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Eu
canto
Rubens C. Romanelli
Eu era
triste e só, e minha tristeza
era estéril como a do deserto
sem oásis e minha solidão
era vazia como a da noite sem estrelas.
Mas, hoje, já não
sou triste, nem só. Mora
comigo a alegria das coisas santas!
O anjo da renovação
aproximou-se mansamente de mim e
restaurou-me a lira do coração,
transformando-me num cantor das
belezas eternas.
Abro os olhos e, como numa visão
mirífica de sonhos estelares,
vejo além do céu das
aparências, para trás
das últimas fronteiras do
mundo sensível, lá
onde a realidade assume coloridos
e configurações estranhas.
A Natureza, antes ciosa de seus
grandes segredos, abre-me agora
os arcanos de seus fabulosos tesouros
e então posso contemplar
o que os olhos mortais jamais puderam
ver.
Tudo em torno de mim é esplendor
e deslumbramento. Imerso num oceano
de luminescências divinas,
contemplo o mundo em sua fisionomia
interior e eterna.
Tudo é luz!
Surpreso, vejo que eu mesmo sou
plasmado na substância da
luz.
Estou por cima do espaço
e do tempo, situado em outra dimensão
da realidade.
Agora compreendo quanta grandeza
habita o coração das
coisas pequeninas. Ante elas, inclino-me
reverente, porque todas são
uma mensagem do Grande Mistério,
expressão do Pensamento de
Deus.
Deixei, lá em baixo, como
um resíduo atirado à
margem do imenso caudal do tempo,
o pobre eu com que ingênuamente
eu quisera afirmar minha existência.
Hoje, identificado com tudo, sou
uma expressão do Impessoal.
Morreram em mim todos os desejos
que me atormentavam no cárcere
das formas transitórias.
Já não me alucina
a paixão da Unidade.
Já não me arrebata
a sedução do mistério.
Já não me abrasa a
sede do Infinito.
Já não me aflige a
nostalgia da Luz.
Já não me consome
a saudade de Deus.
Agora sou todo plenitude. Sou uma
alma integrada na alma do Todo.
Em meio aos sagrados e fecundos
silêncios interiores, eu sinto
ressoar, na harpa de meu coração,
a música que emana do ritmo
de toda Criação.
Por isso, eu canto !
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