Você
fala palavrão?
Wanderlino
Arruda
Ser
ou não ser falador de palavrões,
eis a questão! Falar nomes
considerados "feios"
fica quase que na escolha de cada
um, já não constituindo
uma condenação tão
terrível como acontecia
algum tempo atrás. Às
vezes, falar palavrões
até parece grã-fino,
dependendo do falador, da sua
faixa de idade e do ambiente em
que expressa sua fala. Tudo tem
sido questão de modismos,
de preferência de novo dialeto,
quiçá de cultura,
de vivência nova, de nova
forma de raciocinar muito encontrada
em certas camadas intelectuais.
Claro que falo, aqui, do palavrão
acatado ou tolerado, ou, quem
sabe, até bem recebido
e aplaudido, como vemos, por aí,
todos os dias!
Veja você que tudo dependerá
do ambiente e da naturalidade
com que as pessoas falem, da coragem
com que emitam palavras ou conceitos
passíveis de aceitação
por quem esteja ouvindo ou lendo,
como parte interessada ou mesmo
como simples espectador de casa
situação. Assim,
temos o palavrão nem sempre
inconveniente e, até ao
contrário, indicador de
riqueza sociológica e semântica,
propulsor de sobrecarga tanto
da área cognitiva como
do sentimento e da emoção.
Explico: às vezes, o palavrão
constitui a linha mais reta para
quem precisa se comunicar sem
muitos rodeios, e encontrar o
alvo com o impacto do que é
claro e sensível. Explico
mais: o palavrão, quase
sempre, encurta caminho, não
faz curvas.
Não sei se, ao escrever
sobre este assunto, estou a fazer
censura ou a deitar proselitismos.
Não sei se estou defendendo
ou acusando o palavrão.
Não sei se estou aceitando,
ou simplesmente depondo armas,
eu que fujo o mais que posso do
que venha parecer obsceno ou menos
edificante. Realmente, não
sei minha posição
ou grau de tolerância. Mas,
de uma coisa eu sei: a cada dia,
estamos vivendo mais mergulhados
no uso do palavrão, digamos
até além do uso,
ou melhor, no abuso! E para certificarmo-nos
disso não é preciso
ir ao teatro, assistir a algum
filme, ver alguma coisa de televisão,
freqüentar rodas ditas intelectuais:
basta andar na rua, assuntar as
conversas pela aí, como
dizer os jovens.
Para coroar de êxito maior
o uso do palavrão já
existe - não sei se já
publicado - um dicionário
todinho dedicado ao assunto, com
toda a maestria do etnógrafo
Mário Souto Maior, do Instituto
Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais.
É obra de registro do linguajar
vivo da nação brasileira,
repertório de todo o desbocamento
semântico nacional, dizem
partida de sugestão do
pernambucano e mundialmente famoso
Gilberto Freire. Ninguém
perde por procurar, ou mesmo por
esperar. Uns para evitar o uso,
outros para enriquecer o vocabulário...
O que você acha de tudo
isso?