INSEGURANÇA E MEDO |
INSEGURANÇA E MEDO O homem é as suas memórias, o somatório das experiências que se lhe armazenam no inconsciente, estabelecendo as linhas do seu comportamento moral, social, educacional. Essas memórias constituem-lhe o que convém e o que não é licito realizar. Concorrem para a libertação ou a submissão aos códigos estabelecidos, que propõem o correto e o errado, o moral, o legal, o conveniente e o prejudicial. Em face de tais impositivos desencadeiam-se, no seu comportamento, as fobias, as ansiedades, as satisfações, o bem ou o mal-estar. Neste momento social, o medo assume avantajadas proporções, perturbando a liberdade pessoal e comunitária do indivíduo terrestre. Procurando liberar-se desse terrível algoz, as suas vítimas intentam descobrir-lhe as causas, as raízes que alimentam a sua proliferação. Todavia, essas são facilmente detectáveis. Estão constituídas pela insegurança gerada pela violência, pelo desequilíbrio em dissolução, afetividade sob ameaça, receio de serem desvelados ao público os engodos e erros praticados às escondidas, e, por fim, a presença invisível da morte... Mais importante do que pensar e repensar as causas do medo é a atitude saudável, ante uma conduta existencial tranquila, pelo fruir cada momento em plenitude, sem memória do passado – evitando o padrão atemorizante – nem preocupação com o futuro. A existência humana deve transcorrer dentro de um esquema atemporal, sem passado, sem futuro, num interminável presente. Não transfiras para depois a execução de tarefas ou decisões nenhumas. Toma a atitude natural do momento e age conforme as circunstâncias, as possibilidades. Cada instante, vive-o, totalmente, sem aguardar o que virá ou lamentar o que se foi. Descobrirás que assim agindo, sem constrições, nem pressas ou postergações, te sentirás interiormente livre, pois que somente em liberdade o medo desaparece. Não aguardes, nem busques a liberdade. Realiza-a na consciência plena, que age de forma responsável e tranquiliza os sentimentos. O medo desfigura e entorpece a realidade. Agiganta e avoluma insignificâncias, produzindo fantasmas onde apenas suspeitas se apresentam. É responsável pela ansiedade – medo de perder isto ou aquilo – sem dar-se conta que somente se perde o que se não tem, portanto, o que não faz falta. A ação consciente, prologando-se pelo fio das horas, anula o medo, por não facultar a medida do comportamento nas memórias pessoais ou sociais. Simão Pedro, por medo dos poderosos do seu tempo, negou o Amigo que o amava e a Quem amava. Judas, por medo que Ele não levasse a cabo os compromissos assumidos, vendeu o Benfeitor. Os beneficiários das mãos misericordiosas de Jesus, por medo se omitiram, quando Ele foi levado ao sublime holocausto. Pilatos, por medo, indeciso e pusilânime, lavou as mãos quanto à vida do Justo. (...)E Anás, Caifás, a turbamulta, com medo do Homem Livre, resolveram crucificá-lO, mediante o hediondo e covarde conciliábulo da própria miséria moral que os caracterizava. Ele, porém, não teve medo. Pensa e busca-O, libertando-te do medo e seguindo-O, em consciência tranquila, por cujo comportamento te sentirás pleno, em harmonia. JOANNA DE ÂNGELIS
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