Reivaldo
e os arquitetos
Wanderlino
Arruda
É claro que venho acompanhando,
de muitos anos, a vida de jornal
do meu amigo Reivaldo Canela.
De quantos, não sei.
De muitos, desde quando ele
começou a cometer os
primeiros poemas e sonetos,
todos, por sinal, já
de boa qualidade, acredito por
influência ou por críticas
do Cândido pai. É
que Reivaldo tem, por natureza,
alma e coração
de poeta, sempre ligadão
a tudo que toca o sentimento,
a beleza do existir. Homem dos
passarinhos de vida livre, isto
é, passarinhos que vivem
fora das gaiolas, Reivaldo conhece
línguas e dialetos de
aves e de mamíferos também.
Homem do verde ecológico,
fiscaliza pelo amor até
as estações que
começam a terminam quatro
vezes por ano. Um caso de paixão
existencial , alimenta e escreve,
sonha e realiza sonhos de pequeninos
tizios e domiréis da
sua praça e do seu quintal.
Agora,
vem Reivaldo fazer a sua melhor
crônica, a mais direta,
a mais enxutinha de adjetivos,
leve, gostosa, tranqüila,
plena de uma atualíssima
dose de romantismo montes-clarense,
quando fala de dois arquitetos
bem nossos: o joão-de-barro
e o joão-doutor. Foi
o escrito mais descontraído
que o JMC publicou nos últimos
tempos, falando de dois profissionais
donos da nossa maior admiração,
o João Carlos Sobreira
e o joão-marido-da-joana-de-barro,
dois entes sertanejos, pacíficos
bichos do mato, ambos admiráveis
pais de família, cidadãos
brasileiros de uma simplicidade
de fazer gosto! Como Reivaldo
soube descrever tão bem
os dois engenheiros amassadores
de barro lá do bairro
Jaraguá e de toda a cidade
dos Montes Claros! Como ele
falou com jovialidade do marido
de Baby e pai de Rafael e Isabela!
Como agiu com justiça,
gastando palavras com gente
tão cheia de ternura!
Foi bom, Reivaldo.
O
João Carlos Sobreira,
Reivaldo, é também
velho amigo meu, embora como
no seu caso, não de convivência
tão amiúde como
seria de desejar. Ocupados,
e muito ocupados todos nós,
não temos tido o tempo
necessário para aproveitar
a nossa sabedoria dos dois arquitetos-joão,
um dos “savoir-vivre”,
outro do “savoir-faire”,
ambos operários da eterna
construção. João
Carlos, acredito o maior conhecedor
do “Grande Sertão-Veredas,
leitor infatigável do
grande Guimarães Rosa,
é realmente um irmão
de tudo que cheire a vida. Sentimental,
sem pieguismo, intelectual,
sem afetação;
homem de fé, sem idolatria;
é ele um ser real do
“hinterland” verdadeiro
enamorado da Natureza um Espírito
do bem! Um joão-de-barro
do gênero humano, Reivaldo!
Sobre
este assunto, a Baby e eu conversamos
com grande alegria, num intervalo
de aulas na Fafil. Ela estava
simplesmente encanada com o
que Reivaldo escreveu, atenta,
conhecedora de cada detalhe,
alma sintonizada em cada movimento
das frases. Quando lhe falei
que Reivaldo tinha conseguido
uma obra-prima, quanta felicidade
pude notar nos olhos da mulher
de João! Foi tudo muito
gratificante, algo assim que
valoriza o próprio ato
de viver.
E
como foi você, Reivaldo,
que começou, cabe-lhe
um crédito de alegria
no calendário da eternidade.
Agora e sempre!