KARLA CELENE CAMPOS E “HIBISCOS MOLHADOS”
Vejo-me, na apresentação de “Hibiscos Molhados”, como um acendedor de madrugadas, um libertador de belezas, um otimizador de primaveras, a um tempo só cronista e poeta, lúcido e em êxtase, muito espiritualmente acordado para dizer que esta é uma hora marcante de dourada e acadêmica alegria. E que bom para mim, porque assim desempenho um papel de introdutor e de testemunha num dos mais destacados momentos, ato de muito agradecer a Deus esta Karla que, desde a infância, sabe desnudar e vestir cores e sons, prismas e músicas, ritmos e tempos, mundos de visões e de sonhos, tudo nem sempre permitidos à normalidade de humanos mortais. Karla antevê e vê deslumbrantes rasgos de vidas, panoramas lúdicos só possíveis a quem, de cima dos horizontes poéticos, vislumbra matizes e sabe muito de ventos e brisas.
Missionária, predestinada e mágica, é arquiteta e operária de mais do que dizem dicionários e textos. Graduada em Letras pela Unimontes, jornalista pela UNI-BH, pós-graduada em Língua e Literaturas Brasileira e Espanhola pela PUC-Minas, cursos em Salamanca, mestra de muitos magistérios, poeta e cronista vencedora de dezenas de concursos, mereceu, com todo louvor, o destaque 2004 do Salão Nacional Psiu Poético. No dizer de Maria Luíza Silveira Teles, que também viveu infância e adolescência no Brejo das Almas, Karla - quem sabe pelos ares brejeiros tocados por tempestades de inspiração - edifica poemas desde que aprendeu a escrever.
Inteligente, profética, conspiradora de belezas, é e tem a majestade do imprevisível na tessitura moderna do mundo da comunicação e da expressão linguística. Menina sempre, tem a simplicidade vocabular dos que entendem das coisas. Sabe, como mestra, registrar costumes, repintar entusiasmos, dignificar gestos e jeitos, musicalizar todas as energias que a Criação Divina colocou no mineiríssimo gosto de nossa gente. Karla é uma geminiana mais do que versátil e exerce suas atividades sempre com muito prazer. Faz várias coisas ao mesmo tempo, principalmente quando estas coincidem com a sua filosofia e cultura. Insaciável para saber, de tudo saber, tem na fala e na leitura constantes perguntas. Fascinante no dom da palavra, sua conversa é ágil e estimulante, tanta eloquência que deixa a impressão de domínio completo em muitos campos do conhecimento.
Intelectual sempre, acomodada nunca! Importantíssimo que Karla tenha tirado da gaveta as páginas que lá envelheciam e ali trancado a própria modéstia, para nada impedir a publicação dos seus livros. Sabe que a vida tem prosseguimentos e que, para ser interessante, nem precisa de históricos acontecimentos, grandes glórias ou tragédias grandes. Basta ser como é, aura pura de amizades e considerações. Mesmo passando depressa demais, a vida é sempre ótima, ponta de partida e ponto de chegada. Melhor ainda quando em cada manhã um poema novo, cada hora como fruta madura ao alcance das mãos. Mais do que tudo, os versos lindos de Karla são sentimentos de amor à vida: Orquestra de insetos do mato “Sou o cio! Agora sou caminho Chegadas e partidas. Sou estrela. Sou abismos, precipícios, sou meio, sou inteira. Sou metade. Sou avesso Sou tarde e Amanheço”.
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