Pássaro amigo, de Afonso Prates Borba
“A vida é um contínuo exercício do aprender.
A cada dia descobrimos novos valores, descortinam-se se aos nossos olhos novos horizontes”.
Afonso Prates Borba
Concordo plenamente com Mário Quintana, quando ele diz que só as crianças e os velhos conhecem a volúpia de viver dia a dia, hora a hora, em um formular de desejos com quase sempre a duração de pouco e pobres minutos. O normal é o preocupar-se com a sobrevivência, a labuta profissional, os amores na família, o aprender aqui e ali das coisas que nos podem fazer ou deixar felizes. Afinal, viver é lutar, porque como disse Gonçalves Dias, “A vida é combate,/ que os fracos abate,/ que os fortes, os bravos / só pode exaltar!". Sempre assim...
É de uma alegria imensa os momentos que me encontro com o amigo Afonso Prates Borba, autor deste PÁSSARO AMIGO, livro de crônicas em louvor à vida e aplausos ao viver e conviver. Vejo e revejo Afonso como se estivesse ainda atrás dos balcões da Imperial – Lojas Reunidas, esquina das Ruas Quinze e Camilo Prates, Joaquim Correia e D. Mercês, proprietários; Chamone, gerente; vários rapazes, Violeta e Elza, colegas de trabalho, Juca Prates, observador e conselheiro. Vejo Afonso, pouco mais de adolescente, como companheiro e amigo, amizade que tempo nenhum pode desfazer. Quase tão alto como ainda o é, sempre representou o bom senso, a inteligência, o bom caráter e um grande respeito a tudo que é ético e aconselhável para uma vida normal. De fácil diálogo, era sincero e fraterno com todos, colegas ou clientes. Nosso júbilo maior era ver as meninas do Colégio Imaculada passando na rua com uniformes limpíssimos, principalmente nos dias de desfiles, quando elas jogavam olhares para trás, sorrindo e nos vendo. Um momento verdadeiramente inesquecível foi quando – literalmente deslumbrados – vimos Helena Neto saindo do provador de roupas, ela a mais perfeita personificação de beleza e juventude, encanto só comparável com o da pouco mais que menina, Cibele Veloso Milo, a moça mais linda dos concursos de misses.
A vida continua, a fila anda, encontro e reencontro o amigo Afonso Prates Borba nos bancos de escola, no cartório de Camilo Prates, nas manhãs da Praça de Esportes. Grande e notável datilógrafo, excelente redator, moço mais do que organizado e responsável. Vejo Afonso já casado com Wanda, já pai de Aline, Elaine, Afonso e Gilberto, já aposentado e fazendeiro, já presente nos jornais em textos políticos, em temas da região, clamando e reclamando pela assistência dos governos. Em paz pela forma de ser e viver, nunca em paz, porque sabe que as coisas sempre podem melhorar. Afonso foi dos primeiros escritores que convidei para a fundação do Instituto Histórico e Geográfico, mas que acabou não fazendo parte da lista, porque não quis. Reconheceu-se honrado e agradecido, porém pedindo para não se filiar. Sua aceitação literária veio mais tarde, com a posse na Academia Montesclarense de Letras, de cujas reuniões sempre fez questão de participar, ativa e elegantemente. Com visível competência, serve de parâmetro para muitos intelectuais, mesmo os mais proeminentes das nossas letras.
Neste PÁSSARO AMIGO, as crônicas de Afonso Prates Borba se destacam pela fluência, pela delicadeza de conceitos, pelo registro de valores agradáveis ao tempo e ao espaço de nossas vivências tão mineiramente mineiras. De início ao fim, Afonso fala de pessoas, do modo de ser das pessoas, das gentes, das suas gentes com seus costumes; fala das histórias e dos acontecimentos, da justiça, da lei, da fé, das viagens, dos momentos de saudades, dos tempos de plantar e de colher. Feliz, muito feliz por mil razões, não silencia os conceitos de dor e até do inconformismo com as tessituras de sofrimento, imposição da própria existência, sua e dos mais próximos. Mesmo sabendo de não ser justo um maktub, mesmo sabendo que a existência é composta de trilhas e não de trilhos, é preciso reconhecer que o doce e o amargo acabam acontecendo. No seu livro – um tanto de memórias, muito de confessional - a lista de assuntos se apresenta rica, muito rica, riquíssima, prenhe de alegres e tristes lembranças, tanto no plano pessoal como no entorno da vida. Tudo muito representativo, em conteúdo que valoriza o contato intelectual e encaminha o leitor para um melhor conhecimento da nossa região. É um hino de amor ao jeito mineiro, muito do que somos e do que pensamos. Vale a mais atenta leitura!
Meus votos do mais vibrante sucesso, estimado amigo Afonso Prates Borba, confrade e companheiro! Como bem disse Tati Bernardi, a beleza está na essência do bom caráter. Nosso lado positivo expande-se quando temos sonhos, quando acreditarmos na utopia. Com toda certeza, viver é lutar. E combater o bom combate!
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