folhas de papel almaço,
letra perfeitamente legível, caprichada, tudo a bico
de pena, com tinta, tinteiro e mata-borrão. A minha
certidão de nascimento, feita por ele, data de 8 de
setembro de 1934, sem nada impresso, tudo à mão.
Foi sucedido por Antônio Capuchinho em 1938, segundo
muitas opiniões, com caligrafia ainda melhor. Antônio
Capuchinho foi chefe de uma grande família, além
de irmão de José Capuchinho, pai de Otacione,
Miro e Leonídio, um rapaz bonitão e inteligente
que se casou com D. Adelina, primeira professora na escola
pública, famosa pela boniteza e ainda mais pela competência
e dedicação e bons jeitos de ensinar. Foi sucedida
por Cleide, que morreu nova, com pouco mais de 26 anos e por
Sílvia Capuchinho, uma mestra inesquecível.
MEMÓRIAS
Tenho
que agradecer muito a Dorinha – Maria das Dores Batista
Rocha – amiga e conterrânea de memória
incrível, por me levar diretamente ao colorido e aos
sons de muitas lembranças. Ela não esquece um
nome sequer e os sabe por inteiro, a composição
de cada família, até os apelidos. Quando eu
lhe falei do nome de Artur Trancoso, foi um desfile de informações,
um mundo de comentários, muitos e muitos detalhes interessantes,
até o de que a sua casa e consultório formaram,
mais tarde, o prédio da prefeitura. Ao pronunciar o
nome de Lauro Santana, meu colega de escola sempre próximo
- que uma vez furei o braço com um golpe de caneta
- ela reviveu um universo mágico de lembranças,
pronunciando o apelido da mãe dele, D. Lió,
mais do que amiga de D. Anália, minha mãe, e
de Silvina, esta que me criou e ajudou a criar todos os meus
irmãos, pois foi morar lá em casa quando eu
tinha apenas cinco dias de nascido. Falei com Dorinha das
enormes jaqueiras de nosso quintal, pensando que era na esquina
da praça, começo da rua que vai para a igreja,
mas ela logo me corrigiu, dizendo que era ao lado da casa
dela, um terreno enorme com muitas árvores e balanços,
canteiro de hortas e rocinha de milho, poleiro de galinhas
chefiadas por um capão, quintal tão grande como
o de doutor Osório e D. Benzinha, que ia até
onde hoje fica a avenida do bairro Tabuleiro Alto.
Foi
conversando com ela, que me lembrei como se fosse hoje da
ladeira que ia para o cemitério, da igrejinha nova
e alegre, do cabo e do soldado prendendo um ladrão,
do corpo de um homem morto de tocaia chegando em dois varais
parecendo como se fosse numa escada, das caixas de madeira
com tampa móvel para guardar marmelada; das bonitas
grades do mercado caiadas de branco, da igreja antiga com
o padre Horácio, igreja já adaptada com o padre
João Pelágio e de um padre substituto, meio
sem juízo, chamado Cândido, que queimou cem livros
meus, só porque a contracapa dizia que eu era espírita
e maçom. Muitas as lembranças sobre o morro
esverdeado e as grutas dos tapuias; da ponte de onde os meninos
e rapazes pulavam nus para mergulhar e sair da água
vendo os joelhos das lavadeiras; das partidas e das chegadas
de meu pai com peças históricas e cargas de
marmelos, ele, homem de muitas viagens; de um livro de geografia
que ficava na gaveta da mesa de nossa sala de visita e da
antiga valete de um corte e da gilete de dois, que nunca fizeram
barba; do uísque cavalo branco numa garrafa quadrada;
das moças e dos rapazes comprando picolés de
calda de marmelo feitos por meu pai numa geladeira de querosene
num tempo em que a gente morava em contra esquina com a venda
de João de Bita; do lampião Aladim com luz tão
clara que chegava a doer a vista. Foi
como se eu estivesse vendo a chegada de Fulgêncio Alves
com a família, quando comprou a casa de Afonso Batista,
linda de morrer, pinturas em tons de azul em todos os cômodos,
própria para receber visitas ilustres que se aportavam
em São João, incluindo os padres e os missionários.
Lembrei-me do livro de atas que registrou uma reunião
política na Escola Mendes de Oliveira, com um mundão
de assinaturas, inclusive a minha de menino de sete anos,
já com mania de participar de tudo...
Nítida
a lembrança de uma figura interessante, o açougueiro
Otacílio Serafim, na esquina de Antônio Capuchinho,
e do sacristão do padre Horácio, chamado Bertolino
Cruz, um homem bom que ajudava, nas missas, batendo o sino
e sacudindo um turíbulo que cuspia fogo. Revejo, como
se fosse hoje, o elegante e bonito padre Horácio, velhinho
italiano de cabelos branquíssimos, sempre muito querido.
Havia uma história de que ele tinha morado no México
e voltado para a Itália, para depois vir para o Brasil
e trabalhar no Rio Grande do Sul com o bispo Dom João
Pimenta, que o trouxe para Rio Pardo, ao mesmo tempo que assumiu
a diocese de Montes Claros.
Vivi com intensidade os passeios pela casa de Maria de Silvina,
na Argola, estrada que ia para a fazenda de doutor Osório,
onde, aos domingos, comprávamos de João de Nico
um pé de jabuticaba todo carregado por cinco mil réis
e comíamos até ficar entupidos. Entre o desfilar
de memórias, o meu apelido de “padre Horácio”,
posto por Antônio Batista, pelo fato de meus cabelos
serem quase da cor dos dele, ou seja, de um intenso louro
esbranquiçado, coisa de guri branquelo. Que bom lembrar
do meu São João em plena primeira metade do
Século XX, um tempo de sonhos mais que coloridos, dias
e tardes de mil seduções, imensa multidão
de encantos. Tudo inesquecível e grato à alegria
do viver e conviver!
MEU
PROFESSOR JOAQUIM ROLLA
Minha
primeira lembrança é do dia em que meu pai me
conduziu para a sua escola, na rua de baixo. Foi no início
de 1942, acredito no mês de janeiro. O mestre Joaquim
Rolla vestia uma bata de professor de cor clara, não
sei mais se branca ou em tom cinza. Um homem alto, magro,
rápido nos passos, olhar firme e penetrante o tempo
todo, com uma régua de madeira, pronta para descer
no lombo de quem não estudasse direito ou não
desse as respostas certas nos algarismos ou na pronúncia
das palavras. No bolso, um lenço grande para secar
o cuspe e limpar as lousas que todo nós tínhamos
desde o primeiro dia de aula.
As lousas, também chamadas de pedras, eram de ardósia,
com moldura de tábuas, utilizadas dos dois lados com
lápis do mesmo material. Serviam para escrita de pequenos
textos e principalmente para as contas, somas, subtrações,
multiplicação e divisão. Os exercícios
eram tantos, que nenhum pai podia comprar todos os cadernos
necessários, naquele tempo muito caros. Com seis meses
de aprendizagem, eu multiplicava e dividia por doze números,
coisa difícil de fazer hoje até com as maquininhas
eletrônicas. As somas chegavam a trinta parcelas, conferidas
pelo menos duas vezes para evitar o impacto da régua
e da palmatória. Só não apanhávamos,
se tudo estivesse certo para merecer nota dez. Um nove dava
puxão de orelha e coques na cabeça.
Eli,
filho de João de Bita e de D. Anísia, era o
mais velho da turma. Cristóvão, seu irmão,
sentava comigo na mesma carteira e usava o mesmo tinteiro.
Um grande colega, mas que me atrapalhou, porque eu colava
dele, mesmo não precisando. Durante os meses que estivemos
juntos, eu estudei menos do que precisava. Uma pena, pois
depois dele, nunca mais deixei de ser o primeiro aluno de
qualquer classe, porque estudar muito e caprichar eu sempre
soube.
Vou introduzir aqui um texto que escrevi em 1978, quando lancei
em São João o meu primeiro livro, Tempos de
Montes Claros, e narrei uma visita que fiz a Cristovina. Ei-lo:
“Foi num mês de fevereiro, trinta e dois anos
depois, que voltei a rever a minha terra, São João
do Paraíso. Foi bem naquele fevereiro brabo de tantas
enchentes, estradas intransitáveis, com um mundão
de dificuldades para chegar lá, partindo de Taiobeiras.
Foi depois de longa viagem por Valença e Nazaré,
por Itaparica e Salvador, andanças de muito laudar
pelo céu e pelo mar. Em São João, entramos
num dia de intensa luz, depois das chuvas. E comigo estavam
Olímpia, Rízzia e Gracielle, ao mesmo tempo
que bons amigos como Joaquim da Caixa Econômica, Mário
Português e meus cunhados, Anderson e Nelmy, todos para
dar maior prestígio ao filho que voltava à cidade
natal. Nas ruas, o Lauro, colega de curso primário,
fazia a surpresa com muitas faixas de saudação,
tudo muito grato, bom demais para os olhos e para a alma.
Visitas, encontros, apresentações, um rememorar
de saudades, o reviver de velhas e bem guardadas lembranças,
uma alegria aqui, uma decepção ali, porque nem
tudo que o coração registra fica imune à
ação do tempo. Jovens transformados em velhos,
velhos já
não na vida. A paisagem já não a mesma
e, ainda que melhorada pelo progresso, diferente. Não
mais a ponte dos banhos de meninos pelados e jovens lavadeiras;
não mais o canavial sem fim; não mais a serra
verde escura ligada às nuvens; não mais a igrejinha
do alto do morro, nova em folha; a grama da praça,
substituída por pavimentação e postos
de gasolina; o matagal do cemitério já bairro
novo. Tudo mudado. Os olhos procuram, o coração
deplora toda a ausência de eternidade nas coisas e nas
pessoas! Quanta falta!
À noite, o lançamento do meu livro, na Matriz,
o louvor dos discursos, as explicações, os abraços,
o rolar de tranquilas lágrimas de gratidão ao
passado, a riqueza das lembranças boas que só
a infância pôde dar, o olhar reverente de jovens
professoras ao camarada mais velho, amadurecido pelas dores
da vida. Olímpia me pergunta baixinho o que me passa
pela cabeça, enquanto olho a velha igreja, ouço
o antigo sino, sinto a paisagem pisada por pés descalços
em tempo distante. O que responder? As coisas que passam pelo
sentimento não podem ser analisadas, não são
lógicas. As imagens são superpostas, principalmente
as do meu pai, ainda novo, do meu avô Vicente, de longas
barbas brancas, e da tia Raquel e de D. Adelina, gorda e clara.
Vem o segundo dia e, enquanto dia, uma viagem pelo Mato Cipó
para visitar os tios Júlio e Diolina, a passagem pela
Lagoa da Viada, pelo rio, pelos mangueiros, a procura de velhas
estradas por onde costumava passar, indo para a casa de Maria
de Silvina, o caminho da fazenda do doutor Osório.
A cada lembrança, uma fotografia, a promessa íntima
de pintar um quadro. Na volta, à noite, depois do jantar,
a palestra na Escola, uma espécie de acerto de contas, um
desfiar de vivos sonhos, um voto de confiança e um
incentivo às novas gerações. Mais tarde,
o passeio pelas ruas, o mingau de milho na sala de jantar
de D. Benzinha, o café com biscoitos a convite do padre
João, madeirense culto, amigo solícito.
Foi durante um café, sentados em duros bancos, braços
sobre uma mesa comprida sem toalha, daquelas feitas com madeira
fornida, que resolvi fazer um comentário sobre meu
primeiro professor, o velho Joaquim Rolla, mestre de régua
e palmatória, de lousa e tabuada, de norma e abecê.
Falei da escola, falei dos alunos, descrevi os objetos. Quando
ia mostrar que me lembrava também dos móveis,
Cristovina, a anfitriã, sorriu maliciosa, e com brilho
no olhar me fez arrancar de dentro a mais querida das lembranças,
pois aquela mesa, aqueles bancos, todo aquele ambiente era
a minha primeira sala de aula. Havia eu, por acaso, me esquecido
de que ela era a filha do professor?
Estava ali o maior presente ao meu coração...
OS
REVOLTOSOS PASSAM POR SALINAS
Os
revoltosos iriam chegar a qualquer hora e, para passar por
Salinas, a fazenda do meu avô João Morais tinha
que ser caminho obrigatório. Como esperá-los
seria loucura ou, no mínimo, ato bem arriscado, todo
o pessoal da fazenda tratou depressa de tirar o time de campo
e descobrir o lugar mais isolado e seguro que fosse possível
encontrar. Aliás, isso não seria problema, pois,
quem mais conhece mesmo a sua fazenda é o fazendeiro.
Meu avô deu ordens expressas para que levassem de tudo,
o necessário para uma agradável aventura de
pelo menos trinta dias: material de cozinha, roupas de dormir
e de vestir, vacas de leite, garrotinhos de carne macia, porcos,
cabritos, frangos e galinhas, capões, todas as abóboras
e maxixes e raízes de mandioca mansa que pudessem tirar
sal, tempero, rapadura, açúcar de pedra, e mais
todos os eteceteras – eteceteras. Também o mais
importante para os trinta dias de festas: pandeiros, violões,
sanfonas e um ou outro garrafão da melhor pinga do
alambique, não muita, porque minha família nunca
foi de beber lá esse tanto.
Quando penso nessa proeza, não posso fugir à
lembrança de saída dos judeus para a Terra Prometida,
com Moisés e Josué dirigindo o povo com todos
os animais e todos os tarecos de valor. Para governar o rebanho,
foi nomeado o filho mais velho, o mais ajuizado, o defensor
intransigente do patrimônio, já quase em ponto
de se casar, o Armindo Morais. Todos contam, ainda hoje, da
pequena viagem, como uma grande saga, um ato de alegre heroísmo,
um descontraído sacrifício de velhos e jovens,
de patrões e agregados, Mamãe conta que, mesmo
nas paradas para o descanso das mulas de carga, o sanfoneiro
tinha de tocar e a dança era obrigatória. Para
qualquer fomezinha, morria logo uma leitoa, o arroz com carne,
cozinhava fumegando de gostoso. Todos gozavam a vida e só
o Armindo dava o toque de responsabilidade no verdadeiro serviço,
só ele comandava para assunto sério.
Conto esta estória para dizer que talvez tenha sido
nesse imprevisto contrarrevolucionário de 1926 o grande
início de vida do meu Tio Armindo, um homem de sessenta
anos de trabalhos, do dia que se entendeu por gente até
a hora final por acidente numa fazenda do Pará. Todo
o tempo de sua existência foi tempo sem férias
ou feriados e, como não podia deixar de ser, a última
viagem era também de serviço. O melhor descanso
– dizia – era um bom exercício, uma atividade
para ocupar a cabeça, dar tratos ao juízo. Quando
sentiu terminar sua tarefa de fazer as fazendas de Salinas,
Cachoeira de Pajéu e numa espécie de sesmaria
que comprou de Filomeno Ribeiro pelas bandas do Rio Ribeiro
pelas bandas do Rio Caititu, pulou de fronteiras e iniciou
um novo império nas matas da Amazônia. Não
era homem de pequenos lotes de terra, era um bandeirante e
um colonizador.
Foi conversando com Tio Armindo, aconselhando-o e dele recebendo
conselho, interrogando-o sempre sobre a importância
de terra e da vida, sobre a pragmática do trabalho
e a vantagem de saber pensar, é que criei dentro de
mim um grande respeito pelo fazendeiro, pelo homem do campo,
a única nação de gente que sabe unir
o suor à meditação, sabe remoer calado
as fatias de beleza de todas as horas do dia.
VIAGENS
PARA SALINAS
Era
uma alegria sem igual quando meu pai avisava que iríamos
viajar para Salinas, passando primeiro pela fazenda do meu
avô Vicente Arruda, antes de chegarmos a Coqueiros,
meio caminho de São João a Taiobeiras. Minha
maior curiosidade era pensar em ver a espada com que ele brigava
quando novo, uma espada que parecia de prata, com cabo de
madrepérola. Muitos os arranjos para preparar as roupas,
os chinelos, alguns poucos brinquedos que não pesassem
muito. Nada mais que a idade não permitisse.
Para a madrugada de início da viagem, dois ou três
dias antes o trabalho maior era de minha mãe e de Silvina
para os arranjos de sustento, a lata de matula com galinha
e farofa, as latas de paçocas, cantis com água,
os biscoitos cozidos e assados, os espremidos, os fritos,
além dos bolos.
Com ou sem frio, as despedidas, a calma de Tio Abílio,
papai de óculos escuros, chapéu de aba larga
e guarda pó.
Durante o percurso, para o descanso dos viajantes e dos animais,
a parada nos rios, nas lagoas, principalmente quando a fome
chegava. Muita curiosidade quando meu pai queria procurar
água no meio das matas, ao ver as pedras, as cruzes
na estrada. Mais ainda quando da passagem por Taiobeiras,
quando víamos os meninos correndo nos carrinhos, ou
andando de bicicleta.
Logo
após a chegada à fazenda de vovô João
Morais e Vovó Ritinha, a primeira providência
era lavar o rosto com água morna em bacias esmaltadas,
enxugando depois com uma toalha bordada sempre muito bonita.
Depois, o melhor era reparar as panelas de leite, o fazer
requeijão, os varaus de carne, as linguiças
dentro da gordura, os chouriços, as mangueiras, a beira
do rio. Ainda melhor o correr para o almoço coletivo
na cozinha grandona cheia de janelas. Era um tal de esconder
a carne debaixo do angu, ou no feijão escaldado.
Fora da casa, a estrada em curva indo para Salinas, a rede
em que vovô João Morais passava o dia e um pedacinho
da noite, as estórias que ele contava, enfeitando cada
passagem para produzir curiosidade e emoção
em novos e velhos, todo mundo sentado ou acocorado para ouvir
mais de perto – causos do coronel Horácio de
Matos, da princesa Magalona, de Lampião, da Coluna
Prestes, quando eles fizeram a maior festa num esconderijo
em pé de serra. Mamãe contava estórias
de quando eles moravam à margem do Rio
Pardo e ela nadava levando o almoço dos irmãos
em vasilha presa na cabeça, o curral, o engenho, a
cozinha grandona e o fogão sempre com lenha seca e
muita brasa, o regador para molhar as plantas, estórias
de cobras que não morreram quando alguém batia
nelas de vara, e aí, ficava magrinha, esperando o ofensor
para picar, as lavadeiras, batendo roupa nas pedras para clarear.
Peguei varíola, viajamos de Salinas para São
João, eu enrolado em palha de bananeira, única
coisa que não grudava nas feridas, pois havia bolhas
no corpo inteiro. Quando meu pai e minha mãe chegavam
em alguma fazenda para hospedar eram muito bem recebidos como
amigos, mas só até a hora que me viam doente,
aí recebiam o casal, mas ficavam de longe com medo
de contágio. Salvava um em quinhentos. Só vim
sarar depois de dois meses de sofrimentos, tendo até
hoje uma marca na coxa direita.
Foi em Salinas que meu primo Nenzinho me levou para conhecer
e tomar sorvete. Foi lá que vi pela primeira vez uma
revista, a Vida Doméstica. Eu só conhecia jornais,
que eram assinados não para leitura, mas para servir
de papel de embrulho nas lojas e nas vendas. Foi em Salinas
que vi pela primeira vez a luz elétrica nas casas e
nas ruas. Funcionava só até às 9 da noite,
o mesmo horário que meu marcava para todo mundo já
estar dormindo. Quem chegasse por último, que trancasse
a porta. Depois das nove, a luz era de candeeiro de querosene,
de fifó de óleo de mamona, de lamparina com
azeite doce, uma luzinha só para espantar a escuridão,
mais usadas no quarto de mulher parida, após o nascimento
dos bebês. Lampião com vidro móvel ou
Aladim era só para ocasiões de luxo. O aparelho
de rádio era quase redondo e funcionava com bateria
ou uma pilha elétrica grandona.
MUDANÇA
PARA SALINAS
Pensando
em tempos de hoje, setenta e sete anos depois, foi uma multidão
de sonhos o preparo para a mudança para Salinas, cidade
que eu já conhecia nas viagens a cavalo, garupa do
meu pai e de Tio Abílio. Lá era muito grande,
o maior município de Minas Gerais, cidade que tinha
um coronel, a exemplo de Pedra Azul, Rio Pardo e Montes Claros:
o coronel Idalino Ribeiro, compadre do governador Benedito
Valadares, pai de deputado, riquíssimo, dono de minas
de pedras preciosas, a casa assobradada mais bonita da região.
Salinas tinha juiz de direito e promotor de justiça,
um enorme grupo escolar, uma igreja do tamanhão do
mundo com padre holandês.
Salinas tinha sorveterias, padarias e armazéns grandes,
e até lojas com vitrines, papelarias que vendiam papel
carbono, lápis de cor, cadernos importados e até
livros escolares, enquanto o São João, cidade
recém-emancipada, tinha interventor nomeado pelo Governo
do Estado, em Salinas o prefeito era escolhido em eleição
administrada pelo Juiz. Tudo, tudo mais moderno, que aguçava
por demais as minhas ideias. São João tinha
só um sapateiro, um seleiro, um salão para fazer
cabelo e barba. Uma vez houve um furto em uma casa e, pela
primeira vez, ouvi a palavra ladrão, o que foi uma
grande novidade. Fiquei doido para ver, porque queria saber
como seria um ladrão, que diferença teria de
uma pessoa normal. Pelas notícias, Salinas tinha era
muitos, havendo até um prédio da cadeia, com
grade de ferro e soldados de vigia. O que eu mais precisava
era me preparar para tantas novidades, ênfase para tomar
sorvete bem geladinho em taças de vidro.
Agora, pensando em termos de perdas e ganhos, o que eu ia
perder, deixando São João do Paraíso
para trás? Muitas coisas, pelo menos algumas. Por exemplo,
o doce de marmelo feito em tacho de cobre e guardado em caixas
de madeira. A gente olhava a parte que ia comer. O doce de
goiaba com casca e semente, adoçado com mel de jataí.
O pão sovado que não era feito em padaria, assado
em forno de adobe, esquentado com toras de jatobá.
A praça de São João, onde nasci era todinha
gramada, tão grande que era lá que armavam os
circos e instalavam os parques de diversão, feita do
tamanho certo para ter cavalhadas duas vezes por ano. Melhor
ainda: era lá que meu padrinho Afonso Pena, de quatro
em quatro meses, apresentava seu teatro de rua, em que Otacione
e eu éramos atores, ele o pai, eu o filho, todas as
falas mais do que decoradas. São João tinha
o marido de D. Adelina, Leonídio Capuchinho, com toda
fama de sabido, porque escrevia com caneta Parker e era maçom,
mestre de todos os segredos, coisa rara em qualquer lugar.
Do lado de cima da praça, o consultório e a
farmácia do dr. Osório Rocha, formado na Universidade
da Bahia, a melhor do Brasil, diploma que tinha antes do nome
dele o “doutor” escrito por extenso, por causa
da defesa de tese. A fama era de ser o melhor médico,
de dar a consulta e fazer o remédio, só superado
por um ou outro de Belo Horizonte.
No
lado de baixo da praça tinha chegado uma família
de protestantes que o marido e a mulher já haviam lido
a escritura sagrada de cabo a rabo cinco vezes. Liam até
de trás prá frente. Será que Salinas
seria mesmo melhor?
Descarregado o caminhão de mudança, a casa mesmo
grande ficou cheia com as coisas da família de três
filhos, naquela época: eu, o mais velho, e as duas
meninas, Nair e Dercy, uma com três anos, a outra ainda
bebê. A casa era na mesma praça da igreja e do
grupo escolar, mas em um ângulo que não dava
para ver o mercado, nem as lojas do outro lado. Feita a matrícula
por meu pai, o diretor levou-me para a professora, a mulher
mais alta da cidade, com fama de bonita e de inteligência
sem igual, D. Heloísa Veloso Sarmento Cordeiro. Eu
nunca tinha visto gente assim com quatro nomes. O Cordeiro
era por causa do casamento com Rodrigo, ele ainda mais
alto do que ela. D. Heloísa era a fera da escola, dona
da disciplina, aluno tinha que piar mansinho. Fez um teste
para avaliar o que eu sabia, pois vindo de escola particular
e pouco tempo de escola de governo, nem tinha um número
de série. Achou que eu podia ficar no terceiro ano,
e foi lá que me colocou no meio de uns trinta e tantos
colegas, sentado na frente para ser visto melhor. Tudo tinha
que ser decorado, do descobrimento do Brasil até a
Guerra do Paraguai. Nomes de todos os estados brasileiros,
de todos os países das Américas e da Europa,
com as respectivas capitais. Nem pensar trocar dois esses
por cê cedilha. Como não admitia não ser
o primeiro da classe, tive de estudar dia e noite até
superar o nível da turma. Quase
que uma luta de vida e de morte.
Tantos
anos de distância no tempo, vivendo só para a
escola, para os banhos na represa e para um tratamento de
xistose, minhas lembranças passam mais pela convivência
com meu avô João Morais, minha avó Ritinha,
meus tios Abílio, Armindo, Agenor, as tias Maria, Honorina
e Nininha. Do povo importante da cidade, além do Coronel
Idalino, lembro-me do dr. Alcides Loyola, que foi candidato
a prefeito e acabou perdendo, porque era do lado do Brigadeiro
Eduardo Gomes, de um partido formado para desalojar o governo.
Ainda em tempo: D. Heloísa Sarmento, a professora altona,
bonita e competente, muitas décadas depois, em Montes
Claros, foi minha colega de magistério no Colégio
Estadual Plínio Ribeiro e confreira na Academia Montes-clarense
de Letras. Tive e tenho por ela, até hoje, o maior
respeito e uma admiração sem limites.
MATO
VERDE
Mudamos
de Salinas em 1945, poucos dias depois da eleição,
quando foi escolhido para a presidência da república
o general Eurico Gaspar Dutra, que tinha sido ministro da
guerra de Getúlio Vargas. A propaganda eleitoral maior
era do Brigadeiro Eduardo Gomes, um mapa do Brasil com a foto
dele no centro. A comemoração da vitória
de Dutra foi com muito barulho, muitos gritos e muitos tiros:
nenhum foguete, nenhuma bomba, todo o pipocar era de carabinas,
revólveres, garruchas e fuzis, numa passeata comandado
por Arabel de Souza Gomes, um aliado do coronel Levy Silva,
prefeito pessedista em Monte Azul. Era aquele movimentado
e barulhento espetáculo de valentia e poder político.
Nem sei se havia adversários, e quem era que teria
coragem de se manifestar? Na mesma semana da chegada, houve
uma noite que minha mãe ficou mais do que cansada de
tanto servir café com quitandas – biscoitos,
bolos, broas, pão sovado, manuê - para meu pai
receber as visitas de todos os importantões, que desejavam
saber a que viera e o que ele iria fazer. Meu entusiasmo maior
foi conhecer o velho Januário, major da Guarda Nacional
e marido de Dona Pimpa, agente do correio. Ele vestia um uniforme
realmente lindo e portava uma espada, para marcar muito respeito.
Fomos
morar na rua principal, próximo da pensão de
Hermes Mota Matos e D. Olindina e bem perto da casa de Tide,
irmão de Arabel, de Vital e da venda de João
Neves, onde passei a trabalhar pouco depois. Na venda de João
Neves havia uma parte do balcão coberta com um veludo
verde, onde o tempo todo alguns fregueses jogavam baralho,
um jogo que não ouço mais falar dele, chamado
cunclamplê, que aprendi logo e passei a ser requisitado
professor, ensinando a quem queria jogar, mas não sabia;
em três dias, eu formava um campeão. Só
deixei este meu primeiro magistério, como qualquer
outro mal remunerado, porque um tenente que chegou para a
delegacia, achou aquilo um absurdo e chamou meu pai e o dono
da venda para repreendê-los pelo delito contra um adolescente.
Chamou-me também e disse que, como eu precisava trabalhar
e ganhar o meu dinheiro, ia me deixar como balconista, mas
nunca mais poderia me aproximar da jogatina. Foi a última
vez que peguei em uma carta de baralho ou me aproximei de
qualquer jogo. Anos mais tarde, quis encontrar o oficial da
Polícia Militar de Minas Gerais, que passei a considerar
um meu grande benfeitor, mas soube que ele já havia
morrido. Foi uma pena não o ter encontrado, porque
me lembro dele, com agradecimentos, até hoje.
Lembro-me também da madrugada de 1949, início
da viagem de Mato Verde para Taiobeiras, caminhão cheio
de coisas de mudança, família ainda pequena,
Jurandi e Vilmar os mais novos. Meu pai e minha mãe
apressavam-me para terminar de escrever as marcas de saudades
que eu gravava com giz na calçada, parte pelos amigos
e por D. Zema, a querida professora, maior parte por deixar
Pinha, a namorada loura, de olhos azuis da cor de um céu
em dia de brilho. Eu não queria largar nada do que
vivi em cinco lindos anos de existência.
Tudo
representava uma experiência incrível, principalmente
no gosto de ler, escrever e fazer discursos. Ainda bem novo,
sem completar quinze anos, era eu autor de palavras cruzadas,
bom fazedor de charadas, reconhecido por habilidade na escrita
Morse, mesmo sendo o meu trabalho, no correio, feito por telefone.
Era mestre na arte de engraxar, de vender biscoitos, fumo
de rolo e pinga, e por correr de bicicleta e ganhar campeonatos
em jogos de pião. Por ter aprendido muito de filosofia,
história e até de política em conversas
de botecos e de farmácia, considerava-me – sem
favor de terceiros - um hábil intelectual, e muito
pouco me prendia às pregações do jovem
padre Newton D’Ângeles, culto e admirado, mesmo
sendo a religião o meu centro de interesse. Só
faziam sentido as leituras que me atendessem
à curiosidade e pudessem marcar um mínimo de
lógica na liberdade de pensar e agir, nenhuma peia
para o livre arbítrio, que eu ainda nem sabia o que
era. Por muitas vezes ao entrar em conversas de adultos, fui
repreendido e até censurado, nem sempre com educação,
minha ou dos concorrentes nas ideias.
Com certeza e muito encanto, mesmo com o calendário
uns quarenta anos depois, continuo ligado a Mato Verde já
cidade, área urbana incomparavelmente maior, muito
mais recursos, mais escolas, muito mais nomes de pessoas,
bem mais sobrenomes de famílias. Queiramos ou não,
o viver e conviver acabam sendo uma curiosa reescrita, fatos
e personagens se superpondo, ganhando as mesmas tonalidades,
repetindo os mesmos gestos, desenhando mapas bem parecidos.
Concluo as minhas lembranças, dizendo o que escrevi
o prefácio do livro de Jorge Luiz Almeida, nada difícil
de esquematizar, porque
nossas vidas de jovens do interior foram muito semelhantes
na aprendizagem, no trabalho, na política, em todas
as visões de vida e até no conviver com bonitas
e queridas colegas de escola - eu com Zinha, Dirce, Orlinda,
Pinha e Tudinha; ele com Edilene e com outras que não
conheci. Por isso é que ele, lembrando-se dos saudosos
amigos Zezita, Geraldo de Roseno e Cidé, citou o poeta
Mário Quintana: “O tempo não para! Só
a saudade é que faz as coisas pararem no tempo...”
TAIOBEIRAS
Nossa
mudança de Mato Verde para Taiobeiras se deu num mês
de maio, quando o ano era de 1949. Ainda algum calor em Mato
Verde e já muito frio em toda a região de Taiobeiras,
todos nós com roupas inapropriadas para o novo regime
de vida. Já na primeira manhã, uma corrida às
lojas para as compras necessárias. De minha parte,
lembro-me que a escolha foi um agasalho marrom, ao mesmo tempo
camisa e casaco com fecho éclair. Cada um escolheu
o que mais gostou, menos Silvina que já tinha suas
saias e seus chales, que ela chamava roupas de inverno.
Nossa primeira casa foi na avenida hoje chamada da Liberdade,
vizinha da casa do dentista Amílcar Mendes, quase em
frente à praça da Matriz, que tinha na esquina
a casa de Vadinho Costa, vizinha à pensão de
Deja e Hugolino, onde ficava também a venda de Nenenzinho,
sócio de Pedro Paulo e Paulo Pedro, centro social e
de cultura, onde se falava de política, economia, religião
e até de maçonaria, já que os donos eram
todos maçons de carteirinha. De maçom só
não ia lá Antonino Almeida, porque este não
saía da farmácia, onde também era um
local de todos os saberes, principalmente dos mais sérios.
Sidney, Ageu, Renato, todos intelectuais, com leitura obrigatória
e diária de livros e jornais. Com alguma leitura até
Gilberto, ainda bem criança.
Dois
ou três dias depois da chegada, fui ao Correio, que
tinha um agente novo, Hermínio Miranda, totalmente
sem conhecimento do serviço. Ótimo para mim,
porque de Correios e Telégrafos eu entendia tudo, até
da atividade em código Morse, desnecessária
no caso, já que os telegramas eram recebidos e transmitidos
por telefone junto à central de Rio Pardo de Minas,
já bastante conhecida em virtude do meu trabalho na
agência de Mato Verde. Emprego garantido na hora, embora
sem salário, já que Hermínio nem sabia
o que iria ganhar. Em comunicação eu trabalhava
por mero prazer e, para isso, o melhor lugar era ainda o Correio.
E foi em uma das saídas do trabalho, em que me encontrei
a primeira vez com Olímpia. Ela, em uma bicicleta feminina
amarela, parou perto de mim e disse que tinha um recado para
me transmitir. Sua colega de escola e amiga Lulinha queria
namorar comigo.
- Você aceita?
Olhei bem nos olhos verdes dela portadores do mais lindo sorriso
do mundo, e respondi de pronto:
- Namorar eu quero, mas é com você.
Nada mais foi dito ou perguntado. Ela saiu voando na bicicleta,
soltando poeira do chão batido da avenida. Só
vim vê-la à noite, passeando com as amigas no
claro luar da cidade sem luz. Muitos foram os quebras, olhares
de admiração que ocorrem até hoje, setenta
e dois anos depois.
Costumo dizer que Taiobeiras foi a minha melhor escola, mesmo
eu não tendo sido aluno de nenhuma. Mesmo tendo tido
grandes professores, meu primo Deoclides, aos meus seis anos,
o professor Joaquim Rolla, ainda aos sete e pouco, Dona Adelina,
primeira professora de escola pública, considero o
meu amigo Aníbal Rego meu melhor mestre de todos os
tempos. Com ele aprendi, História, Geografia, Matemática,
Astronomia, Política, Religião, Literatura,
Linguística, Gramática, Antropologia, Civismo,
tudo com inicial maiúscula. Ainda tudo relativo a organizações
militares, ele um gênio no assunto desde a prestação
de serviço no Exército em várias regiões
do país. Aprendi muito com Seu Antonino, Ageu, Renato,
Laury, Maciel e João Rego, Nenenzinho, Lúcio
Miranda e Dudu Cunha. E muito mais quando Osmar chegou de
São Paulo, ninguém mais grã-fino e bem-informado
do que ele. Foi em Taiobeiras que me aperfeiçoei na
criação de charadas e palavras cruzadas, além
da redação de cartas e notícias. Foi
de Taiobeiras que comecei a publicar palavras cruzadas, charadas
e pequenos textos na Revista Libertas, da Polícia Militar
(Belo Horizonte) e na Revista da Marinha e Rádio Nacional
(Rio de Janeiro). O mais curioso é que, semanalmente,
às terças-feiras, eu trocava minhas criações
com criações dos oficiais da FAB, que faziam
o Correio Aéreo. Capitães e majores –
pilotos e engenheiro de
bordo – nunca deixaram de levar suas charadas e palavras
cruzadas para o menino que eles mostravam muito admirar. Imagine
encontrarem, no interiorão a 1.200 quilômetros
do Rio e São Paulo, um garoto de quinze anos em condições
de competir com eles. Tornamo-nos realmente grandes amigos,
até que me mudei para Montes Claros.
Não foi tão grande o meu tempo em Taiobeiras,
já que chegamos em maio de 1949 e eu saí em
janeiro de 1951, um ano e meio. Um lindo tempo de aprendizagem
em todos os setores da vida, fazendo-me chegar para viver
em Montes Claros praticamente como um adulto, consciente de
todos os direitos e deveres e um sonho quase sem limites,
no possível e no impossível. Imenso o meu universo
de leituras em livros comprados pelo reembolso postal e tomados
de empréstimos a Maciel, Laury, Aníbal, Ageu,
Nenenzinho, Yolanda, Oladiva, Ena e Nay, todos juntos uma
grande biblioteca, inclusive em inglês, que eu traduzia
até com certa desenvoltura. De trabalho, para ganhar
algum dinheiro, o balcão dos sábados na loja
de Lúcio Miranda e algumas vezes no armazém
de Artur Cunha. O normal era trabalhar na oficina do meu pai,
montando malas de couro e de sola, com bons desenhos em retas
e curvas, boas dobradiças e bonitas fechaduras. Foi
com o dinheiro ganho em vendas, que iniciei a nova vida de
estudante, quase trezentos cruzeiros. Viajei de graça,
na cabine do caminhão de Dudu Cunha, ele motorista,
que não me cobrou nada. Isso foi muito importante –
viajar de boleia – para dizer que só viajei de
pau de arara uma única vez, no dia de uma eleição
em Salinas.
Meu pai - com toda a família - permaneceu em Taiobeiras
até 1954, quando eu passei a ter condições
de convidá-los para morar em Montes Claros.
MONTES
CLAROS
Dentro
do possível, tenho procurado escrever sobre pessoas
e fatos ligados à recente história de Montes
Claros, com os acontecimentos e os lugares de alguma forma
jungidos à minha própria experiência.
Isso, nos últimos quase trinta e seis anos, desde a
noite em que cheguei de Taiobeiras e fiquei hospedado na Pensão
de Dona Ismênia, ali pertinho de onde fica hoje o posto
de Antônio Barreto, na Praça de Esportes. A primeira
aventura foi exatamente no dia da chegada, quando, para marcar
o terreno, percorri cautelosamente alguns pedaços de
ruas, indo e voltando atrás para não correr
o perigo de me perder e ficar, depois, envergonhado. Nesse
vai-e-vem, o mais longe que fui foi até o Restaurante
do Valério, na Simeão Ribeiro, onde paguei vinte
e cinco cruzeiros por um jantar, um preço tão
caro para aquela época, que me expulsou por três
anos de qualquer casa de pasto mais grã-fina.
À Rua Quinze não consegui chegar, naturalmente
intimidado pela clareza das luzes, pelo pessoal desinibido,
bem vestido, gesticulante, demasiadamente alegre, que eu podia
reparar de longe. Passear por lá, no primeiro dia de
Montes Claros, seria uma façanha fora de pretensão
para quem chegava com roupas feitas por alfaiate de província
pobre e sapatos com excesso de meias-solas. Não dava,
não dava mesmo! Por isso, deixei para o dia seguinte,
no horário de trabalho, que aí a cidade é
de todo mundo e a beleza das pessoas causa menos impacto,
sem os perfumes, sem a performance dos momentos de ócio,
sem o burburinho das horas de passeio grã-fino. A Rua
Quinze que eu vi, pela manhã, era uma rua bem diferente,
bem mais vazia, embora ainda tivesse muita gente despreocupada
a discutir
política e futebol, a seguir, com olhos cobiçosos,
uniformizadas donzelas de longas saias azuis e cabelos de
tranças.
Foi depois de contar estórias da vida na Rua Quinze,
que tive a grata alegria de receber uma carta do meu colega
e amigo Nicomedes Almeida Teixeira, ministro-chefe da Secretaria
da Fadec, companheiro de muitas lutas na Fafil, em quatro
longos anos do Curso de Letras, quando frequentou minhas aulas
de português e de linguística. Se a lembrança
dos meus dias de Rua Quinze era um gostoso desfiar de saudades,
a carta do Nicó me veio trazer uma suave afirmação
de compromisso com o passado, uma certeza de que nenhum ato
de nossa vida, simples ou sem importância, passa esquecido
ou desfigurado de valor, sem o mérito do ter acontecido.
Não vou interpretar a correspondência do meu
intérprete. Passo-a ao leitor assim como chegou às
minhas mãos. Tem o gosto de um grande amor a Montes
Claros e ao tempo de nossa mocidade.
“Amigo Wanderlino, ao ler o seu artigo publicado, no
domingo último, intitulado “Rua Quinze”,
não pude deixar de me envolver em uma onda nostálgica,
pois ali passei boa parte de minha infância.
Em fins de 1951, meu pai comprou, em sociedade com mais dois
irmãos, o Big-Bar, ponto de encontro obrigatório
para os boêmios da época. Ali passei momentos
marcantes em minha vida, discutindo futebol, convivendo com
os artistas de rádio trazidos à cidade
pelo Airton Serpa, vendo os cartazes de cinema colocados na
calçada da loja de “seu” Ramos. Embora
criança, vivia o movimento noturno da Rua Quinze, auxiliando
meu pai no bar, ou frequentando o salão de sinuca do
Tio Hélio (não havia ainda rigor no policiamento
a menores).
Tempo bom que me voltou à memória graças
a você. Você se lembra do Bolo Esportivo, do Serpa?
Dos bailes de carnaval do “Clube dos Bancários?”
Quando o “footing” da Rua Quinze acabou, foi como
se apagassem as luzes de uma parte da cidade. Os outros “footings”
nunca foram os mesmos (ou será que foram as luzes de
minha infância que se apagaram, em parte?). De toda
forma, o seu artigo me fez reviver esse tempo, tempo bom!
Obrigado”.
E você, leitor, está com saudades também?
Nunca houve tempo melhor!
COLÉGIO
DIOCESANO
Não
me canso de ter saudades do tempo bom e gostoso das aulas
do Colégio Diocesano, de quando podíamos, todos
os dias, sentir e ouvir a alegria do Monsenhor Osmar, a braveza
do Padre Agostinho e a terna amizade do Monsenhor Gustavo.
É de fato um momento inesquecível, de quando
cada gesto era uma lição, cada atitude uma experiência
de seres em luta e em paz com a vida. Os três juntos,
ou cada um em particular, eram para nós, meninos-rapazes,
o grau mais alto da sabedoria, a fonte inesgotável
de conhecimento, os degraus por onde alcançar a segurança
do futuro. É claro que, particularmente, um por um
tinha o seu séquito de seguidores, dependendo da esperteza
ou do grau de inteligência de cada aluno, ou mesmo da
maturidade ou falta de juízo, como podíamos
encontrar nos mais sérios como Geraldo Miranda e Nivaldo
Neves, ou nos mais afoitos como Pai da Mata e João
Doido. Em órbita havia gente de todo jeito, tipo Tereziano
Dupin, Renato Pobre, Renato Almeida, Dezinho Dias, Ivan Guedes,
Lazinho Pimenta, Raimundo Santana, José Maravilha,
personalidades marcantes que iam do folclore à poesia,
do trabalho sério à justa compenetração.
Cada dia era um novo esquema de novidades, de surpresas, uma
sensação de estarmos construindo o mundo, preparando-o
para a nossa geração e para todas as outras
que poderiam vir depois de
nós. Ninguém fugia da luta, tirar o corpo de
banda, em qualquer tarefa, era um sacrilégio. Matar
aulas era pecado capital. Durante a semana não valia
nem cinema nem namoro. A ordem era estudar! Uma única
transgressão era permitida e só ao Miranda,
porque ele havia inovado o sistema, inventado uma saída,
namorando com a
professora Lourdes, inteligentão que era. O Dezinho
Dias, já mais velho um pouco, falava de fazendas, de
vez em quando. O Raimundo Santana era um importante, pois
tinha bicicleta e tomava uísque antes das provas de
matemática. Ivan impunha grande respeito: de vez em
quando jantava em restaurante, sábado à noite
depois do grêmio. A maioria, como eu, não tinha
dinheiro nem para picolé ou quebraqueixo, e quando
muito, bebíamos caldo de cana. Cafezinho era luxo!
Professor bom mesmo era o Pedro Santana, vibrante, grã-fino,
dominante nas cadeiras de História, Ciências
e Inglês, um terror para quem não tivesse as
matérias na ponta da língua, a capacidade de
responder, falando ou escrevendo, sem gírias. Pedro
era tão imponente, que não repetia ternos e
gravatas durante um mês, cada dia uma nova cor, hoje
um três-botões, amanhã um jaquetão,
tudo dentro do melhor figurino de Vavá ou Wilson Drumond.
O cabelo, ah! O cabelo era que merecia o maior cuidado! A
barba, de um barbear diário na barbearia de Antônio
Guedes, com massagem facial, na mesma hora em que também
estavam sentados os grã-finos Júlio de Melo
Franco e Nelson Vianna, fregueses de manhã cedinho.
Errar com Pedro ou com o Padre Agostinho – outro elegante
– era imperdoável. A nota menor que um bom aluno
podia tirar era dez. O nove era um feito vergonhoso!
Havia
outros professores famosos e entre eles o Tabajara, a Terezinha
Pimenta, Doutor Carlyle, A Maria Inês, D. Rosita Aquino
e o Belizário, que falava latim e tinha o cabelo parecido
com o de Castro Alves. Em certas ocasiões, o Bispo
D. Antônio chegava a assistir a algumas aulas, sentado
conosco, perguntando e participando, como se não soubesse
de tudo! Foi a maior inteligência que conheci, uma cultura
universal, um poder oratório que Montes Claros nunca
teve igual, nem com o Simeão Ribeiro... Era um admirável
mundo novo, principalmente para mim, que sem ternos e sem
paletós – o primeiro foi o Vadiolando Moreira
que me deu - achava tudo aquilo um sonho em realização.
Maravilhosamente encantado, sedento de aprender, nunca cedendo
o primeiro lugar a ninguém, uma coisa marcou-me
profundamente a diretiva na vida e me tem servido constantemente
de bom exemplo: a alegria de viver de Monsenhor Osmar Novais
de Lima, nosso diretor!
MEU
PROFESSOR PEDRO SANT’ANA
Em
primeiro lugar, tive a maior certeza de saber quem foi o professor
de História de Pedro Martins de Sant’Ana. Professor
ou professora, tem de ter sido uma pessoa notável,
metódica, eficiente, capaz de despertar grande interesse
no aluno. Ninguém encaminharia tanto saber a um discípulo
se realmente não o tivesse. Não se transmite
gosto e amor, simpatia ou paixão, quando não
se tem essas qualidades. Pedro, como fruto, tinha de originar-se
de árvore de primeira cepa. Era realmente um homem
de grande saber histórico, mestre da didática,
capaz de ensinar até a estátuas de gelo que
estivesses sentadas em sala de aula. Aliás, ele não
só ensinava, vivia como artista cada página
da história.
Pedro Sant’Ana, nos velhos idos do Colégio Diocesano,
fim da década de quarenta, início da de cinquenta,
era um árbitro da elegância, no vestir e no falar.
Seus ternos eram mais bem talhados do que os da grande grã-fina
da Rua quinze, de tecidos mais caros do que os da gente rica
do Clube Montes Claros. Famosas gravatas de seda, camisas
de colarinhos trubenizados, engomadas com esmero, sapatos
Scatamákia de cromo alemão com tonalidades que
iam do marrom claro até o escuro-preto.
Era uma época de ouro das alfaiatarias e das lojas
de luxo, quando cada par de meias era escolhido como se o
freguês estivesse minerando ouro ou falseando diamantes.
Aí, Pedro Martins de Sant’Ana era o mestre do
bom gosto.
Lembro-me de que o professor Pedro Sant’Ana era bom,
humilde quase nunca, algumas vezes arrogante, consciente do
seu próprio valor durante todo o tempo. Jamais concedia
a si mesmo uma dúvida por menor que fosse. Era um monumento
de saber, na História, nas Ciências Naturais,
no Inglês. Primeiramente na História. Aí
era inesgotável sua eficiência. Falava dos Césares
e dos Antoninos, de Aníbal e de Alexandre, de Ramsés
ou de Napoleão, de Gêngis Kan de César
Bórgia como se fosse ele, Pedro, colega de campanha
ou vizinho deles. Como percorríamos as ruas de Atenas
e de Esparta, de Roma e de Alexandria, de Tebas ou Jerusalém,
vivendo suas palavras! Com Pedro Sant’Ana, lutamos em
Dardanelos, corremos em Maratona, navegamos no Rio Nilo, atravessamos
o Mar Vermelho, fizemos nossa a Mesopotâmia!
Pedro Sant’Ana, que grande professor! Não me
consta que jamais tenha trabalhado pelo ordenado, pelo vil
dinheiro, somente pelo pão de cada dia. Trabalhava
muito mais pelo entusiasmo, pela visão multissecular
dos heróis da História, pela experiência
milenar dos sábios. Alimentava-se, parece, pela retórica,
tendo, como material da vida, a palavra, a palavra viva, sonora,
marcante nas consciências jovens. Para nós, seus
alunos, o verdadeiro descobridor do Brasil, o homem que abria
as selvas, rasgava estradas, construía escolas, levantava
templos, era ele Pedro Sant’Ana, o grande Pedro. O mestre
com carinho de um velho guerreiro!
Pedro Sant’Ana, sem favor nenhum, teve outro mérito:
culto, vibrante, polêmico, destemido, desaforado, foi
um dos dez melhores oradores da história de Montes
Claros. Merece um lugar importante em nossa galeria de personagens!
COMEÇANDO
A SER MONTES-CLARENSE
Não
havia a Rua Lafetá desembocando ali na Rua Carlos Gomes.
O que havia lá era só o esplendor do Alhambra,
casa de mulheres grã-finas, chefiada com mão-de-ferro
por Ana Reis, uma organização de dar gosto.
A Rua Lafetá só foi aberta já no fim
da administração do Capitão Enéas
Mineiro, quando este a ligou com a Rua Visconde de Ouro Preto,
que até hoje conserva o nome. Era nesse encontro de
esquinas que ficava o cassino, casa de festas, de jogos, de
encontros, que tinha na placa o respeitável nome de
Clube Minas Gerais. Ao lado, em volta, pertinho, longe, dezenas
de casas de mulheres, com janelas apinhadas de propaganda
viva, contida algazarra de quem precisava acatar as exigências
das famílias vizinhas. Durante o dia, certo respeito.
A noite, agora sim, é hora de se divertir, pode levantar
o tom da música que é tempo de prazeres. Todos
os homens, tendo dinheiro, estão convidados!
Foi por causa do cassino que não pude ficar morando
na Pensão de D. Ismênia, na Praça de Esportes.
Menino ainda, não ficava bem passar, toda hora, em
frente das casas ditas de tolerância, subisse pela Rua
S. Francisco, pela Carlos Gomes ou pela Altino de Freitas;
pela rua Lafaiete, aí nem pensar, era lá o centro
de tudo, a capital do pecado. Sabedor-mestre da situação,
Dr. Carlyle Teixeira, meu conselheiro, mandou-me para a Rua
Afonso Pena, no beco do Padre
Marcos, para a Pensão de D. Tonica, lugar de gente
muito mais séria. De lá para a Loja Imperial,
durante o dia, ou para o Colégio Diocesano, durante
a noite, era um pulinho, e bem a salvo da malandragem ou da
perdição... Assim era mais seguro, pensava ele.
Engraçado é que, apesar de todo esse cuidado,
por ser eu amigo de Aníbal Rego, que, por sua vez,
era amigo de Ana Reis, raro foi o dia em que eu não
passava pelo Alhambra, para ouvir rádio ou escutar
conversas do mulherio de luxo, não sei que tempo eu
encontrava para isso. O cassino eu via por cima, da sacada,
lá dentro a orquestra ou um tipo de conjunto musical
dirigido por Godofredo Guedes, um mestre da clarineta, a dedilhar
e soprar boleros, tangos e velhas músicas de jazz.
Com dezesseis anos apenas, entrar na festa estava fora de
qualquer cogitação. Este direito ficava com
os rapazes mais velhos como Geraldo Borges, Geraldo Avelar,
Dudu Cunha, Ildeu Gonzaga, Carlúcio Athayde, ou meninos
ousados como Bebeto Prates.
De todos os frequentadores das casas de mulheres, o mais importante,
o maior galã, era Dudu Cunha. Rico, bonitão,
vivia a época de ouro dos donos de caminhão.
Na noite em que ele chegava de Taiobeiras, toda a Pensão
de D. Ismênia só falava nas suas aventuras, no
cuidado que ele tinha com as roupas, com os sapatos, com o
perfume, no demorado barbear. Os filhos de Nego do 0, que
vinham de Salinas, Gildásio Ramos, que parece, já
morava em Montes Claros, todos ficavam alvoroçados
para acompanhá-lo, tirando uma casquinha do seu sucesso.
Era um espetáculo para todos nós, os mais novos,
mais sensacional do que um episódio de seriado do Cine
Cel. Ribeiro. Dizem que, com Dudu, até Nivaldo e Benedito Maciel,
os donos da noite, ficavam ofuscados, Montes Claros se curvava
perante Taiobeiras!
Fora daí, num outro circuito de que eu só ouvia
falar, as estórias corriam por conta de um rico comerciante
chamado Kalil, de Ludendorff Pinto Cunha, de José de
Souza Zumba, de Benjamim Moura e de jovens doutores bem conhecidos,
entre eles Mário Ribeiro, João Valle Maurício
e Konstantin Christoff, todos considerados bonitões,
elegantes e bem postos na vida. O tempo do Cassino não
era mesmo para todos...
JORNALISMO
Não
sei bem por que, mas ser jornalista era um sonho que eu acalentava
há muito tempo, bem antes de ter-me mudado para Montes
Claros, nos meus adolescentes dias de Taiobeiras. Escrever
para jornais e revistas, naquela época já não
me parecia uma coisa totalmente impossível, tinha cheiro
de realidade com boa marca de prazo por acontecer. Na verdade,
foi de lá o bom começo, nos meus primeiros exercícios
de charadismo e de palavras cruzadas, quando não me
limitava à passividade das decifrações.
Era uma experiência e tanto, que me causava grande alegria
ao ver meu trabalho e meu nome publicados em letras de imprensa.
Meu amigo Aníbal Rego, um dos melhores professores
que já tive, muito me incentivou, procurando valorizar
meus primeiros passos nesse tipo de atividade na imprensa.
Desenhar a nanquim eu sabia de alguma forma, o que eu não
sabia era datilografar, que era coisa difícil em cidade
de interior. Foi aí que Ageu Almeida, outro amigo,
nas horas de folga da farmácia, me deu grande ajuda,
ensinando-me, corrigindo e, mesmo, passando a limpo minhas
primeiras tarefas. Foi uma boa escola, coisa de nunca a gente
se esquecer.
Depois, vendo meu esforço, meu interesse, meu pai comprou
uma máquina de escrever e um método de aprender
datilografia. Foi, não tenho dúvida, um grande
encantamento e alegria: lembro-me,como
hoje, coloquei máquina e livro em cima da canastra,
no meu quarto, bem em frente à janela, e passei a gastar
nos exercícios todo um mundão de papel, batendo
e batendo todas as teclas, com todos os dedos, até
aprender a nova arte.
Foi assim que cheguei a Montes Claros, em janeiro de 1951,
quase datilógrafo, ia com meio caminho andado para
trabalhar em jornal. Quando o Capitão Enéas
e Luiz Pires Filho fundaram O JORNAL DE MONTES CLAROS, alvoroçado,
vi abrirem-se para mim as portas da nova profissão,
sentindo mesmo que o grande sonho poderia transformar-se logo
em realidade. Nada, porém, aconteceu, porque o excesso
de trabalho no comércio, as tarefas no Colégio
Diocesano, a leitura de pelo menos um livro por semana, as
cartas para a namorada, tudo, tudo não deixava tempo
para o futuro jornalista. A novel de sonho, limitei-me a acompanhar
de perto a primeira fase de desenvolvimento do jornal, principalmente
das polêmicas que não eram poucas.
Depois veio a política estudantil no grêmio do
Instituto Norte Mineiro, com eleições perdidas,
eleições ganhas, com liderança construída
quase a ferro e fogo. Foi também nesse tempo que Waldir
Senna me passou a presidência do Diretório dos
Estudantes, numa velha sala da rua Dr. Santos, de frente para
o Hotel São José. E daí, para quem vinha
de tão longe na vida, estudar de favor, porque dinheiro
não havia, o novo cargo era uma espécie de consagração.
Deve ter sido por isso que o professor José Márcio
de Aguiar, que não era tão meu amigo como o
era de Haroldo Livio e Waldir, resolveu atender o pedido de
Oswaldo Antunes e me mandar para o JMC. Antes, me recomendou
uma série de cuidados na arte de escrever,no
contato com o público e principalmente, um valioso
conselho: nunca esperar do jornalismo a riqueza do dinheiro,
porque jornalismo teria que ser sempre um sacerdócio.
E, realmente era. Trabalhei três meses completamente
de graça. Depois, Oswaldo destinou ao jovem e apressado
repórter um ordenado de mil cruzeiros. Dos velhos .
. .
O
BAR GUARANI DE VADINHO
Elton
Jackson ao me fazer um pedido para escrever sobre a Rua Doutor
Santos, deixou-me na liberdade de voltar ao assunto quantas
vezes forem necessárias, pelo menos até a hora
em que eu chegar na esquina do Hotel São José,
onde morei muito tempo. Na primeira crônica, como não
podia ser, procurei avivar todas as lembranças que
marcaram a história recente do quarteirão do
Hotel São Luiz, quando ficava de um lado o Bar de Manoel
Cândido e, do outro lado, o Banco de Crédito
Real, tudo muito próximo da área dos aflitos.
Fui subindo, esquina por esquina e, agora, já estamos
entre as ruas D. Pedro II e Dom João Pimenta, pedaço
de mundo que me marcou profundamente, pois, ali passei alguns
dos melhores momentos de minha vida de estudante e comerciário,
de jovem repórter e de soldado do Tiro de Guerra, além
das muitas atividades como radialista amador e como líder
estudantil no Diretório dos Estudantes. Foi neste quarteirão
que, de 1951 a 1954, morei nas pensões de D. Ismênia
Porto e D. Duca Guimarães, levantando-me sempre pelas
madrugadas para aprender as matérias das provas do
Colégio Diocesano e do Instituto Norte Mineiro.
Era quase na esquina da Rua D. João Pimenta que ficava
o Bar Guarani, um boteco alegre e bem frequentado desde os
dias de sua fundação, pelos idos de 1950. Pequeno,
de poucos metros quadrados, quase que de centímetros,
tão curtas eram as dimensões pelo lado de dentro
e pelo lado de fora. Quando passava de uns cinco fregueses,
necessário era que alguns já ficassem de pé,
no passeio, encostados ou não na parede velha e pintada
de verde. Havia umas duas mesas pequenas e algumas cadeiras
para o pessoal que gostava de jogar damas, tomando cerveja
ou bebendo pinga.
Foi por volta de cinquenta a cinquenta e um que o Vadinho,
Vadiolano Moreira, chegou a Montes Claros, um dos poucos rapazes
de Taiobeiras que não veio para cá para estudar,
mas, para ganhar dinheiro. Renato, Murilo, Nenzinho, Dedé,
Valtinho, Alfredão, Tone, Quincas, eu, todos nós
viemos para enfrentar a realidade e os sonhos dos livros.
Vadinho não. Vadinho veio para trabalhar muito, trabalhar
dia e noite, trabalhar o quanto fosse necessário para
ficar rico, se possível muito rico. Foi assim que o
Vadinho botou o olho no Bar Guarani, simpático, gostoso,
e não teve dúvida, ali estava a primeira mina
de sua vida montes-clarense.
Nunca conheci melhor comerciante que o Vadinho. Costumo dizer
que, se ele instalar um boteco, um barzinho ou mesmo um restaurante
encima de um pé-de-mandacaru, ainda assim teria constantes
e eternos fregueses e amigos para todas as horas. É
que ele vive cada momento, participa interessadamente de todos
os assuntos, respeita reverente a alegria ou a tristeza de
todos que dele se aproximam. Quando o Vadinho comprou o Bar
Guarani, fez as primeiras mudanças, ampliou-o com mais
um espaço lateral, foi como se uma luz nova iluminasse
a paisagem e iniciasse um novo sistema vivencial para velhos
e novos, pobres e ricos, principalmente para os que gostavam
de futebol e de cervejas e batidas de limão. Por lá
passa vam obrigatoriamente os hóspedes e moradores
de todos os hotéis e de todas as pensões do
centro da cidade. Nenhum estudante que se prezasse poderia
deixar de ir lá pelo menos aos sábados e domingos,
antes ou depois do cinema. Uma coisa era muito importante:
na hora do futebol no rádio, nos momentos dos gols,
o Bar Guarani era o epicentro do mundo, o lugar mais barulhento
da terra.
Mas, como sempre existe o lado contrário de tudo, o
Bar Guarani também teria de ter um fim. O seu último
dia de real movimentação foi o dia em que Vadinho
o vendeu. Vendeu-o por um preço de fazer inveja, por
ser o lugar de melhor frequência de Montes Claros. A
essa altura dos acontecimentos, Vadinho já era um fazendeiro
rico!
HOTEL
SÃO JOSÉ
Venho
percorrendo, aos poucos, a rua Doutor Santos, a pedido do
colega Elton Jackson e em obediência a um esquema tempo/espaço
traçado desde a primeira crônica sobre o assunto.
O meu objetivo é chegar à Rua Bocaiúva
e, aí, em atendimento a um sonho de minha amiga Nailê,
fiel cobradora de minhas lembranças de vizinho, falar
de quando ela era criança, quase menina-moça,
dos tempos de nascimento de João Wlader e de José
Danilo. Passo a passo, saí do Hotel São Luiz,
de D. Nazareth Sobreira e do Bar de Adail Sarmento, no início
da rua, e, hoje, chego ao Hotel São José, de
D. Laura e, depois, de D. Emília e do inesquecível
Juca de Chichico e do eterno gerente Geraldo. São lembranças
agradáveis, grandemente gratificantes
de um jovem que alcançava a idade adulta, já
hóspede em hotel, com uma individualidade e uma privacidade
nunca antes imaginadas como morador de pensões.
No Hotel São José, cuja placa dizia o maior
e o melhor, ser hóspede já era um grande privilégio,
marcava, quer queira quer não, um status de matar de
inveja os estudantes de repúblicas, ou aqueles que
viviam desprezados nas casas de parentes, muitos em barracões
de fundo de quintal. Foi lá que tive, pela primeira
vez, um quarto só meu, com pia e guarda-roupa, inicialmente,
no térreo, do lado de dentro do pátio, na ala
da praça Cel. Ribeiro, e, depois, no primeiro andar,
quase de frente para os dois mais importantes endereços:
os apartamentos de Ademar Leal Fagundes e do diretor do DNOCS,
o dr. José Correia Amorim Sobrinho. Foi uma melhoria
de situação social que quase não tinha
limites, quando comprei, duas calças de tropical, uma
meia dúzia de camisas, novas meias e... realização
de velho sonho, um rádio de segunda mão, rabo
quente, que tocava músicas e dava notícias todas
as manhãs.
O Hotel São José era um mundo à parte,
bom, alegre, importante, chique, principalmente depois que
“seu” Juca assumiu a direção e realizou
uma grande reforma. A saudade marcada com a ausência
de D. Laura foi compensada com a elegância de D. Emília
e a descontraída presença dos filhos, principalmente
de uma menina que era a mais bonita da rua Doutor Santos,
a Mercesinha, já quase em início de namoro com
o João Walter Godoy. Zé de Juca, Lauro, Bernadete,
todos eram também bastante simpáticos com os
hospedes. A hora do jantar era quase sempre uma festa, exigindo-se
a melhor roupa de cada participante do banquete diário,
uma etiqueta fiscalizada de perto pelos garçons, principalmente
pelo Fernando, que, até hoje, trabalha na profissão.
Poucos foram os estudantes que conseguiram a permanência
no quadro de hóspedes. Um a um ia saindo, pedindo ou
recebendo as contas, depois de uma brincadeira mais forte,
ou do não respeito à posição da
gente importante e seria como era o sisudo e culto fazendeiro
Ademar Leal, o milionário Manoel Rocha, a mais graduada
figura do Exército na região, o sargento Moura,
o advogado José Carlos Antunes, que falava inglês
corretamente, Lagoeiro, músico-chefe da regional da
Rádio Sociedade, o diretor do IBGE, e o próprio
dono, seu Juca, o único montes-clarense, na época,
a ter feito uma viagem internacional de muitos meses pela
Terra Santa e pelo Mundo Antigo.
Pode ser exagero de minha parte, mas, para nós, lá
era o centro da
cidade e da cultura.
Bons
tempos aqueles, justamente quando iniciava atividades, já
com os pés no chão, o nosso O JORNAL DE MONTES
CLAROS, não sei bem certo, parece já com a direção
do Oswaldo Antunes, pois o ano em que estamos é o de
1955, quando recebi das mãos do Waldyr Senna a presidência
do Diretório dos Estudantes e quando foi eleita a nossa
rainha mais bonita de todos os tempos, nenhuma outra igualada
em nobrezas nem antes nem depois: Cibele Veloso Milo!
FAFIL
Uma
recordação forte, muitas lembranças desde
a primeira conversa com Baby e Mary Figueiredo, a inscrição
para o vestibular, as aulas de francês e português,
as idas e vindas à Secretaria para ver Adélia,
e sentir o peso de autoridade de Isabel, eterna diretora que
não sai do nosso coração! Nas salas de
aula, as presenças de gente que ninguém poderia
pensar viver ainda em bancos de escola: Dr. Maurício,
Dr. Mourão, Dr. Hélio Moreira, irmãs
do Colégio, Omar Peres, quanta gente também
da Pedagogia, tantos e tantos nomes de valor!
Inaugurar a FAFIL era quase um abrir de portões do
fechadíssimo Colégio Imaculada para o grande
público, principalmente para os homens, classe que
ali não tinha acesso a não ser quando professores
de reconhecida respeitabilidade. Abrir as portas da FAFIL
foi um renovar de atitudes, um início interessante
de experiências, quando recatadas freiras se sentaram
receosas de contaminação com o público
externo, quando moças e moçoilas foram se afirmando
nas primeiras minissaias e uso de linguagem um tanto livre,
em palavras novas da gíria nacional, ideias para época
um tanto avançadas. Além de todas as sensações,
mais a certeza de ser aquela a primeira escola de nível
superior da região, um marco que mesmo os cegos poderiam
ver e contar como escala de progresso. Tudo era motivo de
curiosidade!
Creio
que o grande laboratório de ideias a usina dos sonhos
tenha sido mesmo as salas de aulas da Universidade Federal
de Minas Gerais, onde moças montes-clarenses terminavam
diferentes cursos, tão distantes uns dos outros que
iam da História à Pedagogia, das Letras à
Matemática, da Geografia às Ciências Sociais.
Diplomatas, portadoras de muito saber e incentivo de antigos
professores da capital, Isabel Rebelo de Paula, as irmãs
Baby e Mary Figueiredo, Sônia Quadros Lopes, Florinda
Ramos Marques, Dalva Santiago de Paula, ansiosamente, se uniram
a outros idealistas, e o resultado foi o nascimento da Faculdade
de Filosofia, Ciências e Letras do Norte de Minas aqui
em Montes Claros. Verdade é que não houve oposição
ao seu trabalho e até não faltou crédito
ou aquele sempre necessário voto de confiança.
Todo mundo acreditou nelas, com o Colégio Imaculada
Conceição cedendo espaço físico
e moral, a Fundação Educacional Luiz de Paula
fornecendo recursos e entusiasmo, professores como Jorge Ponciano
Ribeiro, dando logo a sua quota de serviços.
Foi uma beleza o começo, um sucesso o primeiro cursinho
de Montes Claros. Lembro-me bem, da primeira aula de francês
que tivemos com a professora Baby Figueiredo, com texto solto,
impresso fora de livro, uma novidade! Lembro-me de Adélia
Miranda elaborando, como secretária, os primeiros relatórios,
apertando os primeiros alunos retardatários para não
atrasarem no pagamento das mensalidades ou início das
aulas. Era uma experiência interessantíssima
com passagens de se emocionar!
Era tanta sabedoria nova, um conhecimento tão organizado,
uma perspectiva de aprendizagem tão grande, que problemas
apareciam a toda hora, todos querendo aproveitar de tudo,
sorver de vez todo um alimento que por não existir
antes, estava sendo negado a quem muito o desejava. Acontecia
então o troca-troca de salas, uma espécie de
mineração de assuntos, um descobrir quem era
o melhor professor, um abeberar de toda uma nova filosofia
de vida. Não posso contar tudo sobre as aulas de nossos
cursos, nos primeiros dias do semestre, porque os acontecimentos
vinham aos borbotões, quase sufocando a curiosidade,
até confundindo as cabeças. Era como se fosse
um vasto ciclo de conferências de palestras, um eterno
comício. Hamilton Lopes, calouro, ensaiava os primeiros
passos da política estudantil, João Valle Maurício,
José Nunes Mourão, Hélio Vale Moreira,
Mauro Machado Borges, alunos mais vividos, mostravam uma compenetração
pouco natural de estudantes. D. Yvonne Silveira, esta numa
santa vaidade de literata, se desmanchava em sorrisos e sutilezas
numa alegria quase infantil.
Tudo foi uma longa festa intelectual, uma corrida de muita
sede à fonte, todos considerando um grande privilégio,
uma oportunidade a mais de vencer na vida, em campos profissionais
já longamente seguidos. Pela primeira vez, vimos professorinhas
ensinando para velho elenco de construtores do futuro!
Olhado de longe, vinte e sete anos depois, quase uma loucura.
Mas que maravilhosa loucura! Que o diga Isabel Rebelo de Paula,
a primeira diretora.
APRENDENDO
ETIQUETA
NO RIO DE JANEIRO
Confesso
que sou leitor vidrado em regras de etiqueta. Não perco
uma linha do que se fala de educação e do bem-viver
social, de como tratar as pessoas, de como buscar uma convivência
pacífica e polida com os nossos semelhantes, principalmente
quando pelo menos um mínimo de elegância é
exigido. Leio tudo. Seguir, obedecer às regras, fazer
do bom trato uma linha de vida é difícil, exige
muita observação e muito esforço, mas
é sempre possível se a gente for incorporando
à cultura pequenos e grandes conhecimentos nesse setor.
Em verdade, cautela e cuidados sociais não fazem mal
a ninguém. Claro que a educação ou a
finesse em sociedade, e por sociedade entender-se todo o relacionamento
humano em qualquer parte, merece vasta gama de obediências,
uma forma natural de agir, o saber como, quando e onde tomar
atitudes. É preciso saber quem convidar, presentear,
receber, desculpar-se. É preciso saber vestir-se, dar
festas, ir a festas, sair com colegas e pessoas amigas, ir
à rua, a um restaurante, a um barzinho, a um lugar
da moda. Também é preciso saber conversar ou
escrever um bilhete, uma carta ou simples recado sempre que
isso for necessário, seja hora triste, seja hora alegre,
nossas ou das criaturas com quem vivemos, de quem gostamos.
É preciso saber o melhor comportamento no trabalho,
nos encontros, nos esportes, em toda e qualquer oportunidade.
Falando
nestas coisas, lembro-me com saudades de uma experiência
que tive em 1979 bem no século passado, no Rio de Janeiro,
período em que ministrava um curso de Linguística
para administradores do Banco do Brasil. Sempre que chegava
do almoço, via no elevador, nos corredores e na entrada
do auditório do Centro de Treinamento um vasto mundo
de mulheres elegantes e bonitas, lindas-lindas, cada uma mais
educada do que a outra. Num local em que a grande maioria
era sempre de homens, aquela quantidade de belezas no mínimo
parecia curioso, logo não tardando as explicações:
estava sendo realizado ali um curso de etiqueta com uma professora
da Socila, contratada pelo Banco para treinamento das secretárias
de alta direção. Era isso a razão do
belo visual e de toda finura de trato. Reunião de alta
importância, reunião de gente fina, o que é
outra coisa. Time de primeira linha, mesma professora que
treinava as equipes internacionais da Varig.
Dispondo da metade do tempo, pois só lecionava pela
manhã, por um caminhão de razões, não
tive outro jeito senão pedir ao chefe Dalton, que por
sua vez pediu à elegante professora, para que eu fosse
aceito como ouvinte e fiel observador de todas as lições.
Imagine, minha senhora, que situação! Um homem
só no meio de quarenta mulheres mais do que civilizadas.
Mesmo pegando o bonde já em meio de caminho, não
houve alternativa, tive que aprender tudo ou quase tudo. É
que nas discussões sobre o papel da mulher, nunca pude
deixar de representar o papel do homem, estabelecer o contraste
de posições. Por mais educação
que houvesse, foi briga de nunca acabar: “machista chauvinista,
representante da tradicional família mineira, bandido!”
Foi um sucesso de aprendizagem. E como!
NO
TEATRO NACIONAL DE BRASÍLIA
É
preciso saber descobrir sempre o lado gostoso e nobre de cada
momento de nossa vida. Buscar a felicidade é uma obrigação
e a própria busca deve ser um motivo de ser feliz.
É o que acontece comigo todas as vezes que entro no
foyer do Teatro Nacional de Brasília, que desço
a rampa aveludada e bonita e vejo aquela majestade de auditório,
aquele conjunto monumental que só Niemeyer poderia
imaginar e realizar. Ir ao Teatro Nacional de Brasília
me oferece um gratificante prazer, um bom motivo de alegria.
Foi assim a sensação que tive quando Dagmar,
Anderson e eu tomamos o primeiro contato com a nossa turma,
antes e durante a apresentação de Bibi Ferreira,
na peça Piaf, um sonho de interpretação.
Foi assim quando nos sentamos, bem em frente, ao palco, num
bom grupo composto por lasbek, Riza, Carlos Hetch, e Car men,
vendo do outro lado bons colegas de trabalho, tendo como destaque
em mais de meio auditório o charme de Ângela
Momm.
Curioso que tenha prevalecido em grande parte a cor vermelha,
um vermelho forte, vivo, flamejante. Entre nós, e muito
feliz, de vestido, bolsa e sapatos vermelhos, a Ivone. iria,
mais feliz ainda, com um rosa choque que, à luz da
noite, ninguém diria que não era vermelho. Valquíria,
Daniel, Eduardo, Roberto, Cardenas, todos de camisas vermelhas.
O Carlos, não sei se menos ou mais, também com
vários detalhes de vermelho. Quando acende a iluminação
do palco, o fundo espouca em vermelhidão intensa, vivíssima
como um campo de luta, formando conjunto com o foco avermelhado
que iluminou Bibi durante todo o tempo. Em contraste, como
num romance francês, o negro das roupas do luxo e da
pobreza que, de início, apavoram a consciência
e a visão do espectador. Para compor, de nosso lado,
a negritude da camisa do muito mineiro Moacir. De lá
e de cá sempre o negro e o vermelho.
A voz de Bibi Ferreira, a presença, os gestos, o pessimismo,
o lado difícil da vida que ela faz explodir a todo
instante, o minúsculo físico sem nenhum traço
de beleza, tudo marca a alma de Edite Piaf. É Piaf
purinha com a visão de contemporaneidade, é
realmente como se estivéssemos em presença dela.
Aliás, mais do que isso: as duas, se parecem, quase
uma mesma pessoa, todas duas famosas, marcadas visivelmente
pela muita idade, com desgaste que a própria vida artística
impõe e provoca. A voz, a princípio, miudinha,
pedindo desculpas por existir, de repente enche e preenche
o ambiente e vai tomando volume, ganhando corpo, envolvendo,
límpida, num crescendo admirável como se representasse
toda a força da sonoridade da
eterna França. É como se estivesse no espírito
dos cabarés de Paris, no Olímpia, o máximo
da glória de toda a arte, muito mais do que o Carnegie
Hall ou qualquer outro teatro do mundo, inclusive o Nacional
de Brasília, em que estamos presentes.
Ouço
e vejo Piaf e me transporto numa doce saudade para as ruas
parisienses, as praças, os monumentos, os «boulevards”,
os museus. Sinto no acordeom, na harmonia do fundo musical,
e atmosfera de cultura, do gosto de sensibilidade que os franceses
sabem cultivar com tanto amor. Vejo me no alto da Torre Eiffel,
no Arco do Triunfo, na Place de la Concorde” na Pigale,
no Sena, dentro de um bateau mouche, na Nôtre Dame,
nos teatros de revistas, no Louvre, no meu modesto hotel de
viajante solitário e muito feliz. Vejo-me correndo
do frio, embevecido com o colorido das luzes, das bancas de
jornais e revistas, das bancas de frutas vermelhinhas, com
os brilhos dos restaurantes e cafés, ah! os cafés!
Vejo-me envolvido com a alegria das crianças e a beleza
magra das mulheres, com a diversidade de tipos, com as roupas
que estrangeiros e franceses
desfilam nos passeios e jardins. Sonho e vejo!
E depois de tudo, emocionado, agradeço à arte
de Bibi e a oportunidade de estar em Brasília. Nada
melhor do que matar uma saudosa saudade!
NA
LOJA MAÇÔNICA DEUS E LIBERDADE
Foi
numa sexta-feira do mês de agosto do ano de mil novecentos
e sessenta e três a primeira vez que vi as luzes do
velho templo da “Deus e Liberdade”, ainda na Cel.
Joaquim Costa, onde fica hoje o Colégio São
Norberto. Minha impressão inicial era de que estava
num pequeno cômodo quadrado, com cadeiras altas, gente
sentada ao redor coladas às paredes, falando uma linguagem
teatral numa espécie de fogo cruzado, todos muito interessados
em conhecer os profanos cada qual querendo saber mais sobre
o que pensavam a respeito de uma série de coisas do
passado e do atual. As vozes eram todas minhas conhecidas,
nenhuma sem identificação, bastante familiares
para um já calejado repórter, político
e sindicalista bem entrosado em todas as camadas de pobres
e ricos de nobres e plebeus. Tudo me impressionou muito e
creio que também ao Renato Alencar, de Porteirinha,
meu companheiro de posse.
Dos que falavam mais de perto, lembro-me bem do Toninho Rebello,
do Renato Alarico, do Almerindo Mendes, do Luiz de Paula,
do Geraldo Novais, do José Gomes este um mestre-sala
que, parece, complicava mais as coisas mostrando que tinha
mais autoridade, Julinho Pereira, João Murça,
Arnóbio Abreu, Ewany Borges, Vadiolano Moreira, Tulio
Felício, Cristóvão Costa Mendes, Pedro
Spyer, Hélio Athayde, João e Terezo Xavier,
todos apareciam de vez em quando como a dizer que eu estava
no meio de amigos, não devendo temer mal nenhum, e
ao contrário, pudesse rejubilar-me de ser participante
de uma assembleia composta só de gente portadora dos
melhores e maiores méritos, de membros de uma sociedade
milenar e de muito bom exemplo em toda a história do
mundo. Mais distantes, mais calados, Antônio Franco
Amaral, Antônio Aquino, Raulemar do Conto, Djalma Coelho,
Rodolfo Cândido, Antônio Pernambucano, Antônio
Cassimiro, Tasso Rodrigues, Pedro Paulo e Paulo Pedro Costa,
Nenenzinho, e o meu quase conterrâneo Joviniano Ramos,
todos curiosos e contentes com sorrisos de quase mistério.
Se dependesse só da memória, não sei
se poderia hoje descrever todos os acontecimentos da noite,
tão bonitos, tão fartos pela rápida sucessão,
tão harmoniosos no conjunto, assim como a servir de
eternos lembretes para uma vida de real fraternidade. Sei
que não devo ter falhado em nada da confiança
que em mim depositavam, porque também sabia que a seriedade
dos meus acompanhantes não deixava dúvida quanto
à importância do momento.
Deve ter sido um caso de confiança mútua, assim
de conivente compreensão de ambas as partes, cada lado
procurando demonstrar maior lealdade, pois, no fim, saímos
todos para um jantar no Restaurante Mangueira, na Rua Dr.
Santos, um encontro bastante amigável.
Pergunto a mim mesmo se tenho saudades dos meus primeiros
tempos de Deus e Liberdade, um pequeno grupo empenhado em
desenvolver um trabalho social de grande alcance, onde a lembrança
de Chico Tófani, Francolino Santos, João de
Paula, trabalhadores de muitos anos, era sempre uma constante,
nunca esquecidas por Fernando Jabbur, Almerindo Brito, Alício
Mendes, entre os amis vivi dos no lado mais importante de
todos os acontecimentos. Lembrome bem de Waldir Macedo, de
Giru Amaral, de Gentil Antunes, de Joel Stark, de Walter Suzart,
todos de melhor companheiragem, tudo gente muito boa e de
convívio bem agradável como acontecia com Jonas
Almeida, Ormezindo Assis Lima, Aristides e Quincas Barbosa,
Daniel Guimarães, Geraldo Borges, Carlúcio Freitas,
Didi e Djalma Guimarães, Jaime Mendes e tantos outros.
Muitos já não se encontram entre nós
causando falta, marcando apenas a lembrança. De lá
para cá, bem mais de uma centena de bons companheiros
chegaram para perto do trabalho e do estudo, construindo mais
amizades, revolvendo a terra da história em busca do
grande monumento que é hoje a nossa Loja. Tenho sido
muito feliz todos estes anos, mais de encontros que de desencontros,
mais de conforto que de desconforto, sobretudo muito mais
de pureza de sentimentos, na verdade o único material
com que se pode construir a solidariedade e o amor. E ainda
bem que a vida tenha esse lado bom de se viver...
FUNDAÇÃO
DA FACULDADE DE DIREITO
Normalmente,
chegávamos à casa do professor José Oliveira
Fonseca na Rua Carlos Pereira, às cinco da manhã.
Todos os dias, de segunda a sábado, lá estávamos
para a aula de análise sintática e de outras
questões mais objetivas da língua portuguesa.
Não éramos muitos, mas, éramos bastante
curiosos e interessados, principalmente o Mauro Lafetá,
o Corbiniano Aquino, o Afrânio Nogueira, o Adil Oliveira
e eu. Eles, candidatos ao vestibular de Direito em Pouso Alegre
ou Niterói; eu, estudante do curso de Letras, aproveitando
a maestria do professor Fonseca, o melhor que passou pela
disciplina em Montes Claros.
Era um tempo excelente, alegre, pleno de maduro entusiasmo,
sonhos de pessoas que, a certa altura da vida, sabem o que
fazer e com que se ocupar. O Afrânio acabava de deixar
as aulas de primeiro estágio do madureza e já
cursava, à noite, as últimas unidades para enfrentar
o segundo grau, num esforço tremendo de ano e meio
entre a escola primária e a universidade. O Mauro,
com toda aquela pose que Deus lhe deu, sério, compenetrado,
sonhador, quase já exigia que o tratássemos
de doutor. Era tudo uma beleza, embora o professor nunca nos
tenha dado um cafezinho para espantar o sono do levantar tão
cedo...
Foi
por aí, madrugadas em transformação de
aurora, manhãs de gostoso friozinho para pouco agasalho,
que o professor e nós fizemos as primeiras propostas
para a fundação da Faculdade de Direito. Entre
uma análise e outra, entre um verbo e um substantivo,
uma nova observação sobre o futuro da segunda
faculdade de Montes Claros. Quem estaria disposto a colaborar?
Com quais advogados poderíamos contar para a formação
do corpo docente? Quem poderia ser o primeiro diretor? Onde
funcionar? Onde buscar apoio financeiro? Eram perguntas e
mais perguntas, tão constantes e tão assíduas
como os próprios formuladores. Não durou muito
tempo a temporada de sonhos e cogitações e,
em menos de um mês, já estávamos na rua,
buscando apoio, tendo-o encontrado no deputado Euler Lafetá,
tio do Mauro e homem próximo ao Governo, e no Inspetor
Federal José Monteiro Fonseca, que ficou mais entusiasmado
do que nós próprios. A luta tomava corpo, criava-se
o espírito de séria decisão. O Mauro
cada vez mais encantado e, antecipadamente, vitorioso.
Iniciamos as primeiras consultas aos principais advogados,
através de uma comissão – Mauro, Afrânio
e eu – num desdobramento de trabalho feito antes por
Francolino Santos e Corby. Ninguém pode imaginar nem
prever as reações humanas e profissionais diante
de um desafio. Poderíamos calcular onde estaria o desinteresse
pessoal, o desprendimento, o entusiasmo ou, ao contrário,
o medo de futuro concorrência? E quem em perfeito juízo
poderia acreditar naqueles sonhadores, querendo fazer as coisas
de baixo para cima, invertendo toda a lógica aceitável?
Realmente,
diante da proposta, futuros mestres mostraram-se ora alegres,
ora tristes, na maioria das vezes terrivelmente irônicos.
“Quem” era mesmo que queria fundar uma faculdade
de Direito em Montes Claros? Que saberiam aqueles três
sobre espírito universitário? Loucos era o que
pensavam que éramos... Por que não iam estudar
por correspondência como fizeram tantos outros, passeando
de vez em quando? Seria mais fácil do que criar uma
escola...
Dois fatores tornaram-se importantíssimos em nossa
luta: o Jornal de Montes Claros ficou contra, afirmando a
não necessidade de formação de novos
bacharéis, o mundo já estava muito cheio de
advogados; apareceram interessados em nosso trabalho: o professor
João Luiz de Almeida e os deputados Francelino Pereira
e Cícero Dumont. Doutor João cedeu-nos as instalações
do Instituto para funcionamento da escola e se dispôs
a ser o primeiro diretor; Francelino levou as ideias e os
planos ao governador Magalhães Pinto; Cícero
organizou os estatutos da Faculdade e da Fundação
que viria unir FAFIL e FADIR.
Ninguém poderia segurar mais. O contra e o a favor
estimularam ainda mais nossa frente batalha. A reação
da imprensa provocou um desafio, a ajuda dos amigos poderosos
deu o tempero que faltava.
Hoje um final mais do que feliz, com a FADIR – agora
Centro de Ciências Jurídicas, completando 34
anos! Tenho bem guardadas as gravações do dia
definitivo da fundação, reunião realizada
na Rua
São Francisco, na Delegacia de Ensino, sala de trabalho
de José
Monteiro Fonseca!
OUTRA
VEZ EM LISBOA
Nova
crônica sobre a viagem a Portugal com a mesma alegria
de quase meio século atrás, tudo mais do que
gratificante. Agora como dantes, as palavras de carinho recebidas
em casa, nas reuniões, nas visitas feitas e recebidas,
de muitos e muitos dos amigos. Quando um assunto versa sobre
alguma coisa de mais pessoal, fala mais ao coração,
transubstancia sentimentos, vale pela carga ou sobrecarga
de afetividade, diz o que muitos ou todos gostariam de dizer.
Momentos de felicidade agradam e sensibilizam, graças
a Deus! E o mundo está precisando muito de vibrações
mais positivas, de alegria, de amizade sincera e franca. Assim,
dou-me por satisfeito e volto ao assunto, o que estava mesmo
nos meus planos ao falar das novas andanças pela pátria-mãe.
É possível que a parte maior da felicidade em
Lisboa e grande parte de Portugal tenha sido pela companhia
dos queridos anfitriões Eusa Rego e Antônio Salgado
e de Olímpia,
Rízzia, Jonathan e Andrew, gente do coração,
companheiros de viagem, que engrandecem o ato de viver.
Nunca me esqueço da primeira viagem por lá,
principalmente de Dulce Sarmento e Antônio Ramos, hoje
amigos no plano das saudades. Que bons colegas e quanta jovial
sinceridade naqueles dois! Como amavam a vida! Fazia gosto
vê-los quedados diante da beleza, emudecidos de emoção
diante do bem. Antônio Ramos era homem de conhecer o
que havia de melhor no mundo e por isso, era viajante incansável
ao lado de D. Flora, sua mulher. Dulce Sarmento, a arte personificada,
uma fé que beirava à santidade, tinha na balança
do belo a leveza dos anjos! Foi assim, no passado e agora,
no meio de grupos admiráveis que vi Lisboa, Sintra,
Cascais, Coimbra, Setúbal, Alcobaça, Almada,
Fátima, Queluz, Santarém, Batalha, cidades que
mais encantam os brasileiros e conosco se encantam também.
Não posso calcular no quanto a modernidade política
tenha modificado a capital e o povo da nação
portuguesa, depois da descolonização da África
da volta dos retornados e do surto econômico da União
Europeia. Mas, por mais que tudo isso tenha feito, acredito
que Portugal ainda é um país tradicional, bonito
e charmoso para nunca se esquecer! Por lá, passei também
duas vezes sozinho, solitário, ruminando emoções
no Castelo de São João, nas ruas estreitas de
Alfama, nas margens do Tejo, na Estufa Fria, às margens
da Avenida da Liberdade e até no barulho das Praças
do Comércio e dos Restauradores. É preciso tempo
e coração para descobrir, conhecer Lisboa, eterna
menina e moça, linda e encantadora. Como é gostoso
ouvir os falares do povo, principalmente os mais novos, os
que, namorando, falam com a melodia do amor! Como é
bonito o idioma português falado
nas tascas, onde os bebedores ainda não bêbados
soltam a língua com a musicalidade que só os
libertos pelo torpor do vinho conseguem!
Tudo é bonito quando estamos felizes: o barulho das
crianças, o anúncio dos vendedores, a algazarra
dos desocupados! Sons, cores, movimentos, gestos, tudo é
alegria! É preciso saber viver cada momento, tirar
da vida os encantos que a vida tem, agradecer a Deus cada
minuto bom que a existência nos oferece, nos proporciona,
nos permite. Merecedores ou não, é gratificante
aproveitarmos, fruirmos cada instante feliz. Não importa
onde nem quando. E se for em Portugal ou somente a Lisboa,
então nem é preciso pensar: a realidade é
mais do que o sonho...
CURRÍCULO
- WANDERLINO ARRUDA
Mineiro
de São João do Paraíso, nascido em 3
de setembro de 1934, tem cursos de Contabilidade, Letras e
Direito, pós-graduação em Linguística,
Semântica e Literatura Brasileira, especialização
em Comunicação Social e Metodologia de Ensino
Superior.
Educador na Universidade Corporativa Banco do Brasil, professor
aposentado da UNIMONTES, fundador e primeiro presidente de
duas instituições montes-clarenses: Instituto
Histórico e Geográfico de Montes Claros e Academia
Maçônica de Letras do Norte de Minas. Consultor
da Fundação Rotária Brasileira, membro
da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais (Belo
Horizonte), da Academia de Letras dos Funcionários
do Banco do Brasil (Rio de Janeiro), da Academia de Letras,
Ciências e Artes do São Francisco e da Comissão
Interpaíses Brasil, Portugal e Países de Língua
Oficial Portuguesa (São Paulo). Sócio Emérito
do Instituto Histórico e Geográfico de Minas
Gerais.
Palestrante em encontros literários, religiosos e maçônicos
e em conferências regionais, seminários, fóruns
e institutos nacionais dos Rotary. Jornalista, pintor, cronista
e poeta, publicou Tempos de Montes Claros, Jornal de Domingo,
O dia em que Chiquinho sumiu, Feeling-Poems, Emoções,
Short Stories, Emociones, Construtores de
Montes Claros, Prefácios e Comentários, Elogio
das Letras (em parceria com o escritor Dário Teixeira
Cotrim), Efemérides da Academia Montes-clarense de
Letras, Vivências, Rotary Club de Montes Claros-Norte,
História e Didática d’O Livro dos Espíritos
e Montesclaridades e os e-books Poemas de Puro Amor, Poemas
e Crônicas e Vida e Poesia. Prêmio nacional de
pintura, participa de várias antologias literárias,
regionais e nacionais. Tem vários blogs e é
webmaster
de vários sites regionais e nacionais.
Em Montes Claros, foi presidente do Sindicato dos Bancários,
do Esperanto-Klubo, da Fraternidade Espírita Canacy,
da Academia Montes-clarense de Letras, da Academia Maçônica
de Letras do Norte de Minas e da Câmara Municipal. Foi
membro do Conselho Editorial da Unimontes, Diretor Cultural
do Automóvel Clube, Vice-presidente da Câmara
de Comércio Luso-brasileira em Minas Gerais, Delegado
do Grau 33 da Maçonaria, Secretário de Cultura
e diretor do Patrimônio Histórico. Sócio
fundador do Rotary Clube de Montes Claros-Norte, é
Sócio Honorário de R. Clubes de Belo Horizonte
e do Norte de Minas. Governador e Diretor do Elos Internacional,
Governador 94/95 do Distrito 4760 do Rotary International,
tem diversos destaques: Academia Rotária; Reconhecimento
Presidencial, Troféu Internacional Paulo Viriato, Companheiro
Paul Harris, Benfeitor da Fundação Rotária.
Formador de governadores Brasil-Portugal (2000), em Anaheim,
USA, coordenador da Força Tarefa de Serviços
à Comunidade Mundial do RI (2001), Protocolo-assistente
na Convenção Internacional do RI na Argentina
(2000), Training Leader nos Institutos Rotários do
Brasil, de Recife, São Paulo, Foz do Iguaçu,
Aracaju e
Florianópolis, Coordenador 2004-05 da Fundação
Rotária (Brasil), Representante do Rotary International
nas Conferências de Blumenau, Salvador, Goiânia,
Feira de Santana, Salto (Uruguai), Concórdia e Salta
(Argentina). Fundador de vinte e seis Rotary Clubes.
Participações: Convenções Internacionais
dos Elos da Comunidade Lusíada, Lisboa, Teresópolis
e Belo Horizonte; Congressos Internacionais de Esperanto e
Espiritismo, Brasília; Assembleias do Rotary International
1994 e 2000 (Team Leader), Los Angeles; Convenção
Pan-Americana, Rio de Janeiro; Congresso Internacional do
Rotary/Nações Unidas e Convenção
Internacional do Rotary, Buenos Aires; Festival del Proyecto
Cultural Sur de Escritores y Artistas, Havana; Conferência
Latino-Americana do Crescimento Populacional e do Desenvolvimento
(Coord. de Equipes), Brasília; Congresso Internacional
de Empresários Brasil-Portugal, Belo Horizonte; Conselho
Internacional de Legislação 2001 e Institutos
Internacionais da Fundação Rotária 2004
e 2005, Chicago. Pets Multidistrital do Rotary, Brasília-
DF.
Homenagens:
Cidadão Benemérito de Montes Claros. Personalidadedo
Século - Jornal Hoje em Dia/ Theodomiro Paulino. Personalidade
no Sesquicentenário de Montes Claros, em 2007. Medalhas
João Pinheiro e Israel Pinheiro, do Instituto Histórico
e Geográfico de Minas Gerais, Medalha Mathias Cardoso,
do Governo de Minas.
Casado com a artista plástica e professora Olímpia
Rego Arruda (Design de Interiores), o casal tem sete filhos:
João Wlader (Graduado em Direito - RC Montes Claros-São
Luiz, RC New York -Oceanside e Tulsa-Sunrise), José
Danilo (Graduado em Design de Interiores - RC Belo Horizonte-Serra),
Denilson (Graduado em Jornalismo),
Wladênia(Graduada em Direito e Letras Português/Inglês),
Wanderlino Filho (Graduado em Ciências - RC Montes Claros-União
e Manaus-Adrianópolis ), Rízzia (Estudos de
Comércio Exterior -
Intercambista nos Estados Unidos (RC Montes Claros-Norte e
RC Coshocton, Ohio) e Gracielle (Graduada em Publicidade -
RC Montes Claros-Sudeste); netos: Mayra, Lívia, Fernanda,
Pedro Henrique, Natália, Heitor, Gabriela, Andrew,
Roberto, Lucas, Pedro Lucas, Arlie Emanuel e Marcelo; bisnetos,
Clara Star e Luca Moon.
CRONOLOGIA
•
6 anos – Aprendi soma, subtração, multiplicação
e divisão com Deoclides Oliveira, meu primo.
• 7 anos – Aluno na escola particular do Prof.
Joaquim Rolla, escrita, aritmética, leitura de três
livros. Multiplicação e divisão por doze
algarismos, em lousa de ardósia, limpeza com cuspe.
• 8 anos – Aluno da escola pública estadual,
Professora D. Adelina – leitura do livro do terceiro
e quarto anos, redação de pequenos textos, e
boa noção de desenhos.
• 10 anos - Mudança para Salinas, – terceiro
ano primário com a professora Heloísa Veloso
Sarmento, mais tarde minha colega de magistério e confreira
na Academia Montes-clarense de Letras.
• 11 anos – Mudança para Mato Verde –
trabalho na venda de João Alves Neves – o primeiro
magistério foi ensinar alguns fregueses a jogar poker.
Um delegado chegante viu o menino no jogo e o proibiu de encostar-se
no pano verde, sob pena de prisão do empregador e do
pai. Foi a última vez que toquei em uma carta de baralho.
• 13 anos – Conclusão do quarto ano primário
com Distinção e Louvor, Professora Zulmira Santos.
Leitura de todos os livros da Biblioteca da escola. Primeiros
discursos em público, em nome da escola e da cidade.
Trabalho na Agência do Correio, com Leúde Leão
Hugues, aprendendo tudo de Correios e Telégrafos, inclusive
o código Morse.
• 14 anos – Início da produção
de charadas.
15
anos – Mudança para Taiobeiras. Trabalho na Agência
do Correio. Início do namoro com Olímpia, que
tinha 12 anos. Início de confecção de
palavras cruzadas e aperfeiçoamento na confecção
de charadas, com publicação na Revista Libertas
da PMMG, (Belo Horizonte), na Revista da Marinha (Rio de Janeiro).
Permuta de charadas e palavras cruzadas com oficiais da FAB
(Capitães e Majores), que faziam, semanalmente, o Correio
Aéreo Nacional (passando por Taiobeiras).
• 16 anos – Mudança para Montes Claros
em janeiro de 1951. Moradia na Pensão de D. Tonica,
Rua Afonso Pena, esquina com a Rua Padre Marcos. Curso de
Admissão e primeiro ano ginasial no Colégio
Diocesano, diretor Monsenhor Osmar Novais de Lima. Trabalho
na Imperial-Lojas Reunidas, de Joaquim F. Rodrigues Correia.
Mudança de trabalho para a Casa Elza, de Ernesto Rodrigues
Neves, gerente Manoel Alves Neves – Bias (quando terminei
de estudar datilografia). Mudança para a Pensão
de D. Ismênia, Rua Doutor Santos, esquina com a Rua
Dom João Pimenta.
• 17 anos – Mudança para a Pensão
de D. Duca, Rua Doutor Santos, entre as Ruas D. Pedro II e
Dom João Pimenta, onde mais tarde foi o Prontocor.
• 18 anos – Soldado 89 do Tiro de Guerra 87, comandado
pelo Sargento Moura, Rua Tiradentes, esquina com a Praça
da Estação. Colega de serviço militar
ainda vivo, o soldado Humberto Souto.
• 19 anos – Mudança para o Rio de Janeiro,
Ilha do Governador, Aeroporto do Galeão, onde meu tio
Argemiro Morais trabalhava (Panair do Brasil). Volta
para Montes Claros. Trabalho no Empório Neves, de João
Alves Neves. Trabalho no setor de atacado de Loyola &
Cia. Rua Rui Barbosa, esquina com a Rua São Francisco.
Presidente do Diretório dos Estudantes de Montes
Claros, sucedendo Waldyr Sena Batista.
• 20 anos – Segundo lugar geral no 3º ano
de ginásio do Colégio Diocesano. Quarto ano
no Instituto Norte Mineiro de Educação, diretor
dr. João Luiz de Almeida. Primeiro lugar em concurso
no Banco Hipotecário e Agrícola de Minas Gerais.
Início como profissional no “O Jornal de Montes
Claros” e colaborador
na Gazeta do Norte. Professor de Inglês e Português
na Escola
Normal, Sobradão da Rua Coronel Celestino. Cadeira
permanente como jornalista nas reuniões do Rotary Club
de Montes Claros (antigo Hotel São Luiz, presidente
Luiz de Paula Ferreira). Diretor-fundador da Tribuna do Estudante.
• 21 anos – Primeiro lugar no concurso do Banco
do Nordeste do Brasil. Posse na Agência de Montes Claros,
setor de Cadastro (Analista de balanços) e, algum tempo
depois, trabalho como fiscal agrícola região
Norte de Minas. Diretor-fundador da Folha do Estudante. Presidente
do Grêmio Lítero-contábil João
Luiz de Almeida, do Instituto Norte Mineiro de Educação.
• 23 anos – Conclusão, em primeiro lugar,
do Curso Técnico de Contabilidade no Instituto Norte
Mineiro de Educação. Chefe do Escritório
e Contador da Cooperativa Agropecuária de Montes Claros
(maior faturamento regional). Casamento com Olímpia
Rego Arruda, depois de sete anos de namoro e um de noivado
(15 de outubro de 1957). Professor de Contabilidade Bancária
e Língua Portuguesa no Colégio Imaculada Conceição
e no Instituto Norte Mineiro de Educação e de
Língua Portuguesa no Colégio Diocesano. Nascimento
de João Wlader.
• 24 anos - Terceiro lugar nacional no concurso do Banco
do Brasil. Curso de Cooperativismo do Estado de Minas Gerais,
Secretaria da Agricultura, Belo Horizonte.
• 25 anos - Posse como escriturário no Banco
do Brasil, Agência de Montes Claros, Rua Doutor Veloso,
esquina com a Rua Presidente Vargas. Delegado Regional da
União Colegial de Minas Gerais. Nascimento de José
Danilo.
• 26 anos - Secretário do Sindicato dos Bancários
de Montes Claros.
• 27 anos - Membro da Diretoria da Federação
dos Bancários dos Estados de Minas e Goiás (Belo
Horizonte). Nascimento de Denilson.
•
28 anos - Eleição para a Câmara Municipal
de Montes Claros, pelo Partido Social Democrático.
Repórter e cronista no Diário de Montes Claros.
Representante da Federação dos Bancários
de Minas e Goiás no Congresso Nacional de Bancários
em Salvador e, meses depois, no andamento da greve dos funcionários
do Banco do Nordeste, juntos aos Sindicados dos Bancários
em Salvador, Recife e Fortaleza, com assinatura do acordo.
• 29 anos - Presidente do Sindicado dos Bancários
de Montes Claros. Início do Curso de Letras (Português/Francês)
na primeira turma da Fafil – Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras do Norte de Minas. Prêmio no
Concurso de Monografias sobre Manuel Maria Barbosa du Bocage,
do Elos Clube Internacional.
• 30 anos – Presidente da Fraternidade Espírita
Canacy. Professor de Língua
Portuguesa na Escola Estadual Professor Plínio Ribeiro.
Membro da Comissão de Fundação da Faculdade
de Direito do Norte de Minas. Publicações na
Revista Montes Claros em Foco.
• 31 anos - Cursos de Liderança de Reuniões
e Relações Humanas no Trabalho, Universidade
do Ceará, Fortaleza. Curso de Suficiência em
Língua Portuguesa - Universidade Federal de Minas Gerais,
Belo Horizonte. Vice -presidente da Câmara Municipal
de Montes Claros. Presidente da Junta Governativa do Sindicato
dos Bancários de Montes Claros. Sócio efetivo
do Elos Clube de Montes Claros. Nascimento de Wladênia.
• 32 anos - Presidente da Câmara Municipal de
Montes Claros. Conferencista
com o tema A Língua Portuguesa no Brasil no Congresso
do Elos Internacional, em Lisboa. Extensão da viagem
à Espanha, França e Suíça durante
trinta dias. Curso de Introdução às Línguas
Artificiais, Palais de la Découverte, Paris. Reeleição
para a Câmara Municipal de Montes Claros.
• 33 anos – Graduação no Curso de
Letras (Português/Francês). Professor Assistente
de Língua Portuguesa e de Linguística na Faculdade
de Filosofia, Ciências e Letras do Norte de Minas. Nascimento
de Wanderlino Filho.
•
34 anos - Curso de Aperfeiçoamento de Professores de
Língua Portuguesa, Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras de Belo Horizonte. Curso de Grafotecnia, Banco do
Brasil/DESED, Centro de Formação de Belo Horizonte.
Curso Teoria da Comunicação, Banco do Brasil/COMAD,
Brasília- DF. Curso de Dinâmica de Texto, Banco
do Brasil/CEFOR, Brasília-DF. Professor formador de
administradores do Banco do Brasil, Brasília, Rio de
Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. Chefe do Departamento
de Letras da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras
do Norte de Minas. Nascimento de Rízzia.
• 35 anos - Curso de Suficiência de Língua
Portuguesa - Universidade Federal de Juiz de Fora. Sócio
fundador e Vice-presidente do Rotary Clube de Montes Claros-Norte.
Sócio efetivo do Elos Clube de Montes Claros.
• 36 anos – Curso de Especialização
em Linguística e Literatura Brasileira pela Universidade
Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte. Professor
de Didática para Supervisores do Banco do Brasil (Orientação
de Treinamento em Serviços), Brasília-DF e outras
capitais.
• 37 anos -Curso de Sociologia e Política –
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. 3º
Congresso Brasileiro de Língua e Literatura –Universidade
Federal do Rio de Janeiro. Cidadão Benemérito
de Montes Claros, pela Câmara Municipal.
• 38 Anos - Curso de Modernas Técnicas Didáticas
de Ensino Superior, Universidade Federal de Minas Gerais,
Belo Horizonte. Professor Titular de Língua Portuguesa
e de Linguística, Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras
do Norte de Minas.
• 39 anos – Curso de Metodologia de Ensino Superior,
da Fundação Universidade Norte Mineira e membro
do Conselho de Redação da Revista Vínculo.
Pós-graduação em Gramática Gerativa
Transformacional, Semântica, Linguística e Literatura
Brasileira, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
•
40 anos – Início da atividade de pinturas a óleo
e acrílicas, aulas com Samuel Figueira, Konstantin
Christoff, Godofredo Guedes, Raimundo Colares e Cristina Rabelo.
Coordenador da Feira de Artes de Montes Claros. Presidente
do Elos Clube de Montes Claros. Coordenador do Congresso Espírita
Centro-Norte de Minas, Montes Claros. Nascimento de Gracielle.
• 41anos - Professor Homenageado na Formatura do Curso
de Letras da FAFIL, Montes Claros.
• 42 anos – Sócio efetivo da Academia Montes-clarense
de Letras, Cadeira 30, Patrono Antônio Augusto Teixeira.
Elevação ao Grau 33 pelo Supremo Conselho da
Maçonaria, República Federativa do Brasil, Rio
de Janeiro. Exposição de Pinturas no Centro
Cultural Hermes de Paula. Presidente do Conselho de Kadosh
da Maçonaria, Montes Claros. Redator-fundador do Jornal
da Loja Maçônica Deus e Liberdade, Montes Claros.
• 43 anos – Formador no Curso de Palestrantes
- Banco do Brasil, em Brasília-DF e outras capitais
(Didática de Comunicação para Administradores).
Paraninfo do Curso de Letras da Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras do Norte de Minas. Conferencista na Convenção
Internacional do Elos, Teresópolis, RJ. Diretor no
Conselho Superior do Elos Internacional. Delegado Litúrgico
Região 3, do Supremo Conselho do Grau 33 da Maçonaria.
Presidente da AME-Aliança Municipal Espírita
de Montes Claros. Participação ativa no Encontro
Nacional de Professores de Literatura, Universidade Católica,
Rio de Janeiro, e no Seminário Nacional de Metodologia
para Avaliação de Redações, Belo
Horizonte.
• 44 anos – Elaboração do Módulo
de Instrutores de Linguística Aplicada à Comunicação,
Direção Geral do Banco do Brasil, Brasília
- DF. Professor titular de Linguística e Língua
Portuguesa (UNIMONTES). Governador do Distrito 3 do Elos Internacional.
Participação ativa no IV Jornada de Estudos
Linguísticos, Teresina, PI. Redator e cronista no Jornal
do Norte, Montes Claros. Publicação do primeiro
livro – Tempos de Montes Claros. Coordenador da publicação
do Livro Montes Claros, Sua História, sua Gente
e seus Costumes, de autoria de Hermes de Paula (Loja Maçônica
Deus e Liberdade). Personalidade do Ano (ARTES), pelo Jornal
de Minas/Diário de Montes Claros/Thedomiro Paulino.
• 45 anos – Curso de Pré-História
– Sociedade de Pré-História e Paleontologia
de Minas Gerais, Belo Horizonte. Diretor do Concurso Anual
e Permanente de Pinturas de Montes Claros. Diretor do Serviço
de Intercâmbio de Jovens, do Rotary International, Montes
Claros. Presidente do CRE- Conselho Regional Espírita
Centro-Norte de Minas Gerais. Secretário da Academia
Montes-clarense de Letras. Destaque do Ano (LITERATURA), O
Jornal de Montes Claros/Lazinho Pimenta.
• 46 anos – Prêmio de Pintura, Federação
Nacional de AABBs- Fenab – Goiânia. Membro da
Brazilo Esperanto Ligo, Rio de Janeiro - da Universala Esperanto-Asocio,
Rotterdam- Holanda - e da Fundação Lorenz, Rio
de Janeiro.
• 47 anos –Sócio Efetivo da Academia Municipalista
de Letras de Minas Gerais, Belo Horizonte, Patrono: Nelson
Washington Vianna. Presidente da Academia Montes-clarense
de Letras. Conferencista no encerramento do Congresso Internacional
de Esperanto, Brasília - DF. Palestrante na área
de Semântica e Comunicação do Projeto
Rondon.
• 48 anos - Membro Honorário da Loja Maçônica
Acácia Montesclarense. Sócio Benemérito
da Associação dos Repentistas e Poetas Populares
do Norte de Minas. Publicação do livro Jornal
de Domingo.
• 49 anos – Posse como Sócio Efetivo da
Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil,
Rio de Janeiro. Curso de Esperanto, Prof. Antônio Felix
da Silva. Supervisor do Posto Avançado do Banco do
Brasil em Mirabela.
• 50 anos – Sócio Benemérito de
Montes Claros, pela Câmara Municipal.
• 51 anos – Homenagem Presidencial pelo Rotary
International –, Chicago, USA. Congresso Internacional
de Espiritismo, Brasília - DF. Presidente doCongresso
Maçônico da Região Mineira da SUDENE,
Montes Claros. Presidente do Segundo Seminário de Direito
Civil- SEUD, Montes Claros.
• 52 anos – Presidente do Montes Claros Esperanto
Klubo. Gerente da Agência do Banco do Brasil, Capitão
Enéas. Exposição Individual de Pintura
– Banco do Brasil- Sede IV Brasília - DF. Palestrante
no Congresso Brasileiro de Teoria e Crítica Literária
em Campina Grande, PA.
• 53 anos - Colação de Grau pela Faculdade
de Direito do Norte de Minas, Ordem dos Advogados do Brasil
- 52667. Professor do Curso de Jornalismo, na Fundação
Educacional Montes Claros. Publicação do livro
O dia em que Chiquinho sumiu.
• 54 anos - Diploma de Mérito pela União
dos Escoteiros do Brasil. Segunda edição do
livro O dia em que Chiquinho Sumiu. Redator e cronista no
Jornal de Notícias.
• 55 anos – Aposentadoria no cargo de Gerente
da Agência do Banco do Brasil em Capitão Enéas,
31 anos de carreira, frequência em tempo integral, nenhuma
falta, nem por doença. Conferencista na Convenção
Internacional
do Elos, Belo Horizonte, MG. Ombudsman do Jornal de Notícias.
• 56 anos – Homenageado no Primeiro Salão
Nacional de Poesia - Psiu Poético. Secretaria de Cultura/Prefeitura
Municipal de Montes Claros.
• 57 anos - Prêmio Distrital por Serviços
Prestados à Fundação Rotária com
Excepcional Dedicação, Belo Horizonte. Última
Exposição Individual de Pintura – Centro
Cultural, Montes Claros.
• 58 anos - Comenda Paul Harris, da Fundação
Rotária, Chicago, USA. Paraninfo do Curso de Artes,
Montes Claros. Membro-fundador e Presidente
do Conselho Deliberativo da Guarda Mirim, Montes Claros.
• 59 anos - Personalidade do Ano 1993 – Jornal
do Norte/Theodomiro Paulino. Um dos cinco convidados de Montes
Claros para a posse de Darcy Ribeiro na Academia Brasileira
de Letras, Rio de Janeiro.
•
60 anos – Assembleia Internacional do Rotary, Anaheim/Los
Angeles, USA. Governador do Distrito 4760 do Rotary International.
Prêmio Mérito Distrital pelo Rotary International.
Diploma de Colaborador Emérito da Polícia Militar,
pelo Comando Geral, Belo Horizonte. Personalidade do Ano,
Jornal Hoje em Dia/Theodomiro Paulino.
• 61 anos - Secretário de Cultura de Montes Claros.
Diploma de Reconhecimento do Rotary International por Serviços
Prestados, Taipei, Taiwan. Troféu Paulo Viriato, por
ter sido o maior fundador de Rotary Clubes no ano de Governadoria
do Distrito 4760 (fundação de 13 Rotary Clubes).
Prêmio Distrital da Fundação Rotária.
Criação dos sites Wanderlino Arruda e Espiritismo
Online.
• 62 anos – Professor de Comunicação
e Oratória na Faculdade de Direito do Norte de Minas.
Diretor do Patrimônio Histórico e Cultural de
Montes Claros. Membro do Conselho do Plano Diretor de Montes
Claros. Benfeitor da Fundação Rotária,
Chicago, USA.
• 63 anos - Representante do Presidente do Rotary International
na Conferência do Distrito 4650, Blumenau, SC. Professor
no Curso de Oratória para Oficiais e Sargentos do 55º
Batalhão do Exército – Montes Claros.
Criação dos sites Rotary Club Montes Claros-Norte
e Montes Claros, Cidade da Arte e da Cultura.
• 64 anos -– Representante do Presidente do Rotary
International na Conferência do Distrito 4550, Salvador/Itaparica,
BA. Conferencista no Instituto Rotário do Brasil, Brasília
- DF. Criação dos sites Fraternidade Espírita
Canacy e Aliança Espírita de Montes Claros
• 65 anos – Training Leader na International Assembly,
Anaheim/Los Angeles, USA, na formação dos Governadores
2001/2002 -Brasil e Portugal. Conferencista área de
Literatura Brasileira, no Festival del Proyecto Cultural Sur,
Havana, Cuba. Diploma de Ação Participativa
na Polio Plus, firmado pelo Ministério da Saúde,
Brasília-DF.
•
66 anos – Training Leader no Instituto Rotário
do Brasil – Foz do Iguaçu, PR. Fala sobre Comunicação
no Congresso Internacional do Rotary/Nações
Unidas, Buenos Aires. Diretor de Protocolo Assistente na Convenção
Internacional do Rotary - Buenos Aires, Argentina. Personalidade
do Século,
Jornal Hoje em Dia/Theodomiro Paulino. Criação
dos sites Fundação Rotária,
Wanderlino Crônicas e Wanderlino Poesias.
• 67 anos - Membro da Comissão Organizadora da
Conferência Latino Americana Sobre População
e Desenvolvimento, Rotary International, Brasília-DF.
Membro da Delegação Brasileira no Conselho Internacional
de Legislação do Rotary – Chicago, USA.
Participação ativa no Instituto Rotário
do Brasil, de Porto Alegre, com relatório favorável
à criação do cargo de Governador Assistente.
Participação no Congresso Brasil-Portugal -Desafios
do Milênio, Belo Horizonte, MG.
• 68 anos – Representante do Presidente do Rotary
International na Conferência do Distrito 4960, Salto,
Uruguay, e Concordia, Argentina. Visita
Oficial à Logya Masonica Hiram, Salto, em que era Venerável
o General Giuseppe Garibaldi, móveis ainda do seu tempo
(1852).
• 69 anos –- Training Leader no Instituto Rotário
do Brasil, Blumenau, SC.
Coordenador do Instituto Rotário do Brasil, Cuiabá,
MT. Membro Fundador
do Conselho de Desenvolvimento e Consultoria Política
de Montes Claros.
• 70 anos – Coordenador da Fundação
Rotária no Brasil (Norte de São Paulo até
o Acre. Representante do Presidente do Rotary International
na Conferência do Distrito 4770, Goiânia, GO.
Instituto Internacional da Fundação Rotária,
Chicago, USA. Coordenador do Instituto Rotário do Brasil,
Florianópolis, SC. Conferencista do Instituto Rotário
do Brasil, Aracaju, SE.
Publicação dos livros Emoções-
poemas e Feelings - poems. Site da Fundação
Cultural Marina Lorenzo Fernandez.
• 71 anos - Instituto Internacional da Fundação
Rotária, Chicago, USA. Diploma de Exaltação
e Reconhecimento da Comissão Nacional do Programa Polio
Plus do Brasil - Encontro Nacional da Fundação
Rotária – Belo Horizonte.
Representação no Teatro da Paz, em Belém
do Pará, no Centenário de fundação
do Rotary. Publicação do livro Emociones –
Crônicas y poemas, lançado na Argentina; e Short
Stories, lançado em Chicago, USA.
• 72 anos – Representante do Presidente do Rotary
International na Conferência do Distrito 4800, Salta,
Argentina. Fundador e primeiro Presidente do Instituto Histórico
e Geográfico de Montes Claros.
• 73 anos – Conselheiro da Fundação
Rotária - Brasil. Membro Organizador do I Congresso
Brasileiro de Institutos Históricos e Geográficos,
Belo Horizonte. Medalha Israel Pinheiro e posse como Sócio
Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico
de Minas Gerais. Medalha do Sesquicentenário de Montes
Claros. Diploma de Pai do Ano 2007 pelo Automóvel Clube
de Montes
Claros.
• 74 anos – Representante do Presidente do Rotary
International na Conferência do Distrito 4390, Feira
de Santana, BA. Membro Efetivo do Instituto Histórico
e Geográfico de Minas Gerais, Belo Horizonte. Sócio
Efetivo da Aclecia- Academia de Letras, Ciências e Artes
do São Francisco. Personalidade do Ano 2008, Jornal Hoje em Dia/Theodomiro Paulino.
• 75 anos – Posse na Comissão Interpaíses
Brasil-Portugal e Países de Língua Oficial Portuguesa.
Membro da Comissão do Instituto Rotário do Brasil,
Belo Horizonte. Medalha Matias Cardoso – Governo de
Minas Gerais.
• 76 anos – Membro do Conselho Consultivo da ABTRF
– Associação Brasileira da The Rotary
Foundation.
• 77 anos – Benemérito da Maçonaria
– Conselho de Veneráveis do Norte de Minas. Publicação
do livro Construtores de Montes Claros.
• 78 anos – Participação no Seminário
Internacional de Educação Comparada e Novas
Abordagens na Formação Docente – Ministério
da Educação – CAPES – Brasília
– DF. Publicação do livro Poemas de Puro
Amor
(e-book).
•
79 anos - Fundador e primeiro Presidente da Academia Maçônica
de Letras
do Norte de Minas, Patrono João Batista de Paula. Publicação
do livro Poemas de Crônicas (e-book).
• 80 anos - Publicação do livro Prefácios
e Comentários e Vida e Poesia (e-book)
• 81 anos - Sócio Emérito do Instituto
Histórico e Geográfico de Minas Gerais, Belo
Horizonte. Publicação do livro Elogio das Letras,
parceria com Dário Teixeira Cotrim.
• 82 anos – Presidente de Honra da Academia Montes-clarense
de Letras. Curador do Setor História da Editora da
Universidade Estadual de Montes Claros. Publicação
do livro Efemérides da Academia Montes-clarense de
Letras – 50 anos.
• 83 anos – Sócio Honorário e Presidente
de Honra do Instituto Histórico e Cultural dos Policiais
Civis do Norte de Minas.
• 84 anos - Publicação do livro Vivências
- Poemas.
• 85 anos – Presidente da Academia Maçônica
de Letras do Norte de Minas. Publicação do livro
Rotary Club de Montes Claros-Norte 50 anos. Palestra e lançamento
do livro História e Didática d’ O Livro
dos Espíritos, em Dallas, USA.
• 86 anos – Publicação do livro
Montes-claridades. Publicação de palestras no
Youtube, Instagram, Facebook Twitter e TikTok em diversas
áreas da Cultura.
• 87 anos - Publicação do livro VIVENDO
E APRENDENDO, Consórcio
do Instituto Histórico e Geográficos de Montes
Claros. Conclusão do livro
SALMOS (Poemas), com base em escritos do Rei David. Chegada
ao patamar
de quatrocentas palestras gravadas em diversas áreas
da Cultura, do
Conhecimento e da História.
•
88 anos – Projeto de conclusão e publicação
de mais dois livros: “Personalidades históricas
de Montes Claros” e “Capitão Enéas
Mineiro e suas gentes”.
... Sem constar cursos de extensão universitária,
pesquisas e publicação de monografias em áreas
da Linguística, Literatura, Artes, Ciências,
História, Direito, Rotary e Maçonaria, por ser
de número muito extenso.
POSFÁCIO
Itamaury
Teles de Oliveira (*)
Há
homens que lutam um dia e são bons, há outros
que lutam um ano e são melhores, há os que lutam
muitos anos e são muito bons. Mas há os que
lutam toda a vida e estes são imprescindíveis.
Bertolt Brecht
Acabo de ler VIVENDO E APRENDENDO, interessante e mais recente
livro de Wanderlino Arruda, um verdadeiro esquadrinho nos
recônditos de sua memória prodigiosa. Este autor
sempre foi para mim uma figura paradigmática, porquanto
ensejou em mim a vontade de ser cronista e escrever tão
leve e solto como ele. Trata-se de rica biografia, escrita
a várias mãos, pois, em princípio, sob
a perspectiva de autores, escritores e jornalistas e, por
fim, reminiscências sob a sua exclusiva ótica
e lavra.
Eu, que já o admirava, fiquei impressionado com a riqueza
de sua narrativa, trazendo à luz detalhes que dormitavam
em seu cérebro, há mais de 80 anos. Lembra-se
de fatos que remontam a sua primeira infância, ainda
na sua pequena São João do Paraíso -
terra da boa marmelada, que a todos encanta. Wanderlino e
eu temos muito em comum. Somos de pequenas urbes e viemos
para principal cidade da região em busca de novos horizontes.
Começamos a trabalhar muito cedo, na mesma redação
de “OJornal de Montes Claros”, o principal órgão
de imprensa da cidade. Mas as
coincidências não param por aí. Fomos
colegas no Banco do Brasil, inclusive
como instrutores de gerentes, nos centros de treinamento espalhados
país afora.
Este detalhe me faz lembrar dos meus primeiros contatos com
essa figura que tanto admiro, e que é hoje, sem sombra
de dúvida, a maior expressão da cultura regional
norte-mineira. Em 1979, logo após eu terminar o curso
de Administração, na Universidade Federal de
Minas Gerais, fui convidado para trabalhar na Direção
Geral do Banco do Brasil, em Brasília.
Soube, a época, que Wanderlino Arruda também
estava se transferindo para o mesmo órgão que
eu iria, o DESED - Departamento de Seleção e
de Desenvolvimento de Pessoal, a universidade do trabalho
do grande banco brasileiro. Eu acabei me mudando para a capital
federal, mas Wanderlino, não. Soube, mais tarde, o
motivo: o apartamento funcional que lhe destinaram não
era suficiente para abrigar sua família de sete filhos,
que moravam numa ampla e confortável casa. Perdeu Brasília,
ganhou Montes Claros...
Depois dessa época, nossa amizade se estreitou e nos
reencontramos em várias fases da nossa trajetória
profissional, até aposentarmos. Mas, a partir de então,
as atividades literárias nos uniram em novos projetos,
em novas circunstâncias. Verificando os ancestrais de
Wanderlino, em seus textos rememorativos, percebi que nossos
caminhos talvez tenham se cruzado bem antes. Seu avô,
da família Moraes baiana, de Caculé, talvez
seja a mesma do meu bisavô Rodrigo de Moraes Brito,
da vizinha Jacaraci. Logo, poderemos até ser parentes,
o que provavelmente explicaria nossa grande afinidade, como
membros da Arte Real, de academias de letras e institutos
históricos.
O
autor, que ronda a casa dos noventa anos, com espírito
jovial, está sempre com novos planos editoriais em
mira. De sua mente prodigiosa já brotaram quase vinte
obras, inclusive esta rica biografia. Mas não dá
sinais de que sua fonte se esgotou. E nem que esta obra seja
seu “canto de cisne”.
Aprendemos muito com livros biográficos, como este,
por nos demonstrar que nada é impossível quando
se tem determinação e vontade, mas, principalmente,
por nos mostrar que o sucesso nunca está desatrelado
de muito esforço pessoal, de bom foco no que se quer
da vida, de não desistir diante do primeiro obstáculo,
de sempre perseverar...
Por isso mesmo, convicto estou de que o vitorioso currículo
de vida de Wanderlino, o seu otimismo e alegria, o seu entusiasmo,
enfim, neste volume enfeixados, podem servir como farol, como
rumo, até como porto seguro para pessoas de todas as
idades, num mundo pós pandêmico, em que a desesperança
grassa, para que reapareça, tênue que seja, luz
no fim do túnel.
Ave, Wanderlino Arruda!
Você, que vem lutando ao longo de toda uma vida, é
um homem imprescindível, na justa e perfeita definição
de Bertolt Brecht.
Que continue assim...
(*) Escritor e jornalista. Membro das Academias Montes-clarense
de
Letras e Maçônica de Letras do Norte de Minas
e do
Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros.
Este livro
foi composto na tipografia Swis 721 Cn BT
em corpo 12 e Thanks Autumn, impresso em papel offset 75g/m2
.
Montes Claros, agosto de 2021