COMPREENDER ANTES DE CONDENAR

O filósofo contemporâneo Edgar Morin afirma que a compreensão é fundamental para vivermos no século XXI.

Como as interdependências se multiplicam, como a comunicação se intensifica, o problema da compreensão se tornou crucial, segundo ele.
E, ao tratar do tema, Morin propõe uma ética da compreensão.

Essa ética parte do princípio que devemos compreender desinteressadamente, sem esperar reciprocidade.

Exige muito mais do que só compreender aquele mais próximo. O grande desafio será compreender o que consideramos diferente, o distante.

Assim nos perguntamos, como compreender o inimigo, aquele que nos deseja o mal e quer nos prejudicar?

Como compreender o assassino, o déspota, o mau?

Esse exercício de compreensão é muito mais desafiador.

É o desafio de se analisar, de se argumentar, ao invés de anatematizar, excomungar, diz Edgar Morin.

Compreender o próximo é exercitar a aproximação, a empatia, muitas vezes, a solidariedade.

Compreender não significa aceitar, concordar, ser conivente.

É o exercício de mergulhar no universo do outro, entender seus valores, suas motivações, para identificar a causa de suas ações.

No dizer de Morin, a compreensão não desculpa nem acusa. Pede apenas que se evite a condenação definitiva, irremediável, como se nós mesmos nunca tivéssemos conhecido a fraqueza, nem houvéssemos cometido erros.

Compreender é humanizar o próximo, entendendo que tantas vezes também teremos necessidade de sermos compreendidos.

Assim, antes de julgar, avaliar, analisar, buscar compreender.

Afrontado pela turba prestes a apedrejar a mulher adúltera, Jesus usou da compreensão.

E conclamou aquelas pessoas a imitá-lO, mostrando que todos nós estamos sujeitos a erros e tropeços.

Foi por esse motivo, compreendendo suas próprias fragilidades, que um a um, os homens foram deixando a praça pública, deitando as pedras ao solo, como descrevem os Evangelhos.

Mulher, onde estão os teus acusadores? Ninguém te condenou? Perguntou-lhe o Mestre.  Eu também não te condeno.

Era o exercício da compreensão, não da conivência.

Por isso, conclui o diálogo aconselhando-a: Vai e não tornes a pecar.

Deixa claro que o erro existia, porém ensinando que a compreensão é a grande lição a ser aprendida.

Assim, antes de julgarmos outra pessoa, busquemos a compreensão.

Talvez sua grosseria seja apenas a dificuldade em lidar com os problemas profundos que traz em seu cotidiano.

Ainda, a agressividade de outrem pode ter-se originado em raízes profundas de desestruturação familiar e social.

Afinal, logo mais seremos nós os necessitados da compreensão alheia, frente aos prováveis deslizes que surgirão.

Como bem analisa Edgar Morin, se soubermos compreender antes de condenar, estaremos no caminho da humanização das relações humanas.

(Momento Espírita)