Crônica e Cronista
Há coisas na vida de que não são ganhadores os que se levantam tarde, os que não têm coragem de acordar junto com os passarinhos, ao som dos primeiros cantos ou das primeiras trinadas. Quero dizer aqueles que só abrem os olhos e os ouvidos depois das sete. Claro que perdem um pouco do melhor, da boa disposição física e mental, da própria alegria do amanhecer. Falei uma vez das empregadas que vão à padaria, dos pedreiros e serventes que vão ao trabalho de bicicleta, das respeitáveis senhoras que vão às missas, dos passantes apressados que iniciam viagens. Outros valores ainda pode ser arrolado e entre eles a cor da luz solar nascente, o vento brando e gostoso, o orvalho dos jardins, a própria existência humana que, de manhã, é mais interessante.
Mas o que quero mesmo dizer é de um programa educativo que a Globo vem fazendo, pela Fundação Roberto Marinho, todas as manhãs, de segunda a sexta, durante meia hora, antes do Bom Dia Brasil, também bastante direto e instrutivo. Falo das aulas destinadas aos alunos do segundo grau, de diversas matérias, um primor de didática, tudo preparado por gente que sabe onde está e anda o nariz. Um dinamismo que dá gosto! Cores, movimentos, sons, repetições bem feitas que não permitem ao espectador deixar de aprender. Neste ponto, a televisão tem seu melhor papel, a utilidade pública que lava todos os pecados dos horários enlatados e alienizantes. Geografia, História, Ciências, Educação, Língua Portuguesa, Literatura, excelente elenco de conhecimentos.
De Literatura, por exemplo, a Globo apresenta o que há de mais prático e convincente. Costumo até dizer aos meus companheiros de café, que saem depressa para o colégio, que uma aula preparada para o vídeo vale por algumas que um sofrido professor prepara para o esforço ao vivo, pois nunca seus recursos poderão comparar aos de que a televisão dispõe. Livros e autores, paisagens e costumes, sentimentos e gestos, tudo no melhor colorido, passa como um desfile maravilhoso em roupa de gala e luxo, prazerosamente limpinho e enxuto. Atores e declamadores profissionais, bem ensaiados, não deixam os textos em prejuízo de uma vírgula sequer.
Ainda nesta semana, o que passou sobre a experiência de Rubem Braga no jornalismo e na crônica não tem similar. Seu famoso escrito de mais de vinte anos – uma carta ao prefeito do Rio de Janeiro – foi uma delícia, o que até hoje pude ver de melhor em metodologia de redação. Alguns minutos que valem por uma vida de estudos. Como a apresentação do Rio de Janeiro formou um cenário inimitável para a ordem da escrita! A beleza, a pressa, a violência, o romantismo e a malícia do carioca deram a Rubem Braga as condições de deslizar no texto como quem mergulha ou nada em águas translúcidas, sem esconder qualquer mistério. Sendo viva, a crônica tem de espelhar a realidade, o cotidiano, aquele ângulo de visão que o leitor sempre acha que poderia ter sido escrito por ele. Uma espécie de ponto de vista comum, feito naturalmente com arte e bom gosto. Como fez e faz Rubem Braga sempre!
Assim, dois convites, minha senhora. Levantar cedo, observar e... quem sabe, redigir o mais alegre do nosso viver!