Saudades
da Irmã de Lourdes
Wanderlino
Arruda
Minha
querida irmã de Lourdes,
como são lindos os teus
versos nos cantos da manhã
de azul! Quão saudoso
é o São Francisco,
teu vassalo e o rio-mar, tristeza
e alegria de todas as lembranças
da mocidade! Como são
lindas as manhãs imponderáveis,
os fios de horizontes de contraste
com as horas mais doces! Quanta
sensação de cheiros
e de cores de todas as rosas
dos arminhos dos verdes anos!
Januária, Januária,
há coisas mais lindas
no amor? Todos os sonhos se
realizam no espaço-tempo
de um belo coração.
Tua poesia, Irmã de Lourdes,
teu ‘Caderno de Lembranças’
é a luz mais clara da
infinitude da alma, um halo
da cor do céu, reflexo
de águas mansas que passam
numa eternidade!
Teus pescadores singram um rio
de sonhos e se alimentam de
brisas de todos os mares da
imaginação!
Gostei
imensamente da amorosa adjetivação
do ‘Caderno de Lembranças’,
livro de poesia dos mais coloridos
substantivos, abstratos para
a vida comum e concreto para
o pensar do artista. Versos
de angelitude e de fé,
gratificantes do mais santo
poetar. No mundo sem ser do
mundo, reais no aqui e no agora,
jamais abandonam o espaço-tempo
de quem sabe voar no mais verde
da esperança. Irmã
de Lourdes é namorada
do azul e, queira ou não,
suas personagens terão
sempre o colorido das águas
e do céu do São
Francisco: Celeida, Celeste;
Marina e até Dulce, com
doce de perfume de infinito!
Há nobreza nas flores,
há nobreza nas pedras,
haverá sempre jóias
para enfeitar a amizade sempre
próxima da pureza do
encanto. Grata aos que sabem
viver pelo estudo e pelo amor,
Irmã de Lourdes desfila
uma galeria de nomes de reconhecido
valor: Yeda, Genoveva, Jacy,
Heloísa, Luiz de Paula,
Antônio Augusto Veloso,
das Irmãs Guiomar e Edmunda.
Irmã
de Lourdes, como irmã
e como professora, tem, naturalmente,
um seu mundo bem diferente do
nosso.
Não tem como não
poderia ter muitas das nossas
imediatas preocupações,
tão naturais à
guerra da vida de todo dia.
Seu universo é povoado
de muito futuro, quando pensa
nas outras pessoas, e de muito
passado, quando pensa em si
mesma. O presente não
importa quando ela vê
– e é bom que isso
aconteça sempre –
o lado bom dos que passam pela
sua amizade e carinho. Assim,
suas flores são lírios,
rosas, jasmins, miosótis,
o tão grato manacá
todas vivas de transparência,
exalando perfumes de amor! O
cristal, o diamante, a turquesa,
a esmeralda são nuanças
do verde-azul do rio de Januária,
ou do mar de Olivença
tão vivos no coração.
Quando fala de rubis não
quer dizer outra coisa que o
pulsar dos ante-crespúsculos
presentes no rio natal.
As
cidades de Irmã de Lourdes
acordam a voz dos séculos
e marcam muitos sóis
de primavera no texto suave
da Boa Nova, na mais linda das
mensagens de todos os tempos.
Através dos versos o
perfume do Líbano, lembranças
dos cedros; a alma do Sião,
mensagem de aguadeiras e de
pastores, orvalho de manhãs
de intensa luz; o barulho juvenil
de Cades, movimentação
de dançarinos e mercadores;
e esperança de Jericó,
lugar sagrado de encontro entre
a verdade e a fé. As
cidades da Irmã de Lourdes
têm o azeitonado tom de
Olivença, o brilho de
névoa de Friburgo e todas
as seqüências de
matizes das mais ternas de todas
as cidades do mundo: Januária
e Montes Claros.