A NOITE DA MINHA INICIAÇÃO
Foi numa noite bem cheia de emoções do dia primeiro de junho de mil novecentos e sessenta e três a primeira vez que vi as luzes do velho templo da “Deus e Liberdade”, ainda na Rua Coronel Joaquim Costa, onde fica hoje a Soebrás. Minha impressão inicial era de que estava num pequeno cômodo quadrado, com cadeiras altas, gente sentada ao redor e coladas às paredes, falando uma linguagem teatral numa espécie de fogo cruzado, todos muito interessados em conhecer os profanos cada qual querendo saber mais sobre o que pensavam a respeito de uma série de coisas do passado e do atual. As vozes eram todas minhas conhecidas, nenhuma sem identificação, bastante familiares para um já calejado repórter, político e sindicalista bem entrosado em todas as camadas de pobres e ricos de nobres e plebeus. Tudo me impressionou muito e creio que também ao Renato Alencar, de Porteirinha, meu companheiro de posse.
Dos que falavam mais de perto, lembro-me bem de Toninho Rebello, Renato Alarico, Almerindo Mendes, Luiz de Paula, Geraldo Novais, Geraldo Borges, José Gomes de Oliveira, este um mestre-sala que, parece, complicava mais as coisas, mostrando que tinha muito mais autoridade. Júlio Pereira, João Murça Júnior, Arnóbio Abreu, Ewany Ferreira Borges, Vadiolando Moreira, Tufy Felício, Cristóvão Costa Mendes, Alício Mendes, Pedro Spyer Rabelo, Hélio Athayde, João e Terezo Xavier, todos apareciam de vez em quando como a dizer que eu estava no meio de amigos, não devendo temer mal nenhum, e ao contrário, pudesse rejubilar-me de ser participante de uma assembleia composta só de gente portadora dos melhores e maiores méritos, de membros de uma sociedade milenar e de muito bom exemplo em toda a história do mundo. Mais distantes, mais calados, Antônio Franco Amaral, Almir Chaves, Hélio de Morais, Eugerson Novais, Adil Horta, Raulemar Conto, Djalma Coelho, Rodolfo Cândido, Antônio Pernambuco, Múcio Correia Machado, Walter Lopes, Petronilho Narciso, Diógenes Guimarães, Waldir Macedo, Tasso Rodrigues da Cunha, Pedro Paulo e Paulo Pedro Costa, Mário Reis, Nenenzinho, Rosalvo Carvalho, Cassimiro de Paula, doutor Almerindo de Brito Faria, e o meu quase conterrâneo Joviniano Ramos, todos curiosos e contentes com sorrisos de quase mistério.
Não sei se poderia hoje descrever de memória todos os acontecimentos da noite, tão bonitos, tão fartos pela rápida sucessão, tão harmoniosos no conjunto, assim como a servir de eternos lembretes para uma vida de real fraternidade. Sei que não devo ter falhado em nada da confiança que em mim depositava, porque também sabia que a seriedade dos meus acompanhantes não deixava dúvida quanto à importância do momento. Deve ter sido um caso de confiança mútua, assim de conivente compreensão de ambas as partes, cada lado procurando demonstrar maior lealdade, pois, no fim, saímos todos para um jantar no Restaurante Mangueira, na Rua Doutor Santos, um encontro bastante amigável.
Pergunto a mim mesmo se tenho saudades dos meus primeiros tempos da Deus e Liberdade, um notável grupo empenhado em desenvolver um trabalho social de grande alcance, onde a lembrança de Chico Tófane, Francolino Santos, Geraldo Athayde, João de Paula, trabalhadores de muitos anos, era sempre uma constante, nunca esquecidas por Paulo Duarte e Pereira, Lauro Nascimento, Geraldo Rodrigues Pereira e Alício Mendes, entre os mais vividos no lado mais importante de todos os acontecimentos. Lembro-me bem de Waldir Macedo, Giru Amaral, Gentil Antunes, Joel Stark, Walter Suzart, Aristides Gomes, Levindo Aguiar, todos da melhor camaradagem, tudo gente muito boa e de convívio bem agradável como acontecia com Jonas Almeida, Ormezindo Assis Lima, Aristides e Quincas Barbosa, Daniel Guimarães, Geraldo Borges, Carlúcio Freitas, Didi e Djalma Guimarães, Jaime Mendes e tantos outros.
Muitos já não se encontram entre nós, causando falta, o marcando apenas a lembrança, o último a partir, semana passada, meu bom irmão Vadiolano Moreira. De lá para cá, bem mais de uma centena de bons companheiros chegaram para perto do trabalho e do estudo, construindo mais amizades, revolvendo terra da história em busca do grande monumento que é hoje a Deus e Liberdade. Tenho sido muito feliz todos esses anos, mais de encontros que de desencontros, mais de conforto que de desconforto, sobretudo muito mais de pureza de sentimentos, na verdade o único material com que se pode construir a solidariedade e o amor. E ainda bem que a vida tenha esse lado bom, segundo sempre repetia o meu grande amigo e irmão José Gomes de Oliveira...
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