Som
Brasileiro
Wanderlino
Arruda
Foi preciso que todo o sistema
de divulgação
musical passasse a apresentar
músicas estrangeiras
na maior parte do tempo, numa
inexplicável preferência,
para que o som brasileiro viesse
a ter certa reivindicação,
ser conclamado como o mais natural
à nossa audiência.
De modo geral, tem sido mesmo
uma loucura, um incômodo
ao nosso gosto, essa barulheira
toda que se verifica mesmo nas
transmissões de rádios
da mais civilizada gente brasileira.
Pelo pouco que se entende de
música, parece qu não
há nada, só aquele
bater primitivo de ritmo de
tambor, de som de metais, de
cadência selvagem, mais
adaptados aos trejeitos de primitivos
habitantes das matas ou de loucos
guerreiros de estranhas cavalarias
de antanho.
Procurar
compreender eu procuro, principalmente
quando vejo muitos jovens talves
a maioria, buscar nesse som
da pesada momentos de euforia,
uma incômoda hora de jazer,
na minha imaginação
de suplício. Está
certo que a geração
é outra, o gosto mudou,
houve renovação.
Está e não está,
porque a lógica é
o bom sendo dizem que foi para
pior, porque é dissonante
tudo isso na maior parte do
tempo. O que salva, para nós,
ainda são algumas adaptações
do moderno internacional quando
recebe influência brasileira,
quando colocam certas harmonias
do sabor da nossa raça.
Aí a coisa ainda fica
aceitável e pode penetrar
grupos mais tradicionais, de
quem, por sorte do destino,
ainda havia convivido com a
música de verdade, em
tempo integral. O que salva
são as escolas que ensinam
o que é nosso, dão
o toque de valorização
do folclore, plasmando uma nova
alma do colorido verde-amarelo,
afirmando uma consciência
pátria que, por graça
de Deus, ainda é bem
melhor pelos menos para nosso
tipo de vida.
Não
era sem tempo a valorização
do chorinho de velhos mestres
da boa composição
brasileira, entre eles, o nosso
Godofredo Guedes, uma faixa
sempr grata nos discos de Beto.
Não era sem tempo, uma
consagração por
parte dos entendidos da música
de Zé Coco do Riachão,
mais do que brasileiro, um caboclo
do sertão bom mineiro.
Foi sempre de todo o tempo o
samba dos malandros e da gente
séria das plagas cariocas,
com têm sido as marchinhas,
como têm sido as modinhas,
como nunca deixou de ser a composição
destinada às serestas
e aos seresteiros. Mais acima
de todas as épocas, a
música do Nordeste, em
tão boa hora já
divulgada até na Europa,
isso não se falando de
toda a produção
improvisada ou repetida dos
nossos repentistas de todos
os lugares, inclusive do Sul.
Cafonas,
saudosistas, inadaptados nós
os mais velhos? Não acredito.
A prova de que não é
isso é que estamos a
uma verdadeira consagração
do esforço do sanfoneiro
Luiz Gonzaga, que mais braba
do sertão, transformou-se
em glória nacional, mais
do que nunca copiado e imitado,
fornecedor de temática,
influenciador de estilos para
quase todo o conjunto de novos
compositores brasileiros. Mesmo
abstraindo-se do popular, a
verdade é que a brasileira
paixão pela harmonia
foi sempre uma afirmativa: Vilas
Lobos e Lorenzo Fernandez ainda
estão aí no gosto
de todos para não me
deixarem mentir.