A REVELAÇÃO ESPÍRITA |
O Espiritismo parece muito novo, porque a sua codificação, admiravelmente concebida por Allan Kardec, tem unicamente 80 anos (2); entretanto, em sua essência íntima é tão velho quanto o mundo. Tem sido a alma de todas as crenças, o Espírito de todas as religiões que têm embalado a Humanidade. Desde tempos imemoriais, desde épocas remotíssimas da História, a comunicação com os Espíritos tem sido praticada por homens e mulheres, grande parte dos quais fazia dessa comunicação sua especialidade. Todos os livros sagrados referem-se a aparições e comunicações, quer com Espíritos Superiores, chamados pelos sacerdotes como santos, anjos ou arcanjos, quer com "pecadores" que, do outro lado do túmulo, através do mediunismo, vinham manifestar-se aos seus conhecidos, amigos e parentes que aqui ficaram. Os Vedas, código religioso aparecido muito antes de Jesus Cristo, afirma a existência dos Espíritos dos antepassados, que, em estado visível, acompanhavam certos brâmanes, e acrescenta que "os anacoretas e cenobitas tinham a faculdade de conversar com os mortos". O povo da China, cuja cronologia marca mais de 30.000 anos, nunca deixou de evocar os Espíritos. O missionário Huc fez referência a um grande número de experiências, que tinham por fim a comunicação dos vivos com os mortos. No Egito, os poderes sacerdotais facultavam lhes as relações com o Mundo Espiritual, embora naquele tempo as práticas tivessem caracteres misteriosos e sobrenaturais. A celebridade do Templo de Delfos, onde os Espíritos, pelos lábios das pítias proclamavam o "Deus grego", iluminando os mistérios da vida, as existências passadas e futuras, as relações da alma com o corpo, são verdades que aparecem hoje à luz do Espiritismo. Dai a inscrição que se lia no frontão desse Templo: "Conhece-te a ti mesmo". Além do Santuário de Delfos, destacavam-se o de Júpiter Amon, na Líbia; o de Marte, na Trácia; o de Vulcano, em Heliópolis; o de Esculápio; o de Isis, e muitos outros. A Bíblia salienta os poderes extraordinários dos sacerdotes faraônicos, e através dessas páginas, se desenrolam as cenas espantosas que ocorreram por ocasião da libertação dos Israelitas, fenômenos hoje catalogados e explicados racionalmente pelo Espiritismo. Ainda no Velho Testamento, grande repositório de documentos históricos, lemos a narração de fenômenos transcendentes, de previsões, sonhos, revelações, profecias, aparições e comunicações de Espíritos, tal como se produzem nos nossos dias. Além do resplendor do Sinai, fato estupendo que só pode ser resolvido pela Teoria Espírita; além das manifestações que se verificaram na vida de José, filho de Jacó, a quem os Espíritos se mostravam no seu "corpo mágico", todos os profetas maiores e menores – Samuel, Jeremias, Malaquias, Jó, Isaías, Ezequiel, Daniel –, mantinham estreitas relações com os Espíritos de várias Esdras, sob o ditado de um Espírito,reconstitui a Bíblia que se havia perdido; Sansão, poderoso médium de efeitos físicos, abala as colunas de um edifício onde se efetuava um festim e deita por terra os convivas entregues às mais detestáveis bacanais. Era tão comum entre os Israelitas as comunicações com os mortos, que até os reis não levavam seus exércitos a combater sem consultarem, primeiramente, os profetas. Saul evoca o Espírito de Samuel antes de entrar em luta contra os Filisteus, e como este não lhe respondesse "nem por sonhos", nem por outra mediunidade, vai a Endor pedir à pitonisa a manifestação daquele Espírito. Joel, arrebatado pela visão da nova aurora que começa a iluminar a Humanidade, proclama a difusão do Espírito sobre toda a carne, sem excetuar mancebos e velhos, filhos e filhas, servos e servas. No Novo Testamento, as manifestações psíquicas começaram com o anúncio do nascimento de Jesus Cristo, pelo aparecimento do Anjo Gabriel e continuaram sucessivamente desde o presépio de Belém até às contínuas aparições do Nazareno, post-mortem. Todas as páginas dos Evangelhos realçam os admiráveis fenômenos de curas, levitações, transportes, materializações e desmaterializações, aparições que denotam muito bem o plano espírita traçado pelo Mestre durante a sua passagem pelo mundo. A transfiguração no Tabor, com as aparições de Moisés e Elias, é um fato digno de nota e estudo. Os "Atos dos Apóstolos" e as "Epístolas" são livros de grande interesse pelos fenômenos psíquicos neles registrados. Os grandes escritores sagrados em todas as suas obras relatam fatos de natureza espírita, que vêm em apoio à teoria que propagamos. Santa Tereza era portentosa médium que vivia em contínuas relações com os Espíritos. Após a sua desencarnação, ela desenvolveu cinco médiuns no Convento, com quem se comunicava. Santo Agostinho, o Padre Manuel Bernardes e outros, salientam fatos dignos de atenção, pela insuspeição e seriedade de suas narrações. E seria estultícia negar esses fenômenos só pelo fato de não serem compreendidos. A missão do Espiritismo é, justamente, reunir, enumerar, catalogar esses fatos dispersos em todo o mundo como provas demonstrativas da Imortalidade. A Teoria Espírita satisfaz a todas as exigências da Ciência e da Religião. A Grande Revelação é a evolução lógica da ideia monoteísta proclamada no Sinai como a primeira etapa de um sistema teogônico que se desdobrou através do Cristianismo e aparece integralizado no Espiritismo. A Religião e a Ciência não podem cristalizar princípios; tanto uma como outra tem-se desdobrado, evoluído através dos tempos. No plano físico, a matéria radiante de William Crookes, o radium de Curie, a telegrafia de Branly e de Marconi lançaram novos fundamentos no campo da Ciência Positiva. O Espiritismo, hoje cientificamente demonstrado e sistematizado, desvenda a história do maravilhoso humano e faz reviver seu passado enraizado nas religiões iniciáticas, cujos fundadores nos dão o valor do seu testemunho para a constatação da verdade que proclamamos
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