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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
               Ao cabo de algumas semanas as casas estavam erguidas, e Ser-
          ranópolis, que já dispunha do número mínimo de moradores, agora
          também tinha as quatrocentas moradias exigidas pela lei. Tudo estava
          caminhando muito bem.
               Desta vez, ao contrário de outros anos, houve muito interesse
          do então prefeito de Porteirinha, José Aparecido Martins, o Zé Boni-
          tinho, em colaborar com a emancipação. A prefeitura da antiga capi-
          tal mineira do algodão, inclusive, contribuiu com cinco mil tijolos e
          vinte sacos de cimento para o mutirão.
               Pelas exigências da lei era preciso fazer um mapa com a locali-
          zação das moradias. Esse trabalho coube a meu pai que, apesar de não
          ser cartógrafo, fez um bom trabalho, elogiado, inclusive, por Zé Boni-
          tinho. O ex-prefeito disse, quando examinava os papéis, que nem iria
          conferir o mapa, pois já que fora Almir que o fizera, com certeza es-
          tava correto. E este foi um trabalho detalhista, pois além de desenhar
          o mapa era preciso especificar os moradores de cada uma das casas.

               Com todos os trâmites legais cumpridos foi marcado um ple-
          biscito. A população do distrito de Serranópolis seria ouvida. As op-
          ções nessa eleição eram “sim” e “não”. A população iria decidir se que-
          ria que o distrito se tornasse uma cidade ou se continuaria sendo um
          distrito. No mesmo dia, outros dois distritos de Porteirinha também
          realizariam o referendo público, Nova Porteirinha e Pai Pedro.

               Quando a data estabelecida chegou o plebiscito mobilizou a po-
          pulação. Um novo desafio aguardava os serranopolitanos que, naquela
          manhã, nem desconfiavam do imenso esforço que os aguardavam. A
          não obrigatoriedade do voto levou um número reduzido de eleitores à
          votação. Sandoval Coelho, no dia do plebiscito, mandou abater uma
          vaca e dois carneiros, e pessoas do distrito organizaram um desjejum
          para os eleitores que, muitas vezes, saíam de localidades rurais distan-
          tes de Serranópolis para atender ao chamado da cidadania.
               Quando restavam duas horas para o fim da votação um fato
          decisivo mudou a história. Meu pai, Almir Alves, que nesse momento

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