Segurança de ontem e de hoje

Wanderlino Arruda

Bons dias aqueles em que não se fechava nem a porta dos fundos, nem a porta da frente. As casas eram territórios abertos dia e noite, sem perigos, sem ameaças de amigos ou inimigos do alheio. O muito que poderia acontecer era que o último a entrar trancasse a porta, como ocorria na casa do meu pai e na casa do meu sogro em Taiobeiras. A porta ficava apenas encostada, para não entrar vento ou poeira. As visitas não precisavam nem bater: iam entrando e dizendo ô-de-casa, ô-de-casa! A família ouvia tudo, pois normalmente, ficava da sala de jantar para a cozinha, conversando em torno da lareira ou do fogão a lenha, com o frio a aproximar de todos, velhos e novos, numa boa prosa mineira. Bons tempos aqueles! Cachorro era para comer restos de comida e latir, não era para vigiar casa. Não existia necessidade de segurança.

Lembro-me de que em todo o tempo que trabalhei em Mirabela, isto já na década de oitenta, nunca fechei a porta da república, nem cedo, nem à tarde ou na boquinha da noite. Ficava escancarada para o vento e para sol até para a lua de vez em quando. Hotel de mil estrelas, como dizia o Jadir Duarte. Tudo seguro como tinha bastião da Idade Média, principalmente por que ao lado da delegacia. Chave do carro? Nunca tirei da ignição, na porta do Banco ou na garagem. Para que tanto cuidado se não havia ladrão? Mirabela, em matéria de sossego, era como Taiobeiras ou São João do Paraíso, ou como Capitão Enéas no tempo do Capitão. A cada dono o que é seu. Respeito é bom e todo muito aprecia!

Tudo isso eu falo, para dizer que, agora, até em Brasília a situação de tranqüilidade mudou muito e mudou para pior. Nem a capital da Esperança pode viver a paz dos primeiros tempos, sem preocupações, sem aborrecimentos. Nem Brasília é cidade segura, embora ainda não precise de muros, de cercas, de vigilância de cães ou de guardas armados como em outras capitais ou cidades maiores. Até aqui - Montes Claros - que era eterno paraíso, a vida mudou, exigindo fórmulas de segurança nos blocos residenciais, mais cuidado, muito de atenção, presença constante de medo de vários tipos de ofensa. Chega a vez da eletrônica exercer o seu papel, com já ocorria em São Paulo e no Rio de Janeiro, centros desenvolvidos para o bem e para o mal. O que, antes, era por sofisticação, por luxo, nos edifícios grã-finos, já se verifica por necessidade, por controle. Nenhum visitante chega mais de surpresa ou em hora inconveniente.

O que era bom, agora é melhor. Já não mais só a voz, a fala, o sotaque amigo ou desconhecido. Chegou a imagem de televisão por circuito fechado. Ao ouvir a chamada liga-se o televisor em determinado canal e lá estará o visitante, a sua cara boa ou ruim, a beleza, o charme ou a feiúra, se é um simples mortal ou gente muito importante. Também, para maior segurança, estão sendo montados circuitos com raios infravermelhos ou com sensor que detecta a caloria de um possível intruso. E coisas ainda mais sofisticadas virão por aí, principalmente nos edifícios, nas ruas, avenidas e praças, como já está acontecendo no centro de Montes Claros e nas outras “grandes” cidades do mundo...