Alguns
anos depois
Wanderlino
Arruda
Vínhamos
do Bairro São José
para o Todos os Santos e lá,
pela altura dos fundos da Praça
de Esportes, sem ser solicitado,
emiti uma instrução
par o colega João Leite,
dono e motorista do carro: “Siga
em frente e entre na Rua do Marimbondo”.
É claro que ele se espantou,
primeiro porque não estava
me perguntando nada, segundo,
porque não sabia que danada
de rua era essa, dos marimbondos.
Tive de explicar: a rua mencionada
era a que ele conhecia pelo nome
de Rua Altino de Freitas, aliás
Rua Cel. Altino de Freitas, um
famoso delegado municipal, pai
do Deba, o mais poderoso chefe
político que a cidade já
teve. Logo adiante, pedi ao João
para olhar à esquerda,
para que pudesse conhecer também
a Marimbondinho, até há
pouco tempo uma tremenda barra-pesada.
Falei de outras ruas depois disso,
mas nem sei se o companheiro estava
interessado em dados históricos
desta fermentada cidade dos Montes
Claros.
Em casa, à noite, para
me instruir mais no assunto de
nomes antigo de ruas, fui em busca
do auxílio de Hermes de
Paula, no seu famoso “Montes
Claros, sua História, sua
Gente e seus Costumes”.
Não era a primeira vez
que eu o consultara no assunto,
mas esta foi muito importante,
possivelmente pela motivação
de novo interesse. Tudo bastante
curioso. Por exemplo, a Rua do
Marimbondo, além, desse
nome, teve também o de
Costa Carvalho, de Oriente, Xavier
de Mendonça, Marquês
de Paranaguá. O Costa Carvalho
foi um erro na confecção
da placa, pois a lei homenageava
um dos fundadores da cidade, o
Alferes José Lopes de Carvalho.
Por azar, o Lopes passou a Costa.
Hoje, isso não tem importância,
porque várias camadas de
denominações soterraram
o engano.
Um teste para você, leitor.
Qual seria a Rua da Cagaiteira?
Quais seriam as ruas da Assembléia,
do Pedregulho, do Bate-Couro,
do Pequizeiro, do Jatobá?
Vejamos pela ordem estabelecida
por Doutor Hermes. A rua da Cagaiteira,
também chamada depois de
Rua Sete de Setembro, é
a atual Camilo Prates, que perdeu
parte desse nome para João
Souto, logo depois para Praça
Cel. Ribeiro.
Da Assembléia (por causa
de uma famosa reunião de
boêmios) era a Afonso Pena;
do Pedregulho, chamada mais tarde
de Ocidente, é a recente
Joaquim Nabuco, que hoje se chama
Gonçalves Figueira; do
Bate-Couro, mais tarde Coração
de Jesus, é a atual Governador
Valadares; do Pequizeiro e também
Juramento, a Rua Cel. Antônio
dos Anjos; e a do Jatobá
que, em outros entretantos, foi
chamada de Avenida Estrela, claro,
é a Cel. Prates, que perdeu
as extremidades para a Praça
Portugal e para a Avenida Mestre
Fininha, porque hoje ela só
é Cel. Prates dos fundos
da Nau Catarineta (igrejinha do
Rosário) até a praça
da Santa Casa.
A rua São Francisco, bipartida
para dar nome a D. Tiburtina (depois
do Automóvel Clube), chamava-se
da Soledade. A Dr. Santos era
todinha Bocaiúva, antes
chamada da Floresta. A Dr. Veloso
era a Rua Direita, enquanto a
atual Presidente Vargas havia
passado por Rua Maria Souto e
depois Quinze de Novembro. A Praça
Dr. Chaves era a Largo da Matriz,
e a Padre Augusto era a São
Paulo. Por causa da antiga Santa
Casa, a Praça Dr. Carlos
era o Largo da Caridade.
O mais interessante deixei para
o final. A Rua Simeão Ribeiro,
antes Rua do Comércio,
era a mesma Justino Câmara
que desembocava ou começava
na Rua da Raquel, que, por sua
vez, teve os nomes de General
Osório e depois Padre Teixeira,
nome atual. Como nos velhos tempos
montes-clarenses, nenhuma rua
tinha nome de gente (pode haver
exceções que não
sei), fiquei intrigado com o nome
de Raquel. Veio em meu socorro
o próprio dr. Hermes de
Paula, explicando que Raquel foi
uma famosa hetaira nos bons tempos.
Aí danou tudo, tive que
ir ao dicionário para ver
o que significa HETAIRA. Caldas
Aulete, sem mais nem menos, remeteu-me
para outro vocábulo: HETERA.
Aí estava a explicação:
Hetera quer dizer cortesã,
mulher dissoluta na Grécia
Antiga, prostituta elegante e
distinta.
Falou, dr. Hermes !...