Momentos
de Luiz de Paula
MOMENTOS, de Luiz de Paula,
é amor e flor da natureza.
Em Várzea da Palma, nas
beiras do Guaicuí, em
Montes Claros, ou em qualquer
parte do mundo. Um livro realmente
bom, mesmo que em leitura ligeira.
Prosa e poesia de verdade, na
seca ou nas chuvas. Tem quer
ser, porque o autor foi batizado
duas vezes, uma pelo ferreiro
Bertolino, outra pelo padre
da desobriga, e, por isso, virou
poeta. MOMENTOS é livro
desafio, trabalho em espanto
de vida, aceitação
de mistério. Suas páginas
foram escritas em áureo
e doce dealbar de músicas
e de sonhos. Tudo plural: douradas
iluminuras nas capas e, no interior,
coloridos entre o branco e o
preto, tudo bem serenado em
universo de idéias. Um
luxo!
Como disse o próprio
autor, textos e pretextos de
MOMENTOS nasceram como brotos
das chuvas de São Miguel,
multifacetada confissão
entre o sacro e profano. Todo
broto de vegetação
foi visto em lupa de saudades.
Visíveis encanto e filosofia,
memória poética
e pinceladas de vida. Tudo pintura
com acenos de ser em tudo fiel
às origens. Escrivão
de sonhos, menestrel de doces
lembranças, Luiz é
compositor de ritmos, sem direito
a esquecimento. Que tenham registros
os currais de gado, os caminhos
entre veredas, os bois de cem
oitavas, a arte de navegar e
fazer telhas, Imortalizem-se
os bandeirantes, os vaqueiros,
as partes da cozinheira ladina...
Imortalizem-se a grandeza das
pequenas coisas e os mínimos
pedaços de espaço-tempo.
Que bom e agradável foi
ler MOMENTOS! Que bom foi conhecer
Dona Biló, assadeira
de roscas, Neco Meireles, oficial
abridor de cisternas, a parteira
Siá Clara! Todo respeito
para a professora Júlia,
sessentona, de régua
e taboada, todo respeito para
a rezadeira Regina, sacerdotisa
de benzeduras para cura de um
tudo, palavras e gestos seus
como que tirando doença
com a mão. Carinhoso
desfilar de antigas profissões,
com toda a certeza de que o
tempo não atravessa duas
vezes o mesmo rio.
MOMENTOS é o registro
fiel de um maravilhoso tempo
de pura ternura, trato vivencial
de gente parceira de Deus. Só
podia ser escrito por Luiz de
Paula Ferreira, autor de Montes
Claros Vovó Centenária,
garimpador do ouro mais puro.
Declaro-me feliz, muito feliz,
e sinto-me identificado com
o Vale do São Francisco,
por estar manuscritando estas
mal traçadas linhas numa
mesinha da Estação
das Docas, Belém do Pará,
de onde contemplo as infindáveis
águas da Amazônia
e sinto uma imensa saudade das
planícies e dos claros
montes do Norte de Minas.