Silvia Schmidt

Papelpoeta

Este cair da letra sobre o branco
Deste papel deitado sobre a mesa
Tem o poder de por o verbo franco
Sobre um traçar de gráfica beleza
São letras tortas sobre linhas retas,
Não só sinais, geométrica emoção,
Que rolam soltos sem capricho ou metas
Quase a traçarem forma-coração.
Ah , se eu soubesse como me vem isto,
Que com leveza toma-me os segredos!
Se eu entendesse as letras com que visto
Meus tantos sonhos, alegrias, medos,
Talvez viesse a suspeitar de Cristo
A colocar-se por entre os meus dedos.
Silvia Schmidt (Humancat)


Caça e Caçador

A cada vez que sentes os meus dedos
Entrando mornos nessa tua boca,
Vejo em teus olhos coleções de medos
De te entregares feito fêmea louca.
Temes soltar-te nesta minha fúria?
Temes lançar-te furiosa e quente
A quem aqui te espera e, com luxúria,
Há de levar-te a gozos em torrente?
Não temas tanto, vem pro meu abraço!
Deita em meu leito e torna-te vulcão!
Liberta o corpo desse insano laço
Que dilacera o impulso da paixão!
Tu és a presa que com força caço
Prá devorar dos pés ao coração!
Silvia Schmidt (Humancat)


Eu e a Luz
(Soneto de um Internauta)
dedicado a Udo

Neste recinto, onde eu e a Luz
Somos parceiros de silêncio atroz
Esta calada noite nos induz
À busca intensa de uma intensa voz .

Por entre sons os mais artificiais
Cruzamos juntos esta escuridão,
Temos os dois só formas irreais
Prá um outro lado em outro coração.

Ah , quem nos dera que viesse agora
Alguém em osso e carne para amar-nos,
Para rompermos juntos nossa aurora,

Deste silêncio escuro nos livrarmos,
Deixando toda a escuridão lá fora
E os aparelhos todos desligarmos!


Anjo Lascivo

Vem, que te quero em mim,
Banhando meu corpo em sal
De suor pingado assim
Como o bem lavando o mal.
Vem que te quero em mim,
Desvendando o meu segredo,
Com suor pingando assim
De modo a matar-me o medo.
Deita-te em minha cama,
Meu lascivo querubim.
Tenta apagar esta chama,
Moto perpétuo, sem fim.
Vem! Corre pra quem te ama!
Vem que te quero em mim!
Silvia Schmidt (Humancat)