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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
bro-me que pessoas de Pai Pedro ligavam atônitas para a rádio: “mas
como é que é isso?”, perguntavam desesperadas. “Só Serranópolis
conseguiu?”.
O que aconteceu no resto daquela noite, em 1995, só é possível
supor através de um exercício de imaginação, mas o fato é que no
dia seguinte, pela manhã, os dois outros distritos haviam conseguido
aprovar suas emancipações, mesmo sem atingir o quorum necessário
previsto pela lei. A pessoa que poderia explicar o acontecido, Doutor
Binha, com quem eu tive a honra de conviver e que era advogado da
prefeitura de Porteirinha, foi assassinado na frente do Fórum de Por-
teirinha no ano seguinte. O fato é que Pai Pedro e Nova Porteirinha
puderam fazer suas festas também.
Eu tenho uma teoria para o acontecido. Em minha opinião o
famoso “jeitinho brasileiro” pode, muito bem, ter sido o responsável
por esse feito. Serranópolis e Pai Pedro se equivaliam na época. Ti-
nham mais ou menos a mesma população e os mesmos indicadores
econômicos e sociais. Nova Porteirinha, no entanto, era o mais prós-
pero dos três distritos. Era mais rico e mais desenvolvido, pois parte
do projeto Gorutuba de irrigação fica em seu território e, portanto,
era dada como certa a sua emancipação.
Diante dessa informação é que o fato de Serranópolis ter con-
seguido em detrimento, principalmente de Nova Porteirinha, é que
essa solução pode ter sido dada e os três distritos foram emancipados.
Ainda nessa linha de raciocínio é possível dizer que se não fosse pelo
esforço dos homens envolvidos com a emancipação de Serranópolis,
desde meu pai que deu conta que era necessário um número mínimo
de eleitores, até os aqueles que disponibilizaram seus carros e seus
esforços para buscar os eleitores, nenhum dos três distritos teria ascen-
dido à condição de cidade.
Os votos favoráveis a emancipação foram esmagadores no ple-
biscito. Foram 1319 votos no “Sim” e apenas 98 no “Não”. No dia
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