SOBREVIVÊNCIA E LIBERTAÇÃO

SOBREVIVÊNCIA E LIBERTAÇÃO🕊️

      Os cristãos primitivos, convencidos da sobrevivência do Espírito aos despojos materiais, enfrentavam a morte cantando hinos de alegria.

      No corpo, consideravam-se encarcerados, anelando pela liberdade.

      Na limitação orgânica, sentiam-se em área estreita e sombria, desejando a luminosidade do amanhecer eterno.

      Sob a constrição da matéria, experimentavam cativeiro perturbador e, por isso mesmo, esforçavam-se para alcançar a libertação.

      Para esses cometimentos, desenvolviam os sentimentos nobres, refundiam a esperança no futuro, guardavam as reflexões em torno do amor eterno, nunca se detendo a considerar o trânsito carnal como realidade plenificadora.

      Viviam as experiências terrenas com lucidez, preservando a certeza de que, por mais se alongassem, paralisariam na interrupção do corpo através da morte, a fim de as prosseguirem noutra dimensão imperecível, compensadora.

      Face a essa convicção, jamais se atemorizavam diante da própria como da morte dos seres amados.

      Fixando a mente e os ideais na sobrevivência, viviam no mundo como alunos numa escola, como hóspedes e não como residentes fixos, aguardando que o fluxo da vida mudasse de direção...

      Martirizados ou perseguidos, recebiam a penalidade como forma de sublimação e de mais fácil ascensão à glória imortal.

      O infortúnio do exílio, a separação dos bens e da família, embora os fizessem sofrer, não os desesperavam, por confiarem no reencontro futuro e na conquista de mais valiosos tesouros de paz e auto-realização.

      O Cristianismo é doutrina de imortalidade que exalta a sobrevivência do ser, estruturado na ressurreição de Jesus, o momento glorioso do Seu ministério ímpar.

      A Idade Média porém, com as suas superstições e fanatismos, envolveu a morte em terríveis sombras, vestindo-a de pavor e de exóticas formulações.

      Exéquias demoradas, tecidos negros e roxos, ritos soturnos, cantochões deprimentes, carpideiras profissionais, cerimônias macabras davam a impressão de horror e desalento em referência à morte.

      Descambando para comportamentos monetários e realizações negociáveis, o espetáculo mortuário fez-se aparvalhante pela forma, desvirtuando o conteúdo da realidade imortalista...

      O conhecimento da sobrevivência brinda a certeza em torno da continuação da vida depois do decesso carnal, e a morte passa a ser recebida com serenidade, com alegria.

      À medida que os fatos confirmam a indestrutibilidade da vida, morrer deixa de ser tragédia, transformando-se em mecanismo que facilita o renascimento em outra esfera, no mundo espiritual.

      A sobrevivência é o coroamento da existência física, que se transforma através do fenômeno biológico da morte.

      Viva cada ser com elevação e desprendimento, treinando a libertação e, adaptando-se mentalmente, aguarde a hora feliz do retorno à Pátria de onde veio para breve aprendizagem terrestre