No
circo, de roupa limpa
Wanderlino Arruda
Não
fui menino de entrar de graça
no circo,
não tinha jeito de correr atrás
do palhaço,
gritando a propaganda para ganhar a
entrada.
Não tinha disposição
nem coragem
de entrar por baixo do pano, escondido,
como faziam os colegas de escolas.
Quando eu não tinha dinheiro,
em manhãs de sábado, vendia
coisas na feira,
ou meu pai pagava os ingressos.
Eu entrava, no circo, sempre de roupa
limpa
e bem engomada por Silvina Melana.
Sapatos brilhando, que eu mesmo engraxava,
cabelos lisinhos: brilhantina ou glostora.
Menino que entrasse sujo e descalço,
tinha que ajudar o palhaço,
ou servir de amarra-cachorro.
Menino que queria ser importante
tinha que levar cadeira da sala-de-visita
e dois saquinhos de pipocas
que vinham de Montes Claros.
Melhor caprichar nos detalhes
para dar brilho aos olhos da namora!
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