Os
jovens poetas
Wanderlino
Arruda
Existem horas na vida e quem
eu fico pensando o que seria
de nós - pobres humanos
– se não existissem
os poetas, donos de amáveis
loucuras, como meu amigo Jojô
Machado, um dos bons da jovem
geração. Acho
que o mundo não seria
o mesmo, e seria muito mais
pobre, não estivessem
ao lado do povo que trabalha
e que luta aqueles que sonham
e escrevem seus sonhos. O mundo
tem que ser assim mesmo, meio
doido, meio sem cerimônia,
pra frente com os que têm
coragem de dizer as coisas,
não importa a censura
dos santos ou dos cheio de falsidades.
É preciso existir o poeta.
E não é necessário
que o poeta seja metrificado,
rimado, medido em sílabas,
balanceado em quartetos e tercetos,
tão ao gosto das almas
do Parnaso. Se não podemos
deixar de lado a admiração
aos que sabem fazer um belo
soneto, não podemos também
deixar de dar vivas aos que
sabem voar na liberdade do pensamento.
É questão de justiça.
Podem até os conservadores
ou moralistas me censurarem
pela aprovação
tão calorosa aos poetinhas
e aos poetas desse elenco de
gente nova, entre eles o Aroldo
Pereira e o Jojô Machado,
pois muitos são realmente
bons – e haja espaço
para gente como Estevinho, por
exemplo. Dizem ou querem dizer
que os novos fazem o tipo de
poesias que fazem porque não
sabem escrever coisa séria.
Não é bem isso!
A geração é
outra, a estrutura do pensamento
é muito mais solta, os
sentimentos são mais
sem compromisso, eles vivem
um mundo mais jovem, sem amarras
do tipo que nós mais
velhos tivemos. Para os mais
novos, o sexo já não
é tabu, as palavras não
sofrem de proibições,
a temática vai do desvaneio
puro ao somatório quase
físico dos sentidos até
mais que humanos. Misto de espírito
e de genuína matéria
sensual, andam de cabeças
erguidas, pouco lixando com
os retrógrados.
Assim, o livro, ou livreto,
ou caderno – cada leitor
pode dar um nome de JoJô
Machado, de título “Uma
Mordida Para Cada Língua”,
pode ser considerado um bom
repertório para conhecimento
adulto do que acontece por dentro
e por fora das cabeças
dos jovens. Pode ser até
uma medida de cultura, uma aferição
dos conhecimentos e do grau
de escolaridade dessa meninada
que gosta de construir poesias.
Pelo que escrevem, já
podemos ter uma idéia
do que andam lendo, de onde
tiram ou retiram modelos, onde
está a fonte em que matam
a sede de vida e do viver. De
uma coisa estou certo: está
melhorando a linguagem dos jovens
poetas, a gramática está
sofrendo menos atentados, a
sintaxe está ficando
melhor, a semântica tem
sido até bem presenteada
com boas idéias. E é
claro que isso é bom!
E se está havendo progresso
na inteligência da moçada,
por que não apoiar todas
as suas iniciativa. Por que
não comparecer aos seus
encontros no Centro Cultural
ou até nos barzinhos,
onde a discussão intelectual
chega a superar a bebida, principalmente
porque, não tendo dinheiro,
têm que conversar mais
do que beber? É claro
que não chego a indicar
os botecos de brega, os inferninhos,
pontos onde o fumo pode fumegar
solto, falo de lugares sérios
ou, no mínimo, mais ou
menos sérios. Ninguém
perde por ajudar os jovens,
encaminha-los no sentido de
que se valorizem, enriqueçam
sua cultura, apresentem sua
contribuição tão
importante para o arejamento
do nosso gosto saudosista e,
de alguma forma, já ultrapassado.
Como falei muito, fica a análise
do livro de Jojô para
outra oportunidade. Até
o próximo JORNAL DE DOMINGO.