O
circo e a felicidade
Wanderlino
Arruda
Não
fui menino que entrasse de graça
nos circos.
Não tinha jeito de correr atrás
do palhaço,
gritando a propaganda para ganhar a
entrada.
Também não tinha coragem
de entrar por baixo do pano, escondido
como faziam os colegas da escola e da
rua.
Meu pai tinha sempre que pagar meus
ingressos,
quando eu não conseguia ganhar
dinheiro
vendendo coisas na feira...
No
circo, com ingresso pago,
eu entrava sempre de roupa limpa
bem engomada por minha mãe,
sapatos limpos e bem brilhando,
cabelos de glostora ou de brilhantina,
levando a melhor cadeira de nossa sala-de-visita.
Menino que entrasse sujo e descalço,
quase sempre tinha que ajudar o palhaço,
ou mesmo servir de amarra-cachorro
nos momentos de intervalos.
E como fazer isso, à vista das
namoradas?
Há
pouco tempo, fui, em Mirabela,
a um circo pobrezinho,
de lona quase caindo em pedaços,
um chão poeirento de fazer dó,
arquibancadas velhas como o vendedor
de ingresso.
A trapezista e o equilibrista, coitados,
a gente não sabia se admirava
ou tinha pena...
Parecia até estória do
circo do Adauto Freire,
a história de um circo que acabou
em Bocaiúva,
que ele contava com muita graça!
O
circo, uma coisa gostosa,
quanta saudade renova na gente!
O que estava em Mirabela também
era um circo!
Era um circo e tinha palhaço!
Um palhaço, mesmo descalço
como o daquele circo,
representa um mundo de fantasias,
um maravilhoso elenco de gestos e trejeitos,
uma poesia eterna de um doce sofrimento
que, mesmo para o desprezados,
fazem da vida um alegre motivo de viver!
Um
palhaço, sabendo ganhar, sabendo
perder,
sempre com esportiva e bem conformado,
é o que mais representa o circo,
é um pouco de tudo que todos
nós deveríamos ser,
talvez como a única maneira que
poderíamos agir
para nunca deixarmos de ser felizes...
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