Faculdade
de Direito,
reencontro de saudades
Wanderlino
Arruda
Muitas
saudades marcaram os meus cinco
anos de Faculdade de Direito,
saudades em leque com todos
os tipos de alegrias e sensações
de volta a um gosto tempo de
juventude. Cinco anos: pequeno
e longo período, com
uma boa percentagem o tempo
de vida. Cinco anos com as preocupações
de acompanhamento de programas,
estudos constantes nem que fossem
em época de provas, estágios,
concursos, seminários,
um universo de atividades das
quais ninguém conseguiu
escapar, bastou ter passado
no vestibular e feito matrícula.
Período de amadurecimento
de idéias, afirmação
do que é certo e do que
é errado, do que deve
ou não deve, do que pode
ou não pode ser feito
por alguém com consciência
de cidadania. Cinco anos de
excelentes amizades, algumas
rusgas, pintadas aqui e ali
de desentendimentos, para depois
tudo correr num oceano psicológico
de boa navegação.
Tempo de saudades, por que não?
Afinal, tem que ser muito importante,
principalmente com os colegas
que são as feições
mais constantes, passageiros
da mesma condução,
gente por todos os lados, uns
tímidos, uns por demais
aparecidos, alguns sempre abertos
em sorrisos, faladores num humor
de encantar, outros desconfiados,
arredios como quem daria um
reino por um momento de silêncio
ou de esquecimento. Com os mestres,
um intercâmbio menor,
porque nenhum acompanhando a
turma o tempo todo, os cinco
anos, alguns apenas por dois
semestres, outros parecendo
fugazes cometas de passagem
rápida, em substituição
aos titulares em viagens. Como
o professor é um entre
muitos, da cara dele ninguém
se esquece, o semblante fica
gravado a existência inteira.
Tempo bom de Faculdade de Direito,
com jovens donzelas quase impúberes,
moços no dealbar dos
18, jovens senhoras, balzaquianas,
pais de família na fase
dos 30, cavalheiros que começam
a vida (a vida começa
aos 40!), cinqüentões,
e até um sexagenário,
ora pois! Um corte bonito no
perfil social, amostra importante
para crítico nenhum botar
defeito, nem antes nem depois.
Quem desejar experimentar um
cadinho de esforços humanos
e sobre-humanos, chegue para
perto de uma turma de universitários
de Direito, meça o valor
das partes e do conjunto, observe
as reações, sinta
os dramas, pergunte sobre os
compromissos para com o futuro,
penetre no mundo ideológico,
intercepte entusiasmos. Quem
estiver querendo encurtar distâncias
para um conhecimento mais rápido,
pergunte aos professores, que
eles saberão dizer muito
pelo muito acompanhar em cada
aula.
Quatro anos e meio depois, volto
à minha estimada Faculdade
de Direito, cuja fundação
pude participar ativamente em
64, e não me contento
de contentamento ao encontrar
os mentores e amigos de quem
eu tinha tantas saudades. Não
mais nas salas de aula, não
mais a separação
hierárquica professor/aluno,
mais ainda um respeito profundo
a cada um, consideração
que nunca poderá faltar,
mestre eternamente mestre. Com
que prazer, encontro e reencontro
o nobre Georgino Jorge na cadeira
de diretor, solene, respeitabilíssimo,
oferecendo grandeza ao cargo,
presença visível
de sabedoria mercê de
muitos estudos. Emoções
ao cumprimentar, na secretaria,
Raul e Cleonice; na sala dos
professores, entre muitos, os
mestres Adão Múcio,
Sebastião, Danilo Borges,
José Carlos, Clídio,
Noraldino, Alciliano Castro,
Álvaro, Rita, Paulo César,
Geraldo Barbosa, para dizer
apenas os que lecionaram na
minha turma. Que grande falta
as ausências de doutor
Mourão e de Simeão!
Valeu a pena passar por lá.