Ruas
do Todos os Santos
Wanderlino
Arruda
Não
sei se foi o Olinela, anjo amigo
do Georgino Júnior, que
falou sobre as qualidades transcendentais
do Bairro Todos os Santos. Não
sei, mas acho que sim. Só
Olinela, companheiro invisível
para os mortais do dia-a-dia,
poderia levar o coleguinha para
a
visão
pluridimensional da beleza física
e espiritual do nosso bairro.
Não que o Júnior
não sinta ele mesmo essas
transparências que sobrepairam
entre o real e o imaginário,
só normal nos entes da
fantasia. E que sua movimentação
metafísica por sobre a
atualidade, pelo menos em mim,
deixou considerações
de regressiva nostalgia, fruto
vivencial de quem por lá
habita desde os tempos do mais
antanho. E isso, paralelismo de
um pouco de poesia e de loucura,
só é permissível
aos angelicais, ou quando estes
entram de parceria com os limpos
de coração, que
é o caso do Juninho.
Do
Todos os Santos eu posso falar
de cátedra, e até
no prisma supra-real, colega Georgino
Júnior. E que, mesmo não
sendo muito mais velho do que
Você, tive a glória
de ser o primeiro ou o segundo
morador daquelas paragens, quando
ainda havia mato por todos os
cantos, mangas e mangueiras, cercas
e tapumes, lama de brejo e água
de regra. De meu tempo, lembro-me
muito bem de Geraldo Morais, lá
na Rua São José,
Manoel Neves, na Santa Maria;
Haroldo Paiva, na S30 Sebastião.
Um pouco mais tarde, Antônio
Quadros, Geraldo Lages, Augusto
do Café Galo, Wilson Athayde.
Benjamim Moura já morava
no Corredor do Pequi, detrás
daquela árvore grandona,
que é a mais bonita de
Montes Claros e agora está
protegida por decreto.
Não
me esqueço do dia em que
João Gabriel, aquele que
tinha uma fábrica de malas,
fechada em definitivo por um incêndio,
derribou as primeiras mangueiras,
para fazer a metade de uma casa,
na hoje chamada Rua Santa Mônica.
Foi uma festa de protestos da
meninada porque ali era o melhor
lugar do mundo para se roubar
manga-espada e manga-rosa. Lembro-me
também do dia em que um
dos meus pedreiros botou fogo
no capim de Fernando Osmundo,
para espantar as cobras, e foi
um xingatório de tremer
a terra. . As labaredas, de não
sei quantos metros de altura,
lambiam a casa de João
de Paula, com uma verdadeira ganância
e foi um deus-nos-acuda, meu amigo.
Os
primeiros pontos de comércio,
pequenos bares e armazéns,
surgiram mais tarde, com a mudança
do Jackson, do Nono e daquela
moça que vendia pão
e leite num carrinho, na porta
de João Guimarães
e D. Duca. O Skema veio muito
depois do Clube do Gole e daquele
açougue da Rua Santa Maria.
Não falo dos supermercados,
porque estes não tem poesia,
são coisas novas. . .
Creio,
Juninho, que Olinela deve adorar
as nossas flores, principalmente
as buganvílias. As de lá
de casa tem cinco cores. As de
Ademar Guimarães, de um
goiaba luxuriante, são
lindas de encantar. As de Antônio
Meira, as do francês Lancastegnerate,
todas da rua São José,
são realmente maravilhosas.
Uma coisa de que o Olinela deve
ter saudade é a ponte Tarzan.
Coitadinha, caiu tragada pelo
progresso e foi uma pena. Acho
que Montes Claros era um dos poucos
lugares desse nosso Brasil a ter
a verdadeira ponte-pinguela.
Era uma gostosura passar por lá.
Parabéns,
Juninho. E bom sonhar com todos
os santos.