Hermes de Paula, um trabalhador

Wanderlino Arruda

Trabalho significa só pegar no pesado, ter as mãos calejadas? Trabalho é suar, cansar-se fisicamente, dormir à noite moído de dores em todo o corpo? Ou trabalho é o exercício continuado de uma ou de múltiplas atividades, esteja ou não desenvolvido para ganhar o pão de cada dia? Trabalho pode ser também a aplicação apaixonada do bem e do amor? Pode ser busca estética, busca de beleza, de cultura, esforço mental em benefício da coletividade ou do próprio trabalhador? Sempre achei que sim. Trabalho é a produção do progresso pessoal e coletivo, aprimoramento da boa vontade em direção ao semelhante, ação física ou mental sem fronteira de tempo ou de espaço. Trabalho é modo de fazer a independência da virtude frente às coisas erradas que acontecem no mundo. Trabalhar é o realmente viver a alegria de estar sempre fazendo algo proveitoso e digno de admiração pela utilidade ou pela beleza.

Levados em conta todos esses considerandos, Hermes de Paula deixou-nos a todos com imensa saudade depois de ter desenvolvido uma estafante vida de trabalho. Trabalho de todos os dias - todos mesmo - até o seu último, na sexta-feira, dia 10 de junho de 1983, um dia antes da comemoração do “Dia da Raça”, da nossa lusíada raça, cadinho de miscigenação de tantas outras.

Foi Hermes de Paula um artista do trabalho amoroso à terra e ao povo, menestrel de todas as canções, poeta e trovador das boas causas, intelectual valorizador do melhor que podem realizar as lembranças do passado montes-clarense, remoto e recente. Hermes de Paula respirou e viveu sempre a cidade de Montes Claros, historiou-a e engrandeceu-a com todas as luzes do seu coração. Inteligente e lúcido, de memória invejável e invejada, interessado e perspicaz na observação dos fatos mais simples, , além de escrever, viveu a história, puxou-a, induziu-a num hino de encantamento. Foi um homem engajado ao seu tempo, um trabalhador no sentido mais amplo.

Como homem sem riquezas, existência mais de poesia que de finanças, viveu sempre dependente do esforço pessoal aplicado ao ganho de todos os dias. Dedicado, consciente, estudioso, sempre procurou as vantagens da satisfação numa sincera prestação de serviços. Viver feliz foi sempre sua meta principal. Disso dependia sua constante socialização de uma ponderada alegria, um eloqüente contentamento, tudo muito bem distribuído a todos que lhe ficavam ao redor.

Hermes, um homem de bem, um homem do amor! Merece a nossa maior consideração neste ano em que comemoramos o seu Centenário de Nascimento.

Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros