A
voz do estudante
Wanderlino
Arruda
Sob
a orientação do
nosso saudoso Monsenhor Osmar
de Novais Lima, órgão
do Grêmio Lítero
– Esportivo “D.
João Antônio Pimenta”,
circulava em agosto de 42 no
antigo Ginásio Municipal
de M. Claros, direção
de Antônio Augusto Athayde,
redação de Luiz
G. Prates, o jornal A VOZ DO
ESTUDANTE, número 17
ano III, nova fase. Seis alentadas
páginas, bem impressas,
feitas pelas Oficinas Gráficas
Simões, constituem, hoje,
uma gostosura de passado histórico,
interessante registro de uma
época de patriótico
respeito por instituições
e costumes, uma como que quase
revelação de pureza
d’álma de jovens
estudantes, ciosos e compenetrados
na luta por um futuro melhor.
A
colaboração farta
contava também com o
professor Alfredo Coutinho e,
segundo me parece, com alguma
cousa do Dr. João Antônio
Pimenta, tal a seriedade de
conceitos, que só o velho
mestre sabia imprimir. Outros
nomes, alguns ainda bem lembrados,
outros esquecidos, representam,
hoje, curiosidade: Barulas Alves
Reis, Vivaldo Macedo, Ione Feitosa,
Eunice Fialho, Zilca Miranda,
Adelaide Barbosa, Manoel J.
G. Calaça, Antônio
Franco Henriques, Célia
A. Neto, além de Geraldo
G. Prates e de um misterioso
A., tudo indica ser o mesmo
Antônio Augusto Athayde,
autor de outro artigo vazado
em idêntico estilo e entusiasmo.
Interessante
é a coluna de aniversários.
Vejam os nomes de quem naquela
época já andava
freqüentando ginásio:
Aristides B. Braga, 1ª
série; Péricles
A. Andrade, José A. Guimarães,
José Braga, 2ª série;
os terceiranistas eram Rosália
Pinto, José Romualdo
Torres, Carlúcio Athayde;
ainda do segundo ano, Élton
Rocha e Artur Fagundes Oliveira.
“A todos, principalmente
ao Padre Gustavo F. de Souza,
os votos de felicidades de “A
VOZ DO ESTUDANTE” –
dizia a nota.
A
colaboração principal
parece que era mesmo a do diretor
Antônio Augusto Athayde,
que ainda escrevia o sobrenome
sem o “h” e o “y”,
como o fazia também o
Carlúcio, seu parente.
Coisas de garotos... Antônio
Augusto tinha boa redação
e muita riqueza de adjetivos
e verbos no gerúndio.
Os períodos eram longos,
cheios de subordinação,
bem temperados à moda
de Rui Barbosa, Castro Alves
e Padre Antônio Vieira.
Seria influência de muitas
leituras?
Por exemplo: “Em nossa
memória tenra ainda,
períodos como os que
agora atravessamos ficarão
gravados para jamais esquecermos
dos tempos bons de nossa florida
adolescência – tempos
que não voltam mais...”
Outro trecho: “Enquanto
do alto dos céus, os
raios fulgentes do sol sertanejo
banham os vastos pátios
do Ginásio...”
etc.
Tempo
bom, tempo ótimo, coisa
linda de tempo, Antônio
Augusto! Nada mais coerente
que a voz da juventude –
espontânea, pura, colorida,
limpa de coração...
É pena que a realidade
da vida nos tire tanta poesia
e beleza. É pena que
a crueza do dia-a-dia nos tire
tanto da jovialidade dos primeiros
anos de vida...
Mas,
afinal, é bom ter motivo
de saudades...
O
JORNAL DE MONTES CLAROS, 10-02-80