E
a vida continua
Wanderlino
Arruda
Viver é consagrar-se
inteiramente à vida,
acompanha-la em cada tempo.
Viver é uma busca eterna
de aprendizagem, uma aventura
interminável, um sustentar
sozinho o mundo inteiro acertando-se
ou contradizendo-se, sempre
em busca da própria afirmação.
Existir é estar, é
ser, é compartilhar com
os outros no aqui e no agora,
uma participação
do que há de melhor no
interior de cada um na alma
das outras pessoas. Viver é
comunicar-se, é o interesse
pela vida do próprio
mundo, pelo histórico,
pelo atual. Não há
vida isolada, pois, cada indivíduo,
como o real e o irreal das narrativas,
estará integrado em vários
contextos, personagem menor
ou maior com seus dramas pessoais,
suas alegrias, suas vitórias
ou derrotas influenciando os
acontecimentos. Cada indivíduo,
de certo modo, é o centro
do mundo, partindo dele tudo
que irá determinar as
outras vidas que lhe dizem respeito.
Filosofando sobre o complexo
ato de estar na vida, de ser
num minutou ou num espaço
maior de fração
da eternidade, é preciso
dizer que o essencial é
a forma que cada um liberta
sua personalidade influenciando,
marcando presença, doando
de si mesmo para crescimento
da compreensão, do amor,
da liberdade, da justiça.
O importante é a integridade,
o respeito, a paz. Melhor do
que cada tema em particular
é o resultado da realização
da pessoa como indivíduo
e como coletividade. Do estar
consciente, vem a conciliação
e concretização
da parte boa dos sentimentos
das emoções, mesmo
que sejam desagradáveis.
As insatisfações
apenas arrastam as angústias
e as injustiças, o contraditório.
Se o mundo se tornou confuso,
o indivíduo terá
de tomar pessoalmente as decisões,
fazer suas próprias escolhas,
arriscando errar ou acertar,
porque não há
paz total. Se é inevitável
vivermos sob tensões,
aprendamos a viver.
É preciso comparar o
amor com o teatro, um teatro
sem platéia, onde todas
participam e o cenário
pode aumentar ou diminuir a
intensidade das emoções.
Pena que nem sempre quando existente
a platéia vai conseguir
entender muito bem o tema de
cada peça, normalmente
eterna e universal. E quando
não se entende, vem a
distorção, vem
o ódio. É o caso
de pensar na liberdade, na democracia,
que é a ausência
de arbítrio, a não-violência,
a presença da igualdade.
É o caso de pensar que
a sociedade está carente
de justiça, farta de
violência. Melhor, porém,
é acreditar com otimismo
no futuro.
As idéias expostas, leitor,
não são minhas,
embora, pudessem ser, como também
podiam ser de alguém
que aprecie a plenitude da vida,
o realizar e o sonhar, o estar
no mundo sem ser do mundo. As
idéias são de
uma moça maravilhosa,
plena de vida, interessada na
paz e na justiça, uma
moça que fala de emoções
e de igualdade, uma jovem que
lia de três a quatro livros
por mês, que tinha preferências
precisas sobre teatro, música,
sobre poesia, que amava a pintura
com toda sua alma. Estas idéias,
leitor, são de uma moça
que acredita na cultura, que
lutava por uma instrução
melhor para todas as pessoas,
lendo, escrevendo, divulgando
exemplos, amando a vida, ilimitada
na criatividade. São
afirmativas de quem gostaria
de muito lutar para refazer
o mundo, transformando-o para
melhor, mais otimista, mais
humano, um mundo ideal para
dar e receber felicidade.
Que estas idéias sejam
exemplo de que nem tudo está
perdido, que a vida continua,
só o bem permanece, só
o amor constrói o amor
que lava a multidão de
pecados. As idéias, leitor
são de uma jovem encantadora,
que, infelizmente, não
se encontra entre nós,
no plano físico, pois,
hoje, criatura da eternidade:
Cláudia Maria Athayde
Soares.