Aposentadoria
Wanderlino
Arruda
Aos
poucos, quando vem chegando o
final da carreira, é começar
a pensar na sempre tão
sonhada situação
de aposentado, fazer o exame de
consciência necessário
para interpreta-la compreende-la,
saboreá-la por antecipação.
Parece que não existe trabalhador
que não pense, não
sonhe com o que chama de merecida
aposentadoria. Conheço
gente que tem quatro ou cinco
anos de carteira assinada e já
fala nos dias futuros em que não
mais terá de assinar o
ponto todas as manhãs,
aquela vocação de
quem não nasceu para as
amarras do assalariado, que todo
empregado é, seja humilde,
seja granfino. De mansinho vem
a idéia de interpretação
se realmente a aposentadoria é
mesmo um prêmio.
Francamente, não sei se
a aposentadoria não seja
mais um castigo, algo de punição
para modificar hábitos,
desorganizar arraigados modos
de vida, avacalhar o coreto do
dia-a-dia dos trabalhadores e
das famílias. Já
imaginou, de uma hora para outra,
não ter o que fazer? Ficar
o dia todo dentro de casa, aranhando,
vivendo sem pressa, desarrumando
e arrumando papéis velhos,
passando a toda hora perto das
panelas na cozinha, beliscando,
comendo antes do horário?
Ou, de forma diferente, tendo
de viver o dia todo no Quarteirão
do Povo, de pé, conversando
as mesmas conversas, “resolvendo”
eternamente os mesmos problemas
que os governos nunca resolvem?
Francamente, minha senhora, não
sei!
O conselho de quem sabe e já
passou pela experiência
é que o problema menor
do aposentado é a questão
financeira. Nessa até que
se dá jeito, podendo ser
reforçada com alguns “bicos”
aqui ou ali. O que precisa ser
suportado rom galhardia é
o descompasso violento entre algumas
obrigações e a ociosidade.
Há de haver uma preparação
espiritual para receber os acontecimentos
nunca como castigo, descobrir
as regalias, interpretar tudo
como prêmio merecido, abrir
opções de lazer,
visitas possíveis e que
não incomodem os visitados,
prática de alguns esportes
também possíveis
e, sobretudo, a consciência
do que não pode ou não
deve ser feito.
Em todo caso, vejamos alguns pontos
positivos para os aposentados,
nas palavras de um colega de muita
experiência no assunto.
O primeiro e mais agradável
é a desobrigação
dos horários rígidos,
da responsabilidade de sentir-se
sempre como peça importante
de uma máquina que nunca
pára, o que costumo chamar
de servidão do relógio,
disciplina, administração
do tempo. Depois, há os
favorecimentos da liberdade do
ir e vir, do alimentar-se, do
dormir na hora que mais convém,
do não ter pressa, de ter
todos os dias como domingos e
feriados, do direito de tomar
sol ou esconder-se do frio. Melhor,
do viajar, de chegar e sair sempre
que pedir licença.
Assim é a vida. Até
as coisas boas trazem problemas.
Se todos nós preocupamos
tanto com o muito fazer, por que
esquentarmos a nossa cabeça
com o “dolce farniênte”,
com o papo pro ar, a perna pra
cima? Melhor aprender a suportar
a realização dos
sonhos. Isso, afinal, até
que é bom!