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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
          maior em número de alunos da América Latina. Foi responsável pela
          transformação da face cultural da cidade que se tornou, desde a déca-
          da de 80 do século XX, “a cidade da arte e da cultura”. De lá saíram,
          prontos, grandes instrumentistas, cantores notáveis, verdadeiros vir-
          tuoses da música. Concursos de piano foram vencidos em todo Brasil,
          por alunos de D. Marina, em nome deste Conservatório. Seu carisma
          e força trouxeram à cidade, ainda provinciana, nomes notáveis, na-
          cionais e internacionais, para audições, recitais, espetáculos, aulas e
          cursos, um benefício incalculável. Guardo lembranças de momentos
          marcantes na construção dessa musicalidade. Para ilustrar o dito apre-
          sento um exemplo.

               Ainda nos primórdios do Conservatório, D. Marina trouxera à
          cidade um quarteto de cordas, música de Câmara de grande impor-
          tância no cenário nacional. A apresentação foi no antigo auditório do
          Colégio Imaculada Conceição. Estava lotado e o quarteto começou a
          execução suave e encadeada da música clássica, mas as pessoas conver-
          savam, percebia-se que a beleza do evento não alcançava a sensibilida-
          de do público. O quarteto tocava e os espectadores continuavam con-
          versando. Aos olhos e ouvidos esteticamente apurados, aquilo era um
          insulto. Então nós vimos D. Marina, que a duras penas, conseguira
          presentear Montes Claros com a presença daquele espetáculo ímpar,
          levantar-se da cadeira e pedir aos músicos uma pausa. Com lágrimas
          nos olhos, mas com firmeza, exigiu a atenção de todos para aquele
          comportamento inadequado e muito emocionada, explicou o valor e
          a beleza daquela execução. Mostrou, de forma didática que, diante da
          arte, diante da grande música, é necessário uma atitude de respeito, de
          atenção e silêncio, pois a verdadeira arte é o que” nos concede o poder
          de elevar os olhos”. Eu, que a tudo assistia e cujo valor já compreen-
          dia, tentei disfarçar a emoção, mas não consegui reter as lágrimas que
          me saltavam dos olhos. Mais emocionada fiquei, quando um silêncio
          total e definitivo se fez e aqueles sons clássicos dominaram a atmosfe-
          ra,  plenos da mais genuína musicalidade. Ao final notei que todos se
          retiraram engrandecidos.
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